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Sobre a relação entre Ciência e Religião.
Vinicius Carvalho da Silva

Resumo:
Heisenberg, Niels Bohr, Pauli e outros grandes travavam intensas conversas reflexivas a respeito de tal questão. Que os cientistas não podem pensar em tão sublime problema, é apenas um tabu emburrecedor que não interessa aos verdadeiros sábios.

Sobre a relação entre Ciência e Religião.

Se aplicarmos o método intuitivo proposto por Bérgson em “O pensamento e o movente” que consiste numa profunda reflexão genealógica dos nossos conceitos, a fim de removermos do nosso intelecto as camadas pré-conceituais que nos influenciam, poderemos realmente compreender a tese de Mokiti Okada, que propõe uma fusão entre os saberes religiosos e científicos. Para Bérgson, devemos libertar o espírito do espaço que o aprisiona e então o “apreenderemos imediatamente”. ( Para Popper, eliminar as barreiras pré-conceituais, é condição, “sem a qual não” não podemos fazer ciência. Popper salienta que Bacon, em o “Novo Organon”, já apontara para tal questão.) Nietzsche também nos aconselha a tal tarefa. Para ele, o homem está afetado demais pela cultura, pelo excesso de informação, e acabou por tornar-se superficial. Um homem que não tem tempo para meditar sobre as questões profundas da existência, que vive correndo por questões efêmeras e tudo que aprende, o faz para alcançar fins práticos imediatos e pessoais, não vive uma vida que vale a pena. Não é livre, sendo apenas um escravo de intenções, motivações e convicções, que ele sequer sabe as origens e os propósitos. O primeiro passo para a sabedoria, segundo Nietzsche, não é aprender, acumular mais informações, mas desaprender, “jogar fora tudo o que não nos serve”. Em “Assim falou Zaratustra” ele recomenda a quem se quiser dar alguma coisa de presente aos homens: “Tira-lhes, de preferência, alguma coisa de cima”. Zaratustra disse também que Deus estava morto, mas que acreditaria em um Deus que soubesse dançar! De fato, era um crente em Dionísio, uma divindade mitológica, símbolo do movimento, da força, da criatividade. Um deus sem dogmas, sem o ar grave e triste da tradição medieval.
   Nos livros “Deus e a Nova Física” e “A mente de Deus”, o físico Paul Davies discorre sobre as articulações entre física e Metafísica, tão em voga e tão frutíferas, presentes no cenário atual da cosmologia e da física quântica. Ele, e uma imensa legião de cientistas, em todas as partes do mundo, pergunta-se se há um elo entre ciência e espiritualidade. Para cientistas arrogantes, como o biólogo Richard Dawkins, os que postulam algo para além dos limites comuns da materialidade, são analfabetos, porque apenas a matéria é real. Na lista dos “analfabetos” de Dawkins, incluem-se vários ganhadores do Nobel, pesquisadores e professores das mais renomadas universidades do mundo, uma legião de Ph.D’s.
Logo se vê que não podemos levar opiniões como essa a sério...
    Certa vez li a opinião de um autor, que dizia que toda vez que Einstein falou em Deus e Religião, ele foi irônico. Faltou ao autor, um pouco mais de leitura. Na verdade, Einstein escreveu pelo menos dois textos muito sérios sobre tal questão, um denominado “Religião e Ciência” e outro “Religiosidade da Pesquisa.” No primeiro texto Einstein declara que há vários níveis de espiritualidade, e que, a seu ver, o mais elevado, é a religiosidade cósmica. Diz ele, que neste nível; “O ser experimenta o nada das aspirações e vontades humanas, descobre a ordem e a perfeição onde o mundo da natureza corresponde ao mundo do pensamento. A existência individual é vivida então como uma espécie de prisão e o ser deseja provar a totalidade do Ente como um todo perfeitamente inteligível. Notam-se exemplos desta religião cósmica nos primeiros momentos da evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas. Em grau infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmos, que os maravilhosos textos de Schopenhauer nos ensinam a decifrar. (...)Para mim o papel mais importante da arte e da ciência consiste em despertar e manter desperto o sentido dela(religião cósmica) naqueles que lhe estão abertos. (...) Eu afirmo com todo vigor que a religião cósmica é o móvel mais poderoso e mais generoso da pesquisa científica.” E completa; “Aquele que só conhece a pesquisa científica por seus efeitos práticos vê depressa demais e incompletamente, a mentalidade de homens que, rodeados de contemporâneos céticos, indicaram caminhos aos indivíduos que pensavam como eles. (...) em nossa época, instalada no materialismo, reconhece-se nos sábios escrupulosamente honestos os únicos espíritos profundamente religiosos”.
