Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Antes De Conhecer meu Coração
Wellington Almeida

Resumo:
Antes de conhecer meu coração é uma releitura do conto '' Antes de conhecer você''. Espero que gostem.

Click! O som da caneta me traz de volta ao presente. Um rapaz em minha frente sentado confortavelmente na poltrona prepara-se para encher-me de perguntas e encher o meu saco, obviamente.

Durante um dia no mês a cada dois meses, um médico contratado pela clínica senta-se na mesma poltrona e me faz perguntas que eu devo responder sinceramente e com a maior paciência possível. Desta vez, o médico é outro. É um rapaz aparentemente jovem demais, eu acho. O típico médico que exala confiança e determinação, apesar de aparentar ter no máximo uns vinte e dois anos.

O novo médico é estrangeiro. Não sei bem sua nacionalidade. Mas fala o meu idioma perfeitamente. Fluentemente. Seus olhos são castanho-escuro, bem arrastado para a cor preta.

Sua pele é morena. Um tom perfeito de quem vive se bronzeando.

Ele veste calça jeans e tênis ornando com sua camiseta preta. Um médico com estilo.
Ao entrar na sala, sua maleta abre e vários de seus pertences caem no chão enquanto nos olhamos.

Alguns objetos em destaque me chama a atenção.
É meio brilhante e é preto. Há um chicote e uma máscara preta, juntamente com uma cueca Box preta. Com certeza esses itens fazem parte de uma festinha particular dele e de sua esposa, muito embora seja novo de mais para estar casado. Ele se abaixa vergonhosamente pegando suas coisas sem jeito e os enfia dentro da maleta que se abre novamente, mas desta vez ele conseguiu fechá-la antes de tudo desabar no chão outra vez.

– Podemos começar? – perguntou ele.
Balancei a cabeça de leve, concordando.

– Seu nome? – ele pergunta, arrumando a armação de seus óculos. Seu cabelo liso desajeitado tira-me do real por alguns segundos. Ele é gato!

Minhas sobrancelhas se erguem e eu o observo como se estivéssemos em um cabo de guerra invisível e visual. Quem soltasse primeiro era o perdedor. Ele, por fim, desiste.

– É claro que eu sei seu nome, mas queria ouvir você mesma pronunciar. De modo que você pudesse deixar eu conhece-la um pouco mais. – ele espera um retorno, talvez o meu nome.

Fico olhando-o como se ele não tivesse feito pergunta alguma.

– Ok, então eu digo o meu primeiro – ele estende a mão. Visualizo-a e descubro que ele possui belas mãos. Os traços são fortes e as veias proeminentes. Eu estendo a minha e aperto a sua. Descubro que sua pele é macia. – Prazer, meu nome é Joshua Patrick, mas pode me chamar apenas de Josh. Sou seu novo médico.

Dou de ombros para a apresentação. Mas não entendi o motivo de ele dizer: sou seu novo médico. Ao invés de apenas: sou o novo médico. Percebo que nossas mãos estão entrelaçadas por um tempo longo demais. Solto minha mão. Sua mão é quente. E forte. Algo dentro de mim se remexe e percebo que meu estômago esta prestes a sair correndo dali. Eu não entendo o porquê do nervosismo que sinto.

– Meu nome é Evelise... Mas pode me chamar de Lis. Não gosto muito do meu nome, por isso se puder me chame apenas de Lis.

Ele olha-me meio confuso, mas dá de ombros e continua a consulta.

– Ok, Lis. Como você preferir. – Sim, seus olhos são psicóticos e incrivelmente lindos. Ele me responde intenso demais. Como se ele pudesse ler meus pensamentos, ver minha alma com seus olhos penetrantes e misteriosos. Senti-me um pouco exposta demais.

– Evelise... hã... Lis? Você se perdeu em pensamentos? O que você estava pensando? – ele olhava-me com pressa como se estivesse prendendo a respiração e dependesse da minha resposta para poder voltar a respirar. Sendo o profissional exemplar que com certeza ele era, Joshua ficou esperando minha resposta pacientemente. Mas infelizmente meu cérebro não cooperou da mesma maneira que minha boca o fez.

