Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
PALHAÇO NO NEVOEIRO
Simone Dimilatrov

Resumo:
Em outubro de 2016, foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação sobre uma onda de pessoas vestidas de palhaço nos EUA e Reino Unido assustando e atacando pessoas. Ocorreram alguns casos em cidades brasileiras também. Na rua em que resido em Santos/SP foi tirada uma foto com uma figura ao fundo e propagada nas redes sociais como uma pessoa vestida de palhaço que, na verdade, é um mendigo indefeso que há anos vive nas ruas do bairro da Vila Belmiro. O infeliz mendigo é mudo, doente mental e inofensivo.

O palhaço na esquina
É o mendigo louco sob as intempéries
Do dia e da noite, a loucura e o silencio presentes
Faça chuva, faça sol
Ninguém ri, ninguém chora
Ninguém lamenta, todos ignoram

Por anos sentado no meio fio
Em transe balança incessante a cabeça
Num estranho rito e mania
Seus olhos vagos e alucinados
Sempre mirando o céu
Como quem nada espera

No palco da vida não existe o riso
E, nas horas tardias, o palhaço se torna
O assustador fantasma da meia-noite
A vagar pelas ruas escuras
Sob o nevoeiro e a luz entrevada da lua

E assim segue o bobo sem piedade nem corte
Sobrevive nas ruas vive feito estátua de bronze podre
Em costumaz e nojenta mania
De caçar e comer os piolhos que empesteiam, a fedorenta cabeça
Entre os restos da caridade quem o alimentam, ás vezes lixo
O que dizer, o que fazer?
Se ninguém nunca o ouviu e a mão lhe estendeu

A vida é como um show que deve continuar
E assim, o mendigo esquizofrênico
É ignorado pelo poder público
Até que chegue o derradeiro dia
Em que o show terminará
Com a vinda do carro fúnebre
O palhaço buscar

E, lá, em uma vala comum
Sem pompa e circunstância
O palhaço não terá o último adeus
Sequer um lamento ou lágrima derramada
Morreu sozinho e ignorado
Por todos os corações de pedra
Que por ele passaram
Solidão, desprezo e dor

E assim, o show terminou
Um mendigo como tantos outros
Um problema facilmente resolvido
Finalmente, da vida se livrou e descansou

Enterrado como indigente
Nada foi a não ser alguém que o mundo esqueceu
E que daqui partiu sem ter conhecido
Amor, cuidado, carinho e justiça

Voe palhaço, estás livres de sua sina e de sua triste máscara
Voe para o sol que lhe queimou o rosto a vida inteira
Voe para a estrelas cujo brilho atenuou o horror de suas noites
Voe para a liberdade, para bem longe da terra da falsa caridade
Recobre a sanidade e a dignidade

E que todos os omissos que, em vida, lhe ignoraram
Paguem o preço do mal feito e dos maus tratos
Sintam a sua fome, a sua dor, cicatrizes e infeliz sina
Pois agora, fecharam-se as cortinas
O show terminou, e o louco enfim descansou.

Simone Dimilatrov
Santos, 15 de outubro de 2016.


Este texto é administrado por: Simoni Dimilatrov
Número de vezes que este texto foi lido: 64195


Outros títulos do mesmo autor

Poesias BALADA DE SAMHAIM* Simone Dimilatrov
Poesias ONDE ESTÁS? Simone Dimilatrov
Poesias *BROM **CLO ***DIA Simone Dimilatrov
Poesias O AMOR DE UM ANJO Simone Dimilatrov
Poesias AMOR PERDIDO, AMOR INFINITO Simone Dimilatrov
Poesias PALHAÇO NO NEVOEIRO Simone Dimilatrov
Poesias CAMPOS DE AGRIMONY Simone Dimilatrov
Poesias SONHE UM SONHO LÚCIDO Simone Dimilatrov
Poesias AZRAEL Simone Dimilatrov
Poesias CONFIGURAÇÃO DOS LAMENTOS¹ Simone Dimilatrov


Publicações de número 1 até 10 de um total de 10.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
A FARSA DA USURA - fabio espirito santo 64422 Visitas
Definidas as semifinais do Paulista A3 2024 - Vander Roberto 64328 Visitas
O menino que virou borboleta - Flora Fernweh 64320 Visitas
Derecho al agua potable - Yuran Lukeny Antonio Mulenza 64272 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 64270 Visitas
Refloresceu .... - Maisnatureza 64267 Visitas
CENA de RUA: livro de imagens - Tânia Du Bois 64260 Visitas
Coração - Marcos Loures 64258 Visitas
Menino de rua - Condorcet Aranha 64257 Visitas
Porque ler POSTIGOS - Tânia Du Bois 64255 Visitas

Páginas: Próxima Última