   Em minha opinião, se o “motor” da ciência é a busca por “conhecer a realidade”, então, temos a ciência como uma bela e profunda forma de religião sublime. Isto porque, conhecer profundamente uma “obra” é uma forma direta de se encontrar com seu “autor”. Faço filosofia da ciência, ao “pensar” ciência e “repensar” seus paradigmas e suas conseqüências, movido por um forte e sincero desejo de conhecer esta maravilha de Universo e as imprescindíveis leis da natureza que regulam a existência de todas as coisas. Sendo assim, é claro que não faço ciência por mera curiosidade, mas por embevecimento, gratidão e admiração pela verdade e beleza de tudo o que existe. Nem penso que querer compreender o Universo seja uma afronta ao seu criador. Quando eu for pai, quanto mais interessado meu filho se demonstrar por compreender esse vasto mundo e seus fenômenos, e mais perguntas fizer, e buscar por respostas satisfatórias, mais satisfeito eu vou ficar... Neste sentido, parece que concordo plenamente com Einstein. Disse ele_ “Quero saber como Deus criou esse mundo. Não estou interessado nesse ou naquele fenômeno. Quero saber Seus pensamentos, o resto são detalhes”. Sim, há aqui, um pouco de ingenuidade, até de presunção, mas há muito de admiração pelo universo, de busca sincera e apaixonada, até mesmo de devoção!
   De fato, muitos cientistas proclamam certa religiosidade, entretanto, religião e religiosidade são duas coisas distintas. Histórica e culturalmente, religião até uma instituição, uma organização social, com dogmas e um sistema teológico próprio a cerca do sagrado. Mas essa definição de religião até uma construção cultural, uma consolidação pré-conceitual sobre o tema. Creio que na verdade, a essência de uma religião não esteja em templos, dogmas ou doutrinas, mas no nível de sua religiosidade. Religiosidade é o sentimento sutil de embevecimento diante da ordem e beleza do universo, a gratidão por essa maravilha chamada “existência”, a vontade de compartilhar esse estado com os outros, e fazê-los felizes, é um profundo sentimento de respeito e amor para com a natureza e todos os seres, e um forte projeto de conhecer os princípios organizadores do Cosmos.
   Certa ocasião, perguntaram ao biólogo Jean Henri Casimir Fabre, autor de importantes tratados de botânica e zoologia e um dos principais cientistas de sua época, se ele acreditava em Deus.
Não!_respondeu o sábio.
Eu não acredito, eu O vejo em toda parte!
   Talvez devamos compreender o conceito “Deus” de um modo sublime, não dogmático. Sempre pensamos em Deus como um chefe de estado, um sujeito com fisionomia imponente e voz grave, que governa o mundo arbitrariamente. Para Sigmund Freud, em “Psicopatologia da vida cotidiana”, é desta forma que os homens fazem de Deus a nossa imagem e semelhança, projetando nele a figura reprimida do pai e do tirano que temos em nossa mente.   
   Pensamos em Deus como indivíduo que escreveu dogmas em livros sagrados,... Mas talvez sua linguagem seja mais sutil e profunda, e através das leis da natureza, da beleza e da ordem do universo, dos processos quânticos, ele esteja se comunicando conosco, e vivificando a tudo e a todos, a todo o momento.
        Heisenberg, Niels Bohr, Pauli e outros grandes travavam intensas conversas reflexivas a respeito de tal questão. Que os cientistas não podem pensar em tão sublime problema, é apenas um tabu emburrecedor que não interessa aos verdadeiros sábios.
   


Biografia:
Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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