O bater de asas de um pássaro, seu jeito de voar, seu canto sem condição.
Atrapalhando o bordado, bem traçado em fundo branco.
Nada mais severo que um crucifixo,
balançando, pendendo, rugindo.
O corpo não serve pra nada, só peça pesada e frágil.
A alma não serve pra nada, segredo mal guardado escapando na engrenagem do ciclo.
o homem não serve pra nada.
Nada além da própria morte e angústia.
Um piano toca leve,
o mundo se afoga e o incêndio vai acabando.
Pra que servem os ossos quando não há ninguém para olhá-los?
Sentir, amar, orar e implorar.
negar e ser a negação.
Apodrecer velho e sozinho,
no final toda criatura morre sozinha.
O norte se torna sul,
cão se torna gato,
mulher se torna homem e que o diabo o carregue!
não levamos em conta a importância quando ela bate a porta,
sempre algo há mais pra se gratificar.
Flores apodrecem com o fim da música,
vida é coisa tola, seja lá ou seja aqui.
Renascer é benção dos mais livres,
indolores entes do pós-morte.
Quem nos condiciona são eles,
prostitutas inexistentes,
espírito retificado e bela amante perfumada,
Nunca tive nenhum dos dois.
A verdade única da vida não é somente a morte, pois
memórias não curam,
velhos não vivem,
e a bebida é remédio.
Celebrar, cruzar, deflagrar e ser feliz.
Ganância leva ao bem do homem,
mas acaba com o interior.
Bondade te dá um prazer ou outro, mas não faz parte,
cada um por si nessa terra.
Sempre foi assim.
Não se muda a corruptível natureza humana,
se adapta ou desiste.
Não se planta flor onde não nasce.
Eternidade é castigo,
e quem faz dela descanso é nume.
Retifica o espírito em procrastinação.
Torna a plena sabedoria do vil ente em feitiço.
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