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Ogunhê!
Gil Cordeiro Dias Ferreira

Resumo:
Crônica bem humorada sobre a criação irresponsável de feriados no Rio de Janeiro

OGUNHÊ !
Gil Cordeiro Dias Ferreira (*)
O PT que, por sua própria denominação, deveria tomar iniciativas na geração de trabalho, nesta terra de desempregados, e que reza pela cartilha do chamado socialismo, sabidamente ateu, vem se especializando, ao menos no Rio de Janeiro - quem diria ! - em criar feriados de natureza religiosa ou semi-religiosa: primeiro Zumbi, agora São Jorge - ambos na esfera dos cultos africanos, já que o Santo guerreiro, embora originalmente católico, foi "cassado" há algum tempo pelo Vaticano (terá sido reabilitado ?), e, convenhamos, é muito mais cultuado como Ogun, o Orixá dos metais e da guerra - a ser invocado nestes tempos de antraz, talibãs e congêneres.
Nada mais natural, num país de população predominantemente mestiça de brancos e afros. Mas é preciso ser politicamente correto: há que homenagear-se todos os Orixás. E mais - a Bahia, naturalmente, se considera a capital brasileira dos cultos africanos, mas nem sempre, lá, o sincretismo de Orixás com santos católicos se iguala ao do Rio de Janeiro, já que os escravos trazidos para esses dois lugares muitas vezes pertenciam a nações diferentes.   Portanto, antes que o Ogã Toninho Malvadeza, despeitado, ameace a Cidade Maravilhosa com chuvas no carnaval ou pragas parecidas, seria interessante que o PT carioca se unisse ao baiano, na proposição de feriados nacionais - para gáudio das empresas de turismo - começando pelo próprio Ogun, que na Bahia se confunde com Santo Antonio - e teríamos mais uma folga em 13 de junho. Mas cuidado ! No Rio, Santo Antonio é sincretizado com Exu ! Depois viria Yemanjá, a Senhora dos mares - Nossa Senhora dos Navegantes, em 2 de fevereiro, na Bahia, e Nossa Senhora da Glória, no Rio, em 15 de agosto - além, naturalmente, das homenagens de 31 de dezembro; Oxossi, o protetor das matas, já tem seu feriado no Rio, junto com São Sebastião, em 20 de janeiro, sendo justo que receba outro, na Bahia, em 23 de abril - o mesmo São Jorge; em 26 de julho, celebra-se Nanã Burukê, associada a Sant´Ana, a mãe da Virgem Maria - é o dia da Vovó (cuidado, petistas, essa área já é do Sérgio Cabral); as crianças (elas merecem !), ou Ibêje, com justa razão, devem continuar a ser saudadas em 27 de setembro, com São Cosme e São Damião, lá e cá, e aqui haveria mais uma possibilidade de feriadão, já que a 30 daquele mês se festeja, no Rio, Xangô, o Orixá da Justiça e do trovão - dia de São Jerônimo...e das secretárias (elas merecem !) - enquanto, na Bahia, a festa teria lugar em 29 de junho, dia de São Pedro...e dos pescadores (eles merecem !); não poderíamos esquecer o 13 de maio, dedicado aos Pretos Velhos, em todo o Brasil; dezembro, que já não é muito propício ao trabalho, contemplaria Yansã, a que comanda os ventos, os raios e os mortos, no dia 4, com Santa Bárbara, seguida por Oxum, a da água doce (Nossa Senhora da Conceição, dia 8), Ossanha, a da magia das folhas (Santa Luzia, dia 13) e Omulu / Obaluaiê, o da varíola e da fertilidade da terra (São Lázaro, dia 17) além do já comemorado Oxalá, no dia 25 - Jesus Cristo, ou o Senhor do Bonfim.
Como se vê, as possibilidades são muitas. Mas especificamente no caso de São Jorge, no Rio, devemos aguardar as possíveis reações dos evangélicos, que não admitem cultos a santos e constituem considerável força política, e dos católicos, que não apreciam muito o sincretismo de Ogun com Jorge da Capadócia. A não ser que uns e outros considerem mais conveniente deixar que o novo feriado de 23 de abril componha, com o da antevéspera - Tiradentes, dia 21 - mais uma boa oportunidade de se procurar quem inventou o trabalho. E para os que, como eu, se dedicam, há anos, aos cultos africanos, resta lamentar que demagogos de várias estirpes se utilizem da fé alheia - católica, evangélica, umbandista ou o que seja - para estimular o ócio e auferir dividendos políticos.



Biografia:
Brasileiro, casado, nasceu no RJ, em 06/09/1946. É Oficial de Marinha (Escola Naval, 1967) e Administrador (UNESA, 1996). Passou à reserva em 1996 e, desde então, trabalha na iniciativa privada, como Administrador e Consultor. Tem mais de sessenta trabalhos publicados sobre assuntos militares, história, geografia, política e ficção, em periódicos especializados e jornais do RJ e de MS. Conquistou vários prêmios literários e, em 2000, o Clube Naval editou seu livro “Coisa de Naval”. Tem livros à venda nos sites Clube de Autores, AgBook, Recanto das Letras e Bookess.
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