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BOA APARÊNCIA
BOA APARÊNCIA
LLEAL

Resumo:
Aparências realmente enganam.

“Pedro. PEDRO!”
Eu não pretendia acordar até as dez da manhã, mas ouço um barulho na minha porta.
É meu vizinho e senhorio, que agora começa a girar a maçaneta, enquanto continua gritando:
“PEDRO! PEDRO!”
Abro a porta, e ele investe para dentro.
“Pedro, você esta acordado?”
Ainda não abri bem os olhos, e meu cabelo esta despenteado. Estou acordado, mas não muito.
O sol acaba de aparecer, mas ele já esta completamente vestido.
“Bom dia, senhor Carlos”; procuro não mostrar uma aparência preocupada
Ele abre o sorriso cinza em seu rosto gordo e vermelho.
“Eu o acordei?”; ele pergunta, tentando ser gentil
“Não, eu estava levantando”; eu respondo, mantendo o tom despreocupado
“Ótimo. Não queria aborrecê-lo. Você conseguiu o dinheiro do aluguel?”; ele pergunta, aproximando o rosto enorme do meu nariz
Pisco os olhos, tentando focalizá-los.
“Nós combinamos até o meio-dia”; eu murmuro, hesitante
“Não, até hoje”; ele diz, secamente
Entreolhamo-nos por alguns segundos, e então olho para meu relógio e digo:
“São 9.30 senhor Carlos. Tenho que sair para buscar o dinheiro”
Ele imita meu gesto e repete, teimosamente:
“São 9.35 Pedro e combinamos até hoje”
Olhamos um para o outro outra vez. Ele olha para o meu pijama. Eu examino seu terno barato.
“Escute senhor Carlos, combinamos até ao meio-dia e apenas tenho que sair, apanhar o dinheiro e pagar o aluguel. Certo?”; eu digo, suavemente
“Você não vai pagar.”; diz ele com o rosto mais vermelho
“Vou sim”; eu digo com voz firme
Ele pensa por um momento, e de repente se transforma na própria imagem do sofrimento.
Os ombros se curvam, as pernas por debaixo da calça mal passada parecem tremer e seu rosto fica triste e sombrio.
“Você garante? Preciso comprar meus remédios.”; ele diz, com voz fúnebre
“Sim, eu sei. Vou paga-lo”; eu disse, com voz consoladora
“Está bem”; ele diz e se afasta com passos arrastados, resmungando algo que duvido que fosse um elogio a minha pontualidade no pagamento dos aluguéis
Visto-me e vou para a rua.
Preciso arrumar o dinheiro.
Caminhando a esmo, enxergo um prédio alto, repleto de vidro escurecidos e estacionamento enorme.
Vejo meia duzias de carros estacionados e o prédio parcialmente iluminado.
Não são dez horas ainda.
Espero na esquina até chegar outro carro e calculo o tempo exato para chegar junto com um homem de cabelos grisalhos na porta da frente.
Segurando uma pasta e um copo de café, ele começa a procurar as chaves.
Quando se dá conta de que estou a seu lado ele olha assustado para mim.
“Bom dia”; digo cortesmente
“Bom dia.”; ele resmunga e acrescenta, parecendo desconfiado de minha aparência – “Posso ajudá-lo em algo?”
“Sim, senhor. Sou o novo plantonista da Clinica e estou chegando para trabalhar.”
“Seu nome por favor?”; ele perguntou mantendo o olhar desconfiado
“Sérgio”; menti eu
Suas mãos ficam imóveis, e ele franze a testa. Estende o lábio inferior para a frente e balança a cabeça vigorosamente.
“Nunca ouvi seu nome antes. Entre em contato com o departamento pessoal na segunda-feira e peça que me informem sobre você. Sou o Gerente Financeiro.”; ele disse, examinando com mais cuidado meus tênis velhos, minha calça esporte e minha camisa um tanto desbotada
“Fui contratado ontem, eu juro”; argumentei consciente de minha má aparência
Ele enfia a chave na fechadura com um olhar medroso para mim.
“Sinto muito. Regras são regras. Adeus”
Ele quase salta para dentro do prédio e bate a porta na minha cara.
“Preciso arrumar o dinheiro”; pensei, também examinando minhas roupas e concluindo que o homem pensara que eu fosse um ladrão
Não vou ficar parado aqui como um vendedor de sanduiches á espera que apareça alguem.
Sem pestanejar, volto até a pensão, visto o terno que estava usando no dia em que fui despedido e volto para o estacionamento.
Agora vejo que existem mais carros e sem demora chega outro homem, apertando uma papelado de encontro ao peito e olhar apavorado, talvez com o próprio atraso.
Consulto o relógio, quase onze horas.
“Bom dia.”; eu digo, repetindo o contato anterior
“Bom dia. Você esta atrasado para a reunião também?”; ele diz, estendo a mão gorda e sorrindo para minha gravata vermelha, cuidadosamente espremida em meu terno de corte italiano
“Sim. Estas reuniões aos sábados são terriveis. Não é mesmo?”; eu digo, enquanto ele abre a porta e como um cavalheiro permite que eu entre primeiro
Juntos caminhamos até a sala ao final do corredor, entramos no recinto com aparência de opulência, sentamos um ao lado do outro e ficamos quietos, olhando para as paredes, como todos os demais presentes.
De repente, um senhor alto, extremamente bem vestido, sem anunciar-se entra, toma a cadeira da ponta da mesa, afasta-a com um gesto resoluto, passa em revista com seus olhos frios como a lâmina de uma espada os homens vestidos de forma impecável, e proclama solenemente:
“Antes de iniciar-mos nossa reunião para a distribuição dos bônus sobre os lucros da empresa, alguém gostaria de dizer algo?”
Eu me levanto, fazendo barulho ao afastar minha cadeira, produzo outro barulho com a garganta, abro um largo sorriso, cumprimentando a todos ao mesmo tempo e antes de falar checo o relógio.
“11:25”; confiro com olhar preocupado, concluindo que deveria ser rápido ou poderia me atrasar para o pagamento do aluguel
“Senhores. Por favor, um minuto de atenção. Coloquem suas carteiras e demais pertencentes sobre a mesa e mantenham-se quietos”
“Isto é um assalto”; eu falei enquanto sacava a arma do bolso interno de meu traje italiano
“Consegui o dinheiro. Como costumo dizer tudo é uma questão de aparência”; eu pensei, enquanto recolhia as carteiras recheadas e colocava em minha pasta de ex-executivo.


Este texto é administrado por: luis carlos binotto leal
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