Oh Divino,
de luz incandescente
que nunca se apaga,
que por ela desci a este mundo
numa escada de luz apagada...
Pé ante pé,
cheguei ao chão de terra batida,
feito semente celeste
pus-me ao som da vida
e berrei e chorei e mamei,
e o que era escuro minha mãe,
de mão acendida,
mostrou-me o reino de pedras e sonhos,
(é onde hoje me ponho),
e os moinhos à mente foram comida;
ergui-me, cavaleiro de elmo e coragem,
atravessei este mundo numa longa viagem...
E era a Festa do Divino na sexta-feira,
tanta gente de alma aberta
e hasteada bandeira,
a manjedoura cheia de bichos,
o céu se abria num riso,
era o nascimento do festejado menino,
eram três os que vieram de lá,
Baltasar, Melchior e Gaspar,
ouro, incenso e mirra,
presentes ao menino
que veio ao mundo
trazer a paz,
a quem é de briga
ensinar a amar...
E eu vi de perto
que o coração do homem
às vezes é um deserto,
nenhum oásis, nem água por perto,
só a solidão do sentimento,
sei-me saber disso
porque sou homem
e me vejo de perto
e por dentro,
é o que digo...
Mas o Divino tem a cura,
o poder de fazer a devolução
do sentimento a quem o perdeu,
esvaziou seu coração...
O Divino pode o que não pode a criação,
reparar as estradas que levam ao amor;
deixe que o Senhor dos Céus lhe dê a mão,
lhe encha de sabedoria, afeto, calor...
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