Prendo-me em seus olhos novamente: eles são de um castanho quase preto que brilham á luz do dia como se estivéssemos na mais completa escuridão. Prendo-me a esse detalhe durante poucos segundos, depois sua pergunta me traz novamente de volta, ele esperando.

– Eu estava pensando no quanto seus olhos são... – hesitei um pouco, perdida. Não, Evelise! Concentre-se, mude o rumo, não responda isso! Então, respondi de uma vez. – Verdadeiros.

– Verdadeiros? – perguntou ele, intrigado. Suas sobrancelhas ergueram-se, impacientes.

– E intensos. – Concluo, desejando que alguém pudesse frear a louca que disse isso. Mas percebo que a louca no caso sou eu.

– Obrigado. – Responde Joshua, constrangido e aparentemente aliviado. Seus olhos buscam os meus, diferente desta vez, mas desviei o olhar assim que pude – Muito bem. Próxima pergunta.

– Pode mandar. – Eu disse casualmente.

Joshua folheava cuidadosamente alguns papéis em sua pasta, talvez procurando mais anotações que fizera para usar nesta consulta. Em cima da mesinha de vidro á minha frente está um lápis, eu o pego e começo a morder levemente sua pontinha por puro hábito. Isso me ajuda a conter os nervos e de quebra deixa minhas unhas intactas.

Imediatamente Josh levanta os olhos em minha direção e algo parece incomodá-lo, como se eu o estivesse machucando apenas com o olhar. Ou, talvez, como se fosse mudar simplesmente de posição por estar sentado na mesma faz um tempo.

Josh inclinou-se para mim como se fosse me dizer um segredo que tivesse que ser falado o mais baixo possível.

– Eu estou tentando me conter, não infringir as regras, mas você está me deixando sem opções. Controle-se um pouco, Senhorita Evelise. – Josh me disse, rispidamente. Seus olhos agora estavam intensos como da primeira vez que eu os vi perturbado, mas agora havia algo diferente. Eles estavam... Perigosos. Isso mesmo! Perigosos. Por puro instinto algo me dizia para sair dali, mas tinha alguma coisa que me impedia de me afastar completamente dele.

Josh voltou a sentar-se normalmente na poltrona. Sua expressão era de desculpas. Tinha exposto o que deveria esconder.

Olhei rapidamente pela janela, nuvens pesadas formavam um céu escuro.

– Você acredita em destino, Lis? – perguntou Josh, curioso. Surpreendi-me com sua pergunta.
Ela não era esperada. Na verdade, essa pergunta soou estranha no contexto em que estamos.

Pensei por um minuto, ou melhor, tentei pensar em alguma resposta que fosse fazer algum sentido ao menos para mim.

– Sim. Eu acredito no destino. – E eu realmente
acreditava. Não existem explicações para certas coisas.

Ele pareceu se divertir com minha resposta, talvez uma piada particular.

– Me dê um motivo para eu acreditar também. As coisas acontecem porque nós decidimos assim. – Ele retirou os óculos e olhou-me com atenção. – Por exemplo, se eu disser que vou me suicidar.
Este fato está diretamente ligado a decisão que tomei antes de me matar. Então não existem interferências exteriores, e sim, eu mesmo tomando decisões com base no que eu decidi fazer antes de fazê-lo.

Não entendi onde ele queria chegar. Mas fiz questão de defender meu ponto de vista.

– Eu simplesmente acredito que muitas coisas se encaixam perfeitamente demais. É como se existisse um imenso quebra-cabeça: só poderemos ver a imagem final quando reunirmos todas as peças e encaixá-las.

– Talvez falte uma peça para mim. – Joshua disse com o olhar sombrio.

– Você consegue encaixá-la? – Perguntei usando metáforas – sabe qual é a peça?

