E tu, assim,
exposto às tempestades,
às chuvas frias, que cristalizam nervos,
gelam teu sangue, quebram-te pedaços.
Revelado ao sol, que só te aquece a veste,
suor e sede fundidos nos teus traços,
criando rugas a cada sonho morto.
E, assim, aos ventos
tu, também, te entregas
e às idades, que parecem lentas...
Mas nunca chega o reviver querido
e nem acorda o renascer sonhado.
Gestos de pedra, sem andar e abraços.
Na escara preta de tua carne ôca
gritos explodem teu chorar por dentro...
Silêncio aberto, tua fechada boca.
Pelas manhãs: Iluminado cego
afugentas coloridos voos,
Porém à noite nem teu vulto vive
Estátua morta, que não causa medo
Embora nunca revelado fosse
A inutilidade desse teu segredo
Pelas fronteiras do teu parco espaço
serpeia a vida Indiferente e fria
Que já não crê - imitação insana
nos teus assombros à ave fugidia
E nem sequer nessa bondade humana.
Por que será que permanece preso
ao chão teu corpo envelhecido e teso ?
Talvez porque, das sobras de uma vida
a ti restou o inútil da espera ,
que te acompanha da noite até o dia
...Ou a estupidez da tua covardia?.
Rio, 19/06/1990 + 03/07/2017
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