Segundo Michel (2000) no século XVI, algumas observações esparsas surgiram, evidenciando a possibilidade de o trabalho ser causador de doenças.
No século XVII, Ramazzini, um médico italiano que se dedicou a descrever doenças ocupacionais, relatou que movimentos violentos e irregulares, bem como posturas inadequadas durante o trabalho provocavam sérios danos à máquina vital. Aqui cabe ressaltar “as doenças dos escribas e notários”. Com esta afirmação, constata-se então que certas atividades ocupacionais, independentes da época em que são exercidas e da presença de máquinas ou produção organizada, exigem das pessoas posturas, esforços físicos e mentais que podem produzir doenças.
Já com o advento da Revolução Industrial, quadros clínicos decorrentes de sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular tornaram-se mais numerosos.
Observa-se que dentro das discussões relativas à saúde dos trabalhadores, importa a discriminação e a análise dos fatores dentro e fora do ambiente de trabalho, bem como sua repercussão no desencadeamento e na manutenção dos processos patológicos. Os problemas relativos às extremidades superiores, relacionados ao trabalho, têm se constituído um grande fator de profundas discussões em termos de saúde pública em muitos países.
A Saúde, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social” (FISCHER et al., 1989). Este conceito propõe uma ligação de todos os elementos presentes no ambiente com o estado de saúde das pessoas. Onde saúde e doença são estados que dependem da integridade física e mental do indivíduo, bem como das características físicas e “emocionais” da sociedade na qual ele vive, mora, trabalha, diverte-se e sofre. Miranda (1998) menciona que, diversos estudos têm revelado no desenvolvimento da LER, a possível contribuição de fatores psicossociais.
Sendo que o trabalho em condições inadequadas, acima referidas, pode provocar o acometimento de tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, especialmente dos dedos da mão, punhos, antebraços, cotovelos, braços, ombros, pescoço e regiões escapulares, relatada também a ocorrência de afecções de origem ocupacional em membros inferiores, especialmente atingindo os joelhos. Onde historicamente essas lesões por esforços repetitivos constituem um fenômeno universal, de grandes proporções, em constante crescimento. Na verdade, tais lesões já foram registradas em 1700 pelo médico italiano Ramazzini, que estudou sua ocorrência entre escriturários. Em 1895, De Quervain descreveu o “entorse das lavadeiras”, depois denominada tenossinovite do polegar. Contudo, somente a partir da década de 60 o problema ganhou maior dimensão com a incidência crescente de LER entre trabalhadores de países industrializados. Vale recordar que, em nosso país, apenas a partir de 1987 a Previdência Social passou a considerar a LER como uma doença profissional. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 1993).
Atualmente no mundo a tendência mais moderna para efeitos de atualização do fenômeno LER é a denominação DORT (distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Destacas o termo “distúrbios”, ao invés de “lesões”, no sentido de corresponder ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa fase precoce.
A pesquisa foi realizada na Empresa Coletivos Muriaeense Ltda atualmente apresenta 55 motoristas ativos, de ônibus coletivo de linha urbana e 21 afastados do trabalho por motivos diversos, entre os quais patologias neurológicas, osteomusculares, circulatórias e visuais.
Na pesquisa identificou-se alguns fatores que levam esses profissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por exigência da própria profissão. Dessa amostra – 55 motoristas –, 48 são destros e 7 são canhotos, sendo que estes encontram um pouco mais de dificuldade na profissão, devido aos veículos não serem adaptados, resultando maior esforço na realização das manobras e consequentemente, maior fadiga. Quanto ao tempo de profissão 3 (5%) tem entre 1 a 3 anos; 6 (11%) tem entre 3 a 5 anos; 9 (16%) tem entre 5 a 10 anos; 7 (12%) tem entre 10 e 15 anos; 6 (11%) tem de 15 a 20 anos e, 24 (45%) tem mais de 20 anos de profissão, conforme o Gráfico 2 abaixo. Em relação ao tempo de empresa 6 (11%) tem até 1 ano; 13 (25%) tem de 1 a 3 anos; 7 (12%) tem de 3 a 5 anos; 11 (20%) tem de 5 à 10 anos; 6 (11%) tem de 10 a 15 anos; 3 (5%) tem de 15 a 20 anos e, 9 (16%) dos motoristas tem mais de 20 anos de empresa, ou seja, estão na mesma profissão e na mesma empresa há mais de 20 anos.
