Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
MINHA QUERIDA DAMA DA NOITE
Gladyston costa


Comum em cidades barroquistas por ai a fora, ladeiras com piso de pedra são uma marca. Lá em cima sempre uma igreja, aqui mais para baixo sempre algum pecado. A marcar cada pedra, os pés na procissão seguem ladeira acima em busca de salvar as almas de seus donos com seus cânticos e orações, pois por serem de carne e osso são atormentados por pecados capitais, a luxuria, ah essa luxuria! Meus pés de criança em certo momento no passado, movidos por curiosa atenção ia logo atrás do cortejo em marcha muito lenta e olhos atentos, houvesse um caixão logo à frente seria como um típico enterro desses de interior. As casas antigas perfiladas nos dois lados da rua, com suas portas e janelas compridas, tinham paredes que de tão antigas remetiam o pensamento aos mortos de longa data; onde estariam suas almas? Procissões ao fim da tarde como as que aconteciam na semana santa eram sempre muito comuns, nestas as pessoas caminhavam ladeira acima e o sino da igreja lá no alto anunciava a hora da “ave Maria”, sempre às seis, sempre à luz quase de vela, de um sol escondido atrás dos montes. Sim, a luxúria! Aquele pecado cujos pés carregavam corpos ladeira acima em busca do perdão, corpos possuídos por libido a entorpecer almas e cegar os olhos. Desejos ocultos que ardem no corpo. A Ave Maria anunciada no badalar dos sinos também anunciava a hora da dama da noite, aquela cujos pecados haveria de um dia ser confessado junto ao espírito santo. O perfume dessa dama era doce e profundo e sempre se expunha ao anoitecer quando se despia de seu delicado vestido branco, a noite todos os demônios saem de suas tocas. E das fissuras das paredes das casas perfiladas, tais demônios se materializavam em pequenos répteis a percorrerem verticalmente essas taipas. Mente e olhos de criança em uma inocência de anjo, dizem que crianças são anjos na terra! Lagartixas, bichos de hábitos noturnos que atendendo ao chamado dos sinos brotavam das fissuras e se confundiam com o perfume doce e profundo dessa dama tão cobiçada. Crianças como anjos, cabeça de moleque pequeno cujos pés curiosos sempre subiam a ladeira ao entardecer. “Por muito tempo achei que o doce perfume provinha desses repteis”. O tempo passou como sempre passa, e a confusão foi desfeita, nossa dama da noite tem nome, minha linda Cestrum nocturnum... O seu perfume é só seu. Quanto aos pecados, os joelhos dos ascéticos postos aos pés do confessionário sempre darão ao corpo o direito de pecar e ser perdoado e à alma o acesso ao paraíso eterno. Pois, como disse Gregório de Mattos, braços abertos, cravados na cruz e olhos eclipsados que vertem sangue estão despertos para perdoar e se fecham por não condenar.
Gladyston Costa
Comum em cidades barroquistas por ai a fora, ladeiras com piso de pedra são uma marca. Lá em cima sempre uma igreja, aqui mais para baixo sempre algum pecado. A marcar cada pedra, os pés na procissão seguem ladeira acima em busca de salvar as almas de seus donos com seus cânticos e orações, pois por serem de carne e osso são atormentados por pecados capitais, a luxuria, ah essa luxuria! Meus pés de criança em certo momento no passado, movidos por curiosa atenção ia logo atrás do cortejo em marcha muito lenta e olhos atentos, houvesse um caixão logo à frente seria como um típico enterro desses de interior. As casas antigas perfiladas nos dois lados da rua, com suas portas e janelas compridas, tinham paredes que de tão antigas remetiam o pensamento aos mortos de longa data; onde estariam suas almas? Procissões ao fim da tarde como as que aconteciam na semana santa eram sempre muito comuns, nestas as pessoas caminhavam ladeira acima e o sino da igreja lá no alto anunciava a hora da “ave Maria”, sempre às seis, sempre à luz quase de vela, de um sol escondido atrás dos montes. Sim, a luxúria! Aquele pecado cujos pés carregavam corpos ladeira acima em busca do perdão, corpos possuídos por libido a entorpecer almas e cegar os olhos. Desejos ocultos que ardem no corpo. A Ave Maria anunciada no badalar dos sinos também anunciava a hora da dama da noite, aquela cujos pecados haveria de um dia ser confessado junto ao espírito santo. O perfume dessa dama era doce e profundo e sempre se expunha ao anoitecer quando se despia de seu delicado vestido branco, a noite todos os demônios saem de suas tocas. E das fissuras das paredes das casas perfiladas, tais demônios se materializavam em pequenos répteis a percorrerem verticalmente essas taipas. Mente e olhos de criança em uma inocência de anjo, dizem que crianças são anjos na terra! Lagartixas, bichos de hábitos noturnos que atendendo ao chamado dos sinos brotavam das fissuras e se confundiam com o perfume doce e profundo dessa dama tão cobiçada. Crianças como anjos, cabeça de moleque pequeno cujos pés curiosos sempre subiam a ladeira ao entardecer. “Por muito tempo achei que o doce perfume provinha desses repteis”. O tempo passou como sempre passa, e a confusão foi desfeita, nossa dama da noite tem nome, minha linda Cestrum nocturnum... O seu perfume é só seu. Quanto aos pecados, os joelhos dos ascéticos postos aos pés do confessionário sempre darão ao corpo o direito de pecar e ser perdoado e à alma o acesso ao paraíso eterno. Pois, como disse Gregório de Mattos, braços abertos, cravados na cruz e olhos eclipsados que vertem sangue estão despertos para perdoar e se fecham por não condenar.
Gladyston Costa


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 61642


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Coisas e luz Gladyston costa
Crônicas Na janela, a floreira. Gladyston costa
Crônicas Como foi? Foi um sonho meio doido Gladyston costa
Poesias Quase Lua Gladyston costa
Poesias A curruira e o dente de leão Gladyston costa
Poesias O galo e a cidade Gladyston costa
Romance ''Desejo" Gladyston costa
Poesias Uma vida só Gladyston costa
Poesias Novamente o outono Gladyston costa
Poesias Olhos de Vapor Gladyston costa

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 21 até 30 de um total de 48.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Você acredita em Milagres? - Keiti Matsubara 62529 Visitas
MEDUSA - Lívia Santana 62514 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 62495 Visitas
Entrega - Maria Julia pontes 62485 Visitas
O Velho - Luiz Paulo Santana 62475 Visitas
Parada para Pensar - Nilton Salvador 62471 Visitas
A Voz dos Poetas - R. Roldan-Roldan 62469 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 62460 Visitas
Faça alguém feliz - 62448 Visitas
SIGA TEU CORAÇÃO, MARIANE - Orlando Batista dos Santos 62443 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última