Julia era uma moça magra, esganiçada e ao mesmo tempo atraente. Tinha chegado da cidade grande a poucos dias e ainda mantinha alguns costumes, diferentes da vida tranquila e serena do pequeno povoado ao Leste do Arizona.
Lembro que naquela manhã de sábado, todos estavam sentados à mesa do café, farta como sempre, quando Lázaro adentrou à sala de supetão, fazendo com que todos se virassem para ele, como que num ato ensaiado, para ver que furacão era aquele.
Disse em voz trêmula e ofegante:
- Julia caiu!
Foi uma correria. Porque o que nunca se imaginava era que com tanto espaço naquela fazenda, Julia poderia ter caído logo ali! Foi um Deus nos acuda, e o neguinho esbaforido, corria desembestado na direção do barranco, enquanto os cachorros latiam em matilha.
Para entender este fato, preciso contar detalhes dessa história, haja que devem estar se perguntando, quem é Julia? Quem é Lázaro e onde esta moça caiu?
(...)
Tudo começou no outono de 1937, quando se ouviu um choramingado vindo do quarto e a parteira saíra com um bebê envolto num lençol branco e sujo de sangue, apontou ao pai e disse, - É menina e se chamará Júlia.
Petrônio, sujeito matuto de seus 40 anos, tirou o tóba do bico, olhou para o compadre e falou em voz calma, como sempre foi:
- Vamos tomar uns conhaques, que hoje é por minha conta.
Era uma reação fria, enquanto a parteira Nazaré voltava com o novo rebento para o quarto escuro, fadado a passar mais uns trinta dias sem ver a luz do sol, costume daquela época, que mulher parida não podia pegar sol nem sereno, antes dos trinta dias de resguardo. Muito menos a criança, pra não pegar vento e ficar de arca caída.
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