Percebe-se que a grande maioria tem mais de 20 anos de profissão e consequentemente, sentem as consequências físicas, mentais e psicológicas de tantos anos exercendo a mesma atividade laboral, fazendo os mesmos movimentos diariamente (esforços repetitivos).
De acordo com a teoria estudada especialistas como Pegorim e Balistieri (1997) constataram que a profissão de motorista é bastante árdua e em função do desgaste da referida atividade laboral, propõem inclusive a (re) formulação da NR para garantir melhores condições de trabalho e segurança para esses profissionais.
A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade dos motoristas entrevistas, ou seja, 28 (51%) sentem alguma dor ou desconforto durante as horas em que estão trabalhando; 27 (49%) disseram que não tem nada, como mostra o gráfico abaixo. Quanto ao uso de medicamento a maioria 38 (69%) dos entrevistados disse não usar nenhum tipo de medicamento; 17 (31%) disseram que tomam algum medicamento. Os que afirmaram tomar algum tipo de medicamento 76% tomam analgésicos; 11% tomam medicação para hipertensão (Captopril entre outros) e, 13% disseram que tomam antiinflamatórios (Piroxicam entre outros). Presume-se que essa medicação seja receita por médico, até mesmo a empresa, já em conseqüência do desgaste da profissão. Foi perguntado também sobre afastamento por algum motivo e, 17 (31%) disseram que sim, desses 4 (22%) por LER/DORT; 3 (18%) por Hipertensão Arterial (pressão alta), o que implica sobremaneira na execução do trabalho do motorista além de representar alto risco, não só para o profissional, como também para aqueles que estão sob sua responsabilidade, que são os passageiros; 10 (60%) disseram que foram afastados das atividades laborais por um motivo ou outro, sem especificar. O restante, 38 representando 69% dos motoristas, responderam que nunca foram afastados por motivo nenhum, doença etc. Desses motoristas que disseram sentir dores e/ou desconforto, 2 (7%) disseram que sentem dores há aproximadamente 1 ano; 6 (21%) entre 1 e três anos; 6 (21%) de 3 a 5 anos; 5 (19%) de 10 a 15 anos; 1 (4%) de 15 a 20 anos e, 2 (7%) há mais de 20 anos. Aos que queixaram de sentirem dores e/ou algum desconforto a maioria, 19 (21%) queixaram de dores torácico-lombares; 11 (21%) de dores no ombro; 2 (2,3%) dores no cotovelo; 4 (4,6%) dores no punho; 4 (4,6%) dores na mão; 14 (16%) queixaram dores no quadril; 14 (16%) dores no joelho; 4 (4,6%) dores no tornozelo e, 17 (19%) queixou de dores no pescoço. Quanto à idade, a maioria dos motoristas entrevistados tem entre 40 e 50 anos, sendo assim distribuídos: 8 (15%) tem até 30 anos; 17 (31%) tem até 40 anos; 15 (27%) tem até 50 anos; 10 (18%) tem até 60 anos e, 5 (9%) tem mais de 60 anos. Mesmo com algumas queixas, todos gostam da profissão e muitos nunca tiveram outra atividade ocupacional, senão a de motorista.
A pesquisa mostrou que pelo excesso de estresses, conforme esclarece as literaturas citadas no conteúdo do trabalho, desencadeado por vários fatores, social, econômico, psicológico, mental etc., os motoristas vivem em constante pressão incluindo o número elevado de veículos automotores circulando pelas ruas da cidade, a falta de educação no transito etc., fazem com que esses profissionais fiquem em constante carga estressante e o ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado favorece ao aparecimento de doenças osteomusculares.
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