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Novamente o outono
Gladyston costa

Novamente o outono

Findo o verão, denuncia o equinócio, lá vem chegando o outono... Momento em que noite e dia dialogam com equidade. Da janela da sala, metros acima do asfalto, onde carros passam resmungando, vejo folhas amareladas caindo das árvores sem pressa. Segue incólume o agito da cidade com seus carros e pessoas numa dança frenética e uniforme. Em sua primeira trajetória de outono, depois de tantas outras, o sol desliza sobre a cidade alheio à lógica linear que movimenta os desejos materiais estampados nas vitrines. A cidade corre numa velocidade frenética, onde máquinas e corpos se misturam, onde os desejos são cegos e as palavras monólogos. Em sua parábola discreta, o sol anuncia mais um equinócio, há mais folhas sobre o asfalto, sobre as calçadas, mas os passos dos que passam seguem uma única direção. A direção imposta pelos afazeres do dia a dia, das contas a pagar, dos desejos de comprar, das reuniões... O mercado impõe a sua condição. Alheio ao rosnado ensandecido da maquina cidade, as folhas caem mais uma vez neste início de outono e o sol, agora mais inclinado do que na véspera, desliza em sua parábola no seu próprio ritmo. Vai longe o tempo em que cada equinócio (ou solstício) era comemorado, reverenciado com músicas e danças, sentido como o sentido da própria vida. Vem à mente o som de tambores, cordas e sopros numa música mágica como um mantra a conduzir desejos e esperanças. O início e o fim da colheita do alimento que nutre o corpo e a alma, o tempo do sol que conecta a vida ao tempo que é próprio dela, das estações do ano, da alternância entre dias e noites, do fruto que emerge das flores e das folhas que caem no fim do ciclo. Descansa o verão após as águas de março e é chegado o outono, como sempre chegou, sem pedir licença, alheio ao ritmo da cidade. Mesmo com a ausência de percepção do homem máquina, as estações do ano se alternam. O deus sol, e tantos outros, são intangíveis à ciência e são os deuses da sensibilidade. Aqueles que permitem perceber e sentir a suavidade da dança das cores entre as estações. Contam-se muitas histórias sobre esses deuses, da Grécia antiga às tribos indígenas por todo o mundo. A energia que movimenta o mundo e o faz tão belo e misterioso. Já o bicho homem com seus passos apressados, o Homo urbanus, em sua linearidade racional e material segue seu curso aprisionado em si mesmo. Seu tempo é medido pelos ponteiros do relógio. Hoje o seu deus é material, é o mercado, cobra um custo alto para ser alcançado e precifica o tempo. Para esse deus mercado não há sentido em perceber e sentir aquilo que o dinheiro não pode comprar. O que não tem preço, não tem valor. Os ciclos da vida não são mensuráveis pela lógica científica do mercado. Ah sim, o tempo! Não é possível comprá-lo. Vejo da janela as folhas caindo, flutuam sem pressa e com suavidade, logo serão folhas novamente. Não importa o ruído da cidade, os passos apressados e o tempo encarcerado nos ponteiros do relógio, sempre haverá outonos
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Gladyston Costa


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