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Psicologia por Trás das Teorias da Conspiração
Giulio Romeo

As teorias da conspiração têm se tornado um fenômeno cada vez mais presente na sociedade contemporânea, sobretudo em tempos de instabilidade política, crises econômicas e avanços tecnológicos que modificam as formas de acesso à informação. A crença em narrativas conspiratórias — que afirmam a existência de grupos secretos manipulando eventos sociais, políticos ou científicos — não é recente, mas encontrou nas redes sociais um terreno fértil para sua disseminação.

Do ponto de vista psicológico, compreender por que indivíduos aderem a tais narrativas exige uma análise multifacetada que envolve aspectos cognitivos, emocionais, sociais e até mesmo inconscientes. Este trabalho busca investigar os fatores psicológicos que sustentam a crença em teorias da conspiração, discutindo suas implicações para a subjetividade e para a dinâmica social.

1. Fundamentos Cognitivos da Crença Conspiratória

A psicologia cognitiva sugere que a adesão a teorias da conspiração está relacionada a viéses cognitivos. Entre eles, destacam-se:

Viés de proporcionalidade: a tendência de acreditar que grandes eventos exigem grandes causas. Por exemplo, a morte de uma figura pública raramente é vista como acidente, mas como resultado de uma conspiração elaborada.

Padrão ilusório: a tendência de perceber conexões e padrões mesmo em situações aleatórias. O cérebro humano, treinado para detectar regularidades, pode “criar” sentido onde há apenas acaso.

Viés de confirmação: a busca seletiva por informações que confirmem crenças pré-existentes, ignorando evidências contrárias.

Esses mecanismos cognitivos, que são parte do funcionamento natural da mente, tornam o indivíduo suscetível a narrativas simplificadas que prometem explicar o complexo.

2. Aspectos Emocionais e Existenciais

Além dos fatores cognitivos, as teorias da conspiração cumprem uma função emocional importante. Pesquisas indicam que elas oferecem uma sensação de controle psicológico em contextos de incerteza. Ao acreditar que “alguém está no comando”, mesmo que de forma malévola, o indivíduo reduz a angústia diante do caos e da imprevisibilidade.

Do ponto de vista existencial, teorias conspiratórias oferecem:

Explicações para o inexplicável, reduzindo a ansiedade diante de tragédias ou mudanças abruptas;

Um inimigo definido, o que facilita a canalização da raiva e da frustração;

Um senso de pertencimento, já que comunidades conspiratórias funcionam como grupos de apoio que compartilham uma visão de mundo alternativa.

3. A Dimensão Social

As teorias da conspiração não existem em um vácuo individual, mas se alimentam de contextos sociais e políticos. A psicologia social observa que:

Identidade grupal: acreditar em conspirações reforça a coesão de determinados grupos, criando uma fronteira entre “nós” (os que sabem a verdade) e “eles” (os enganados ou manipuladores).

Desconfiança institucional: sociedades marcadas por corrupção, desigualdade ou falta de transparência tornam-se terreno fértil para narrativas conspiratórias.

Efeito das redes sociais: algoritmos que reforçam bolhas informativas intensificam a circulação de conteúdos conspiratórios e reduzem a exposição a pontos de vista divergentes.

4. Perspectivas Psicanalíticas

A psicanálise também contribui para a compreensão do fenômeno conspiratório. Freud já discutia a necessidade de o sujeito lidar com angústias internas projetando-as em inimigos externos. As teorias da conspiração podem ser vistas como uma forma de projeção psíquica, onde conteúdos inconscientes (medo, desamparo, hostilidade) são deslocados para “forças ocultas” no mundo externo.

Além disso, o mecanismo do bode expiatório é fundamental: grupos minoritários, governos, elites ou corporações são investidos como culpados por males sociais, funcionando como receptáculos do mal-estar coletivo.

5. Riscos Psicológicos e Sociais

A adesão exagerada a teorias da conspiração pode gerar consequências negativas, como:

Isolamento social, devido à ruptura de vínculos com pessoas que não compartilham da mesma visão;

Radicalização política, favorecendo movimentos extremistas;

Prejuízos à saúde mental, como aumento da paranoia e da desconfiança generalizada;

Resistência a evidências científicas, impactando diretamente em áreas como saúde pública (exemplo: movimentos antivacina).

As teorias da conspiração, embora muitas vezes vistas como excentricidades, revelam aspectos profundos do funcionamento psicológico humano. Elas atendem a necessidades cognitivas, emocionais e sociais, oferecendo uma narrativa simplificada e reconfortante em meio à complexidade da vida contemporânea.

Para a psicologia, o desafio está em compreender sem ridicularizar, reconhecendo que tais crenças emergem de mecanismos mentais universais. O combate às teorias da conspiração, portanto, não deve ser apenas pela via da informação, mas também pela promoção de educação crítica, fortalecimento de vínculos sociais e acolhimento das ansiedades existenciais que tornam essas narrativas tão sedutoras.

Assim, estudar a psicologia por trás das teorias da conspiração é também estudar a condição humana em sua busca incessante por sentido, segurança e pertencimento em um mundo marcado pela incerteza.

Em última instância, as teorias da conspiração podem ser compreendidas como sintomas de uma condição existencial contemporânea, na qual a busca por sentido confronta-se com a fragmentação do real e a sobrecarga de informações. Sob o ponto de vista psicológico, elas funcionam como narrativas compensatórias que preenchem lacunas cognitivas e emocionais; sob o ponto de vista filosófico, remetem à necessidade humana de transcender o absurdo e instaurar ordem no caos. A crença conspiratória, nesse sentido, não é apenas um erro de julgamento, mas uma expressão da vulnerabilidade do sujeito frente à incerteza, ecoando a tensão entre liberdade e determinismo que atravessa tanto a psicologia quanto a filosofia.

Reconhecer essa ambivalência permite compreender que a adesão a tais narrativas não pode ser reduzida à irracionalidade, mas deve ser situada na condição trágica de um ser que, diante da complexidade do mundo, inventa histórias para poder suportá-lo.


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo, Terapeuta TCC, Filósofo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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