Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Uma ponte entre o hoje, o ontem e o amanhã
Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues

Resumo:
A ponte quase que somente liga hoje o Mosqueiro ao nada, Pronunciam alguns... nada disso: é uma voz do passado, cochichando Ao nosso ouvido: “Não deixem morrer nossas memórias!” E, se é uma ponte de memórias, um trapiche de lembranças, É também um convite a um mergulho, de um salto rápido, Não só nas águas da Baía de Marajó, mas uma imersão Nas águas passadas do tempo e do espaço, sob e em frente Deste monumento erigido por ingleses em 06/09/1908.

A ponte quase que somente liga hoje o Mosqueiro ao nada,
Pronunciam alguns... nada disso: é uma voz do passado, cochichando
Ao nosso ouvido: “Não deixem morrer nossas memórias!”
E, se é uma ponte de memórias, um trapiche de lembranças,
É também um convite a um mergulho, de um salto rápido,
Não só nas águas da Baía de Marajó, mas uma imersão
Nas águas passadas do tempo e do espaço, sob e em frente
Deste monumento erigido por ingleses em 06/09/1908.
Cem anos de nascimento, cem anos de ir-e-vir de pessoas...
E nada de batismo, um monumento anônimo,
Que ergue sua voz secular, vinda com os ventos ancestrais
Da Belle Époque Paraense, que o Ciclo da Borracha
Fez passear em trajes afrancesados e arquitetura requintada,
Da melancólica praia do Bispo até o doce recanto do Ariramba...
A transfusão de tempos nos vislumbra esta Ponte, pontas atadas
De um século e outro, do outrora ao agora, a lembrar
Que seu parto coincidiu com a chegada dos estrangeiros da Amazon River,
Da Port of Pará e Pará Eletric Railways Company,
Construtores dos chalés da orla de nossa bela Ilha.
Antônio Lemos ressuscita em nossa memória mosqueirense,
E esta ponte que não liga margem a outra ― liga tempo e memória―
Já testemunhou a atracação de centenas de navios-fantasmas...
Ponte a interligar a Ilha do agora àquela do outrora, do fim
Do Ciclo Áureo da Borracha, trapiche, atracadouro onde aportaram
Personagens navais que jamais devem mergulhar nas águas
Barrentas da desmemória: o vapor Gaivota, o mais antigo
Na linha Belém-Mosqueiro-Belém. A lancha Tucunaré, o saudosíssimo
Almirante Alexandrino, o Lobo Dalmada, o Lauro Sodré, o belo,
Luxuoso e elegante Presidente Vargas. Ei, psiu! Acorde de seu sono,
Sob estas águas! Mas... é impossível...
Muitas águas passadas, e o trapiche ainda sobrevive em seu eterno
Retorno de tentativas com outras embarcações: Otávio Oliva, Capitariquara,
Mazagão... E hoje, esporadicamente, surge nos horizontes da Baía
De Santo Antônio, como um mito vivo, eis de novo o intendente,
Antônio Lemos, um retorno ao passado, mesmo que raro, muito raro.
Importa é que nosso secular monumento anônimo ainda
Sobrevive, sem projetos, sem nome sequer, apesar de não ser mais
Metálico, ser de madeira, em estado de decadência que dá dó de ver...
Mas é um sobrevivente teimoso. Por isso venceu a outros, já extintos.
Na sua inglória luta temporal, sobreviveu aos trilhos do Ferril-Carril,
ao Cine Guajarino, ao Bonde Pata Choca.
Nasceram a Rádio Nacional, o Estado Novo. Veio Magalhães Barata,
eclodiram duas guerras mundiais, nasceu Brasília e a Rodovia
Belém-Brasília,chegaram os mega projetos desenvolvimentistas amazônicos,
O Milagre Brasileiro trouxe-nos a PA-391 e a Ponte Belém-Mosqueiro
                          ― para ofuscar o trapiche.
Veio a energia de Tucuruí, espantando visagens e assombrações...
O trapiche, caprichosamente, ainda está de pé, por assim dizer,
À revelia da ausência de projetos de melhoria de vida para a gente daqui da Ilha.
As águas passadas e as atuais não destruíram o trapiche anônimo:
As do futuro, então, o farão?
Ponte sem função? Não: perdeu uma função e ganhou outra: os namoros em flor!
O guerreiro já velho, cansado e calejado, de muitas batalhas, tanto ganhas
Quanto perdidas ― sem mais nenhuma por vencer―, talvez não queira mais,
Do mundo e das pessoas, nada mais que se mantenha dele, na memória,
Os tempos de glória, para o eternizarem. Jamais deseja o esquecimento,
Pois o esquecimento, este sim, significa a morte.




Biografia:
Desde que nasceu, vive em seu torrão natal, a ilha de Mosqueiro, lugar banhado por 23 praias de água doce com ondas, uma singularidade no mundo inteiro. Tem graduação em Letras-Língua Portuguesa (UFPA), Especialização em Língua Portuguesa e Análise Literária (UNAMA)e Mestrado em Letras-Estudos Literários (UFPA). Gosta de escrever Contos, crônicas de temática variada, principalmente ligadas à literatura. É artista plástico amador. Já publicou de modo artesanal os livros de poesia "Setembro em brasa" e Dimensons", além de ter participado da coletânea de poesia "Mosqueiro, pura poesia", organizada por Lairson Costa.
Número de vezes que este texto foi lido: 52995


Outros títulos do mesmo autor

Ensaios Tá Feio: ironia e irreverência na avenida Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Artigos Espaço ficcional em Ponte do Galo, de Dalcídio Jurandir Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Contos A luz Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Contos A lenda Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Poesias A uma pastora Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Poesias Bem baixinho... Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Poesias Uma ponte entre o hoje, o ontem e o amanhã Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Poesias Um certo Mário... em uma certa praia Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Poesias Uma certa dialética das coisas mínimas Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues
Resenhas Resenha do romance Ponte do Galo Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 14.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68968 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57889 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56707 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55783 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55021 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54898 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54828 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54798 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54707 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54698 Visitas

Páginas: Próxima Última