– Eu sei. Estou olhando-a agora. Mas tenho medo que não goste da imagem final. – Ele disse fazendo um arrepio subir por meus braços.

– Duvido disso. – Retruquei.

– Eu aposto que você sairia correndo – ele retrucou também – a maioria das possuem um instinto de autopreservação.

– Lamento informar – gesticulei com as mãos, exageradamente – não conheço esse instinto.

Um silêncio angustiante se prolongava.

Enfim, Joshua quebrou o silêncio.

– Chegamos ao fim de nossa consulta. Preciso que você depois dê uma nota de um a dez para o meu desempenho. Escreve-a num papel e coloque-o em cima da mesinha, por favor. A enfermeira irá vim busca-lo assim que eu sair.

Eu queria dizer para ele não ir, algo que eu fizesse com que ficasse. Talvez um pedido meu funcionasse? Mas respondi simplesmente: – Obrigada. Tchau!

Peguei a caneta e rabisquei no papel retangular os números e o dobrei. Coloquei-o na mesinha e sai sem olhar pra trás.

– Tchau! – ele murmurou, mas eu não me virei para que ele soubesse que eu havia ouvido. Eu queria que ele soubesse, mas algo em mim retraiu esse desejo.

Na clínica há apenas uma saída e uma entrada. Logo após a entrada, obviamente, fica o balcão de atendimento e um pouco mais a esquerda fica a sala de espera. Corri sorrateiramente a porta da sala de espera. E ouvi claramente a enfermeira entregando o que, de acordo com o meu médico, era pra ser extremamente sigiloso. Ele era o principal motivo do segredo. Porque apenas ele não poderia saber da nota. Mesmo assim a enfermeira entregou o pacote completo pra ele deixando-o ate com as anotações anteriores dos meus outros médicos.



– Então ela de teu um 10? – a enfermeira cujo nome deve ser Sara ou Suelen, não sei bem, perguntou a Joshua.

– É o que está escrito aqui na ficha dela, não é? Pois bem, então foi um dez – dava para sentir seu desconforto sabendo que ele estava infringindo regras importantes. – Me deixei ir. Preciso resolver alguns problemas. Ate mais, senhoras!

Eu não havia percebido, mas já estava chovendo. E forte. Ele saiu pra chuva e entrou correndo no carro e saiu em disparada. Meu coração estava batendo tão rapidamente que pensei que seria a última vez que nós veríamos.

A enfermeira me arrancou bruscamente do meu estado paralisante.

– Ela nunca deu um dez para nenhum outro médico – disse a enfermeira de cabelos louros.

– Vai entender! – murmurou Sara. A enfermeira cujo nome eu confirmei quando o li rapidamente ao passar o corredor, sem incrivelmente ser notada.


Biografia:
Meu nome é Wellington Almeida,nasci no estado de são paulo, mais fui criado no interior do Paraná. Onde com muito orgulho surge deliciosas histórias para entreter-me e me fazer flutuar nas maravilhosas facetas da escrita.
Número de vezes que este texto foi lido: 52840


Outros títulos do mesmo autor

Contos Antes De Conhecer meu Coração Wellington Almeida
Contos Clandestinos - Sabores Wellington Almeida
Contos Clandestinos - Com amor, sua Mãe Wellington Almeida
Romance CISNE NEGRO - A RAZÃO DE TUDO É VOCÊ. Wellington Almeida
Romance CISNE DE VIDRO - VOCÊ ME AMA? VERDADEIRO OU FALSO? Wellington Almeida
Contos A criança e a Borracha Wellington Almeida
Contos Clandestinos - Há um lugar no seu coração ou em sua cama? Wellington Almeida
Romance CISNE NEGRO - BEIJADA: PARTE DOIS. Wellington Almeida
Romance CISNE NEGRO - CAPÍTULO DOIS: BEIJADA. Wellington Almeida
Romance Cisne Negro Wellington Almeida

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 55.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68981 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57902 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56729 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55807 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55059 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54983 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54863 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54852 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54755 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54722 Visitas

Páginas: Próxima Última