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Cordélia Brasil
Antonio Magnani

Resumo:
Simboliza todas as mulheres que sofrem violência doméstica no Brasil e no mundo.



Depois de muito tempo eu resolvi contar a minha história, de acordo com o que aconteceu de verdade, peço que não me julgue e nem me atire pedras, pois penso que todos nós cometemos erros, mas ainda bem que existe o perdão.
Mamãe ficou viúva muito cedo com uma prole de filhos para cuidar. Ela trabalhava muito, mas mesmo assim a gente levava uma vida pobre e miserável. Até que um dia se engraçou com um segurança noturno chamado Bráulio, ele estava muito carente, pois foi abandonado pela mulher.
Mamãe apesar do sofrimento era uma quarentona bonita e Bráulio talvez tivesse quase 50, mas não aparentava idade, era forte, moreno, bonito, viril e com um olhar sedutor. E em pouco tempo este estranho chega em nosso ninho.
Enfim, com a chegada dele as coisas melhoram, até parecia um anjo que foi enviado do céu. Mamãe trabalhava durante o dia e ele a noite, os meus irmãos foram morar num sitio com os tios e eu com apenas 13 anos ficava sozinha naquela casa para lavar, passar e cozinhar.
Bráulio era muito carinhoso, encontrei nele um pai que nunca tive, e no final do mês quando recebeu o pagamento trouxe me um lindo vestido de chita e uma sandália vermelha. Mamãe ficou feliz pois ele me tratava muito bem, não somente a mim, mais a todos.
Depois de alguns meses, ele colocou em mim um apelido carinhoso, chamava-me de “cabritinha”, mas disse que era segredo só entre nós. E aos poucos ele foi aliciando a cabritinha, e ingenuamente eu sentava em seu colo e ele fazia miminhos e cafunés, confesso que era bom demais.
E aos poucos o “lobo mal” que não era mal, foi avançando aos pouquinhos, e no meu aniversário deu me uma festa e uma gargantilha de ouro, mamãe ingênua nunca percebeu nada, e estava feliz, pois encontrei nele, o pai que nunca tive.
Bráulio me olhava com aquele olhar carinhoso e sedutor, era um homem de pouca fala, mas quando abria a boca, me enchia de elogios, e dizia que tinha um corpo de sereia. Enfim, aos poucos fui me apaixonando por ele.
Num certo dia de inverno, ele chegou do trabalho e foi tomar banho e eu ainda estava na cama pois fazia muito frio. Ele ficou algum tempo debaixo do chuveiro, e como de costume saiu enrolado em uma toalha e foi deitar comigo, minutos depois me enchia de beijos, e naquela manhã o ato consumou-se.
Senti uma certa dor, mas senti muito prazer, senti-me amada, senti-me mulher, e depois entrei em pânico pois estava dormindo com o marido de minha mãe, mas ele disse, ficará somente entre nós. E passou meses, anos e o nosso romance secreto continuava, e sempre dizia: como é bom viver perigosamente e mamãe tão ingênua nunca percebeu nada.
Havia passado cinco anos, eu já estava com 18 anos, meu corpo tinha mudado, mas mamãe dizia que era próprio da idade. Quatro meses depois a barriga cresceu muito, não dava para esconder, estava grávida e tive que contar a verdade. Mamãe para evitar escândalo, registou o bebê no nome de um amigo da família, e esse amigo assumiu-me como mulher e registou o menino como seu filho. Mas como a mentira tem perna curta, o menino nasceu e tinha a cara do Bráulio, e em toda comunidade o segredo não era mais segredo. Mas mamãe sustentou a mentira por muitos anos, verdadeira artista da vida real.
Ela perdoou o Bráulio e viveu com ele até o fim da vida, e eu tive mais três filhos de homens diferentes, mas nunca saiu da minha memória o romance que tive com ele. Anos depois mamãe me perdoou, e disse que a culpa foi dela, por ter trazido ele para casa, mas para mim foi a melhor coisa que aconteceu. Enfim, essa é minha história real e verdadeira, sem omitir nada, chamo-me Cordélia Brasil, e até hoje, uma vez por semana vou ao túmulo daquele homem que me amou verdadeiramente. Já se passaram muitos anos e não me importo que todos conhecem a minha história e ainda comentam. Ando com o pescoço erguido, pois todos têm telhado de vidro. E isso me faz me lembrar as doces palavras de Jesus no encontro com a mulher adultera, “quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra”.

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