Nunca fui de acreditar em bruxa, até aquele dia 31 de outubro.
Já era noite e eu estava sentado na porta de casa ao luar tomando um vento para refrescar, quando de repente as luzes de toda a rua se apagaram sem aviso prévio. Virou um breu!
“Maldita concessionária de luz!” - Pensei.
“Pago todos os meus impostos, bandeiras vermelhas, taxas de iluminação e tantos outras besteiras que eu nem imagino do que se tratam! Um absurdo!” - Novamente pensei.
Mas logo meus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina vindo de algum lugar ao meio da escuridão, áspera como a de uma idosa centenária que fumou seus tantos maços de cigarro durante toda uma vida, dizendo:
“Contenha seus pensamentos raivosos. A noite hoje é da Bruxa, filho. É a noite em que a escuridão toma conta e só a luz do luar dá refúgio aos merecedores”
Na hora me foi um grande susto ouvir aqueles inesperados comentários, mas retruquei com empatia tentando esconder o medo em minhas palavras:
“Minha senhora, tome cuidado por onde anda, nessa escuridão pode ser perigoso um tombo ou coisa pior!”
Foi quando a áspera voz subitamente veio sussurrar ao pé do meu ouvido, gelando a espinha como uma noite passada ao descampado nas madrugadas de junho:
“O andar é uma limitação aos meros mortais, meu jovem. A vingança que trouxemos à sua porta nessa noite nos exige muito mais do que pernas.”
Cambaleei e cai para trás, batendo a cabeça no meio fio.
Quando acordei a luz já havia voltado e sirenes clareavam intermitentemente a hora mais escura da madrugada.
Mas era o suficiente para ver o massacre que havia acontecido.
Paredes pintadas de sangue, corpos mutilados em tantos pedaços que sequer seria possível identificar quem foram um dia.
E dentro de mim, a dúvida jazia:
Por que será que sobrevivi à noite da Bruxa?
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