LAMENTO DO ROCEIRO EXILADO NA CIDADE.
A luz que me alumiava
era aquela do sertão.
Não esta cá da cidade
que é uma grande ilusão;
que me oprime, tira a calma
escurece, fere a alma
e agride o meu coração.
Eu tenho muita saudade
do meu tempo de roceiro
lá eu tinha liberdade
hoje estou no cativeiro
arquejando, quase morto
sofrendo o juízo torto
deste mundo trapaceiro.
Lá minha vida brotava
com muita força, do chão.
A minha mente brilhava
naquele grande clarão.
Hoje meu mundo é escuro,
cercado de cerca e muro
Pelas leis da opressão.
Lá na roça eu sonhava
dia e noite, noite e dia;
muito mais realizava
com amor e alegria.
Hoje já não sonho mais
são pesadelos mortais
que neste lugar me guia.
Pareço um cavaco velho
de coco fora do cacho.
Dentro de min me procuro
e muitas vezes não acho.
Meu valor e identidade
perdidos, pois, na cidade
nesta vida é esculacho.
Bebo o fel da amargura
neste mundo sou refém
Aqui se ver muita gente,
mas se enxerga ninguém.
Gente é coisa de embrulho
se ouve muito barulho,
mas não se escuta também.
Um por si e Deus por todos
como minha mãe dizia.
E o cabra que veio da roça
ainda tem menor valia.
Só vale quem tem dinheiro
e aquele mais trapaceiro
que na politica se cria.
Mas se o caboclo for sério
Humilde e trabalhador
honesto e estudioso
mesmo que vire doutor.
A máfia dos pervertidos
tapa os olhos e os ouvidos
e nunca lhe dá valor.
O sol nasce para todos,
Para quê se orgulhar?
Todo mundo nasce e morre
Na terra em algum lugar.
É necessário crescer,
A ignorância vencer
E o preconceito acabar.
Mas um dia voltarei
para o meu torrão natal,
onde fui muito feliz
onde o mal não era mal.
Para que o dia amanheça,
antes que a vista escureça
E venha o golpe final.
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