O GRITO E O ÁLIBI.
Quando alguém quer ser ouvido, grita. O que não necessariamente quer dizer que o grito esteja externando os fatos certos. Curioso.
Estou longe também de dizer que EU não grito ou que nunca exista motivos ou situações urgentes para gritos. O socorro e o protesto urgem muitas vezes de um grito para serem ouvidos.
E que, geralmente, quando estamos diante de pessoas que parecem optar por não aceitar alguma explicação e/ou verdade, o nosso sistema nervoso é acionado.
Por outro lado, existem as estratégias. Gritar injúrias, difamações ou calúnias podem inibir a outra parte. Exemplo:
- "Ei, você não atende o seu telefone nunca!"
Na realidade, provavelmente o contato com a pessoa que gritou é que é dificil. Em geral, com celular descarregado e/ou esquecido em algum canto da casa. Mas já acusar o destinatário da ligação é bem lucrativo, eis que se por infortúnio acontecer a dificuldade de contato, aquela exceção pode ser falso álibi da mentira de ser regra.
Outro exemplo:
- "Quem é esse cara que está te ligando?"
Válido como grito-estratégia nas situações em que na realidade, quem trai é quem está gritando. Mudando o foco, faz com que a sua namorada fique mais preocupada em não chateá-lo, como se ciúme fosse fidelidade.
No pesar da balança confesso que a minha opinião tende a classificar os gritos como estratégias de álibi que, na verdade, devem obter peso negativo. Pois, refletindo bem, há que se admitir que quando alguém com a razão grita, logo em seguida sente-se mal pela exposição de sua intimidade.
Corroborando essa linha de raciocínio, pense nessa face cruel do grito como publicação da sua intenção a terceiros, uma verdadeira estampa da própria ideia.
Eu posso gritar que o outro é um péssimo pai,e essa informação é a que será recebida por quem estiver perto no comodo, na rua, na vizinhança.
O grito, em geral, é uma arma para fracos e manipuladores , forma para tentar fazer a mensagem ser embutida no subconsciente alheio. O grito suga energia. O grito inibe, humilha, expõe.
Assim, a menos que seja extremamente necessário, respeite a privacidade alheia. Por mais que discorde de alguma coisa dos seus filhos, dos seus netos, do seu marido, da sua esposa, do seu namorado, do seu amigo, do seu funcionário...não comece a gritar o que lhe foi confidenciado. Não comece a gritar a intimidade alheia. Não tente humilhar.
Entendo cada vez menos os que frequentam uma igreja, e gritam. Entendo cada vez menos as pessoas esclarecidas que gritam ameaças e impauperios.
Mas, sem dúvida, se for um deslize, policie-se para não invadir a privacidade seja de quem for. Quando acontece o deslize do grito, certamente tente se cercar do cuidado de não estar colocando no megafone aquilo que está sendo dito, em tom normal, por exemplo, pelo telefone.
|