XVI
Quarta-feira de manhã na oficina
O gás acabou e minha cunhada ficou um arara. Um cliente veio se informar sobre o preço de uma cantoneira. Passei a noite toda pensando nos personagens Vronski e a bela e sensual Ana Karenina do mestre Tolstoi, como seu eu estivesse escrevendo. Encantei-me com esse romance. Louro passa na bicicleta.
Tarde na sala de estar da III - Casa bamba
Acordei ainda pouco, tive um sonho como fazia tempo que não tinha. Pela manhã cortei os ferros do portão,levei os jornais para o meu menino e comprei uma goiabada para merendarmos enquanto viamos desenho animado.
Começo da noite
Sarah e o sobrinho de Dona Lourdes, o timido Ruan chegaram com a chuva - Bruce, o jovem cão ao vê-los entrar na sala latiu.
- Cala boca, Bruce - Admoestou compassivamente Sara. Minha cunhada na beira do fogareiro preparando o jantar. Meu estomago ronca de fome. Assistindo um filme alemão sobre os terrorista do grupo Baaden-Meinhof que azucrinaram as autoridades alemãs nos anos 70. Fui forçosamente a mudar de canal e não vi o final do filme, minha imperiosa cunhada queria assistir a novela das seis enquanto preparava a ração dos seus queridos bichos.
- Que isso Chambinho,que fogo e esse Chambinho? - Esbraveja em bom som minha cunhada com as mão sujas dentro da bacia de alumínio.
Professor levanta-se da mesa onde jantava, Antenor no computador, Sarinha e o amiguinho assistem um filme no quarto da pequena Larissa. Tomarei um bom banho e irei rumo a oficina acender um bom baseado. Faz uns dias que nem escrevo e nem leio em francês. Uma borboleta adentrou furiosamente na sala e segundo minha cunhada é prenuncio de boas novas. Penso no meu livro que esta a caminho. Apanho a minha toalha estendida no varal do quarto. A luz do banheiro acesa, é Mama grande que esta fazendo as suas necessidades. Seu Carlos, o valet de Professor assumiu o computador, Tenor janta silenciosamente na sala. Professor no quarto do casal deitado na cama vendo a SKI. Mama Grande em câmara lenta vai para a sala e jogar-se abruptamente na sua cadeira vermelha, tosse de leve, procura o seu penico que esta debaixo da mesma e dar um boa cusparada.
- Mamãe, vovó esta gripada? Inquiri a preocupada Sarinha.
- Sei lá - responde enfaticamente minha cunhada que esta no banheiro fazendo o seu asseio e dar uma descarga no sanitário A cadela Chambinha, exilada no quintal late. Escrevo um pouco de francês, para não esquecer esse lindo idioma que tanto venero. A fome recrudesce. Minha cunhada sai do banheiro enrolada na toalha. A pequena Adrielle chega acompanhada pela mão gestante de cinco meses.
Voltando do passeio tradicional, de fumar o meu indefectível 'baseado', de navegar um pouco na Internet, abrir o meu hotmail e não encontrar nenhuma novidade - reli os e;mail da Edilivre e um MP de Dona Marcek. Adrielle dança na abertura da novela das nove, a outra deitada na cama. Larissinha no computador. Professor e Mama Grande deitados nos seus respectivos aposentos.
XVII
Manhã de quinta feira no atelier Como sempre nervoso e temeroso do improvável. A boca amarga. Preocupado com tudo.
Meio-dia e meio na III - Casa Bamba
Alan e Alfonso sentados solitários no banco dos papudinhos na praça do Viva. Armei uma banda do portão e entreguei a lixeira. Estou cansado. Levei o jornal para o meu filho e assistimos juntos os desenhos animados Kung Fu Panda e os Vingadores com os herois do meu passado distante: Capitão America, Thor, Homem de Ferro e outros. Na chegada pediu-me para abraça-lo e beijei-lhe na testa. Seu Nezinho,o ajudante temporário ficou no atelier. As meninas brincam na sala.
- Vamos Drica,vamos dormir - Convida a sapeca Clarinha para a pequenina Adrielle.
Sonhei com Dona Van, a mulher que mais amei em toda minha existência, la madre de mi hijo querido. Estou a sombra no terraço, as meninas correm de um lado para o outro. Seu Carlos,o valet de Professor sentado no meu divan corrigindo não sei o quê. Ma belle-soeur almoçando vendo o telejornal local. Uma paisagem verde ao longe. Os mangues ciliando a margem do lago Bacanga,um céu carregado de cumulus, mas os raios solares predominam o ambiente com uma luz forte e quente.. Uma mosca errante pousa silenciosamente sobre a folha deste caderno. Adrielle a frente e Clarinha atrás circundam a cisterna. Sarinha é saudada efusivamente pela sua protegida, a nova mascote adotiva, a a cadela de rua que batizamos carinhosamente de Pretinha que todos os dias nessa hora vem filar o seu almoço.. Bruce, o irrequieto e injuriado cão acorrentado late cada vez que a vê na cancela do terraço.. Quando morávamos na grande Casa Grande da rua Afonso Pena. Todas as noites eu levava uma lata de leite Ninho cheia de comida para um mendigo já de idade bem avançada, que morava numa porta de uma casa há uma quadra da nossa.Era um cortesia que Mama Grande fazia de coração.
Noite na sala de estar.
Minha cunhada como sempre imperiosa dando as ordens.
- Não sei se a janela de seu quarto esta fechada.- Diz calmamente para Mama grande - Carlos, fecha essa janela - Pede para o factótum de Professor que esta na sala do computador deliciando-se na Internet. Larissinha janta solitariamente na mesa da sala de jantar. Minha nova amiga Marcek vai corrigir alguns textos, ela tem 73 anos mora em algum lugar da França. As dificuldades cotidianas, o botijão de gás ainda não foi comprado.
- Tem arroz ai - Diz minha cunhada para a filha que acaba de chegar da reunião. Vozes de crianças correndo na rua.
- A senhora tem bônus Dona Dadá? - Pergunta Seu Carlos para a minha cunhada. O cheiro de carvão queimado na cozinha. Sem necessidade, minha incansável Cunhada prepara o jantar no fogareiro. Tudo por mal administração. Duas pensões. Deixa pra lá. O irmãozinho do Salão devolve a tesoura que eles pediram emprestado.
Vou me deitar e tentar dormir e sonhar.
Obrigado Senhor por mais um dia vivido sem nenhuma anomalia ou coisa pior. Obrigado.
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