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Um Buda gorducho entronizado numa flor de lótus totalmente aberta, em plena praça pública. Nas costas, uma estreita fissura, do cumprimento de uma folha de ofício, dividia as atenções com a imensa barrigona à mostra. De acordo com o raciocínio imediatista dos viciados em crack, aquela fenda, e aquele barrigão significavam muitas moedas, e por que não, muitas notas graúdas, que acabariam com as suas fissuras por um longo período de tempo?! Por isso, era natural que todos os pedreiros da redondeza ficassem a espreita, esperando o momento oportuno para atacar o Buda, e reduzi-lo a cacos. Os pilantras não ocupantes de cargos públicos também pretendiam fazer o mesmo, contudo, os mesmos procuravam um meio de agir mais pela razão do que pela emoção. Preocupados os pastores, bispos e apóstolos aterrissaram os seus aviões, pois deveria ser feita uma análise detalhada da situação, uma vez que Buda poderia melar um esquema multimilionário.
Os primeiros a dar significado à flor de lótus foi os chineses. Em seguida foi à vez dos egípcios e hindus antigos. Somente depois destes três povos é que o budismo se apossara da flor de lótus dando-lhe um novo significado. Em decorrência de sua forma de roda, acredita-se que ela represente o círculo do nascimento e da morte, ou a emergência da beleza e da harmonia das águas turvas a partir do caos. Mas esses detalhes não despertaram o interesse dos vereadores, uma vez que político só vê o que lhe interessa. Como o budismo fora o último a dar um significado à flor de lótus, nada mais lógico a visão política do que acusar Buda de ser um usurpador. Político apregoa mentiras, e acaba acreditando nelas, e todos os vereadores acreditaram que o ungido, deveras, era um usurpador, e como eles eram usurpadores de verbas públicas, agora tinham uma afinidade total com Buda. Por isso, fazer de Buda o padroeiro do munícipio tornou-se o objetivo principal de boa parte dos membros da câmera de vereadores. Porém os deputados estaduais frustraram o objetivo dos vereadores apropriando-se do projeto deles. Buda merecia ser padroeiro do estado, e não somente de um município. Mas como tudo que aqui se faz aqui se paga, os deputados federais roubaram o projeto dos deputados estaduais. Agora o iluminado estava prestes a tornar-se padroeiro do Brasil. Os deputados federais já tinham destituído uma mulher do posto de presidenta, por isso acreditavam que não seria difícil destituir outra mulher do posto de padroeira da nação.
Um pescador puxara a sua rede, e nela viera uma imagem faltando à cabeça. Tomado pela emoção o mesmo uma vez mais lançou a rede, e pegou a cabeça da imagem. O que viera a seguir foi uma grande pescaria. O pescador e os demais que estavam com ele creditaram a grande pescaria a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Segundo os mesmos fora imagem que lhes dera sorte. Político não conta com a sorte, mas sim com a astúcia para ludibriar e usurpar, e Buda era a divindade que estava alinhada com os seus objetivos. Por isso nada mais justo do que destituir Nossa Senhora Aparecida do posto de padroeira do Brasil, e colocar Buda. Mas a verdade viera à tona. Dentro do Buda não havia moedas, nem dinheiro graúdo, mas sim documentos que incriminavam servidores públicos, políticos, pastores, bispos, e apóstolos. Essa descoberta desencadeara a temporada de caça ao Buda.
Os líderes do sistema religioso tornaram-se uma réplica da esquadrilha Abutre. Religiosamente os religiosos invadiram o espaço aéreo nacional a procura do iluminado. Já os servidores públicos e a classe política ficaram encarregados de realizar as buscas na esfera terrena. Buda fora procurado até mesmo em lugares inusitados, e todos quase enfartaram ao descobrir que o iluminado estava entronizado na flor de lótus em plena Praça dos Três Poderes, em Brasília. Em estado de fúria os envolvidos nas denúncias atacaram o Buda, reduzindo-o, a cacos. Mas para surpresa de todos nada havia nas entranhas do iluminado. Não restava dúvida de que tinham sido vítimas de um trote. O autor da sacanagem agora era o maior bandido da nação, e deveria ser eliminado antes do Aedes aegypti.
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