Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Das Horas Que O Campo Chora
Matheus Costa

DAS HORAS QUE O CAMPO CHORA

No silêncio mais genuíno,
chora o grampo do farpado...
Não por ser aprisionado
e findar junto dos fios,
(tampouco há mormaço ou frio
lhe condenando as retinas)
mas pela ausência da crina
é que se faz tão vazio!

Geme um basto, em noite grande,
costurado pelo tempo...
Minguando o compasso lento
da sina que lhe conduz.
- Solidão que, em si, faz jus
por sentir falta do lombo...
Guardando a cura do tombo,
lembrando o beijo das "cruz".

Na parede, abraça o gancho
um cabresto rebentado...
Pois - muito embora, sovado -
sem uso, não se consola.
- Diante à carona de sola
(que também não vai à encilha)
recorda muitas tropilhas
e mil romances co'a argola!

Estrivos enferrujados
- quando ainda manhã cedo -
conversam dos seus segredos,
das cismas... também espantos.
- Estriveiras n'outro canto...
...hoje apenas são metades
e motivos de saudade
das recorridas de campo.

As nazarenas, tal moças
cantantes e - um dia - belas,
que luziam - tagarelas -
pelos caminhos compridos.
Agora, em tremendo "olvido"
somente contam lamentos:
- Uma torta e já sem tentos....
....outra com dentes perdidos.

Cinchas sujas, esfiapadas,
por cruzadas em banhados...
Pelêgo gasto e rasgado
que mal e mal forra um banco.
E alguém de cabelos brancos
cuidando o próprio passado
em cada apero deixado,
feito nem valesse tanto.

A florzita da canhada
se despetala - sentida -
Guaxa de amor, não colhida
pra janela do ranchinho.
- Gado que cruza sozinho
sem reparar onde pisa...
E, então, com morte batiza
esta flor e seu espinho.

Rabicho longe da doma...
Peiteira sem dar confiança...
Um poncho que é só lembrança,
buscando aromas de outrora.
...Buçal fraco, mas que implora
voltar na forma, algum dia.
...Guitarra sem melodia,
que pra o fogo, virou tora.

Canga frouxa e retorcida
nem ouve o tranco dos bois;
...Perdeu-se n'algum depois
(destes que o tempo promete)
Pajonal povoando o brete
- tapera que se formou -
E um lagoão que já secou...
...estrelas não mais reflete.

Cinamomo desgalhado,
que o verão pouco conforta.
Ciscos de poeira na porta
desfeitos pelas vassouras.
- Zainas, tordilhas e mouras
de cola e de crina inteira;
Penando, desta maneira,
o abandono da tesoura.

E o campeador, recorrendo...
...irmanado à solidão;
Ponta à ponta do rincão...
...sua sina não escolheu;
Tantas vezes se perdeu
(na forquilha de um bragado)
contando e tropeando o gado
que jamais há de ser seu!

No braço largo e comprido
de um umbú - guardião do tempo -
reluta o sopro dos ventos
algum gancho carneador.
- Geadas, o inverno, o rigor...
...são o açoite que lhe entangue;
Talvez, por castigo ao sangue
que tombou, sem sentir dor.

Na boca clara da sanga,
vez por outra, com espanto,
se ouve um tremendo pranto
entre salsos e remansos.
- Não há mais longos descansos
de quem cruzava por diante;
Tampouco a sanga garante
fim de sede aos potros mansos.

Pelos moerões das porteiras,
nas barras da manhã cedo,
bem se revela um segredo
que o campo notou primeiro...
...Um vulto, sem paradeiro,
lamenta que há de cantar;
- Sem o par pra lhe escutar,
chora, assim, o João Barreiro.

O serenal deixa o pasto,
foge ao sol baio que arde...
São mais pesadas as tardes,
são mais lentas as demoras.
...Palanque que não escora
o golpe de algum tirão...
- Testemunha, na amplidão,
das horas que o campo chora!


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 61657


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Rabicho Matheus Costa
Poesias Nos Dias Calmos da Estância Matheus Costa
Poesias Cinamomo Matheus Costa
Poesias Outro Dia Trago Flores Matheus Costa
Poesias Quando A Palavra Existia Matheus Costa
Poesias Meus Motivos de Xergão Matheus Costa
Poesias Maneia Matheus Costa
Poesias Depois do Campo Encharcado Matheus Costa
Poesias Bailarina Matheus Costa
Poesias Das Horas Que O Campo Chora Matheus Costa

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 27.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Resumo - Direito da Criança e do Adolescente - Isadora Welzel 62774 Visitas
A SEMIOSE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE - ELVAIR GROSSI 62749 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 62696 Visitas
A Aia - Eça de Queiroz 62683 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 62652 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 62601 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 62590 Visitas
Mistério - Flávio Villa-Lobos 62590 Visitas
Legibilidade (Configurando) - Luiz Paulo Santana 62578 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 62553 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última