UMA LEMBRANÇA DEBRUÇADA NA JANELA
Cai uma chuva fina na cidade.
Se eu não estivesse na rua,
nem ousaria sair de casa.
Ficaria com minha saliva aflita,
com minha solidão.
Dialogaria comigo mesmo
por horas intermináveis.
A inércia do quarto compreende bem
os tremores dos meus desejos,
porém estou passível de mudanças.
As luzes dos prédios ferem meus olhos.
As pessoas reunidas nos bares,
os carros nas ruas,
os ambulantes nas calçadas...
incomodam meu pensamento que atravessa muralhas.
Falta uma peça importante no meu tabuleiro de xadrez.
O deserto do mundo é só meu.
Parece que fui ao baile errado
e a fantasia estava ultrapassada.
Sento no paralelepípedo,
contemplo a cena sem sentido.
As horas correm como tartarugas aleijadas.
Pra onde foi o rosto
que desencadeou este estado de carência emocional,
esta dor em meu olhar?
Sem o sorriso que seduziu minha boca,
a noite não tem graça,
não tem coloração.
Desço a rua.
Caminho sem meus pés.
De longe,
avisto minha janela aberta
com suas cortinas esvoaçantes...
Volto pra casa sem respostas,
com um aperto indefinido no coração,
com uma coisa estranha presa no peito,
com lágrimas medrosas nos olhos perdidos.
Deve ser Saudade.
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Biografia: Resumo
Júlio Corrêa, nascido no Rio de Janeiro, é ator, poeta e escritor, formado em Letras – Português/Literatura, pela UNISUAM, publicou os livros de poesias: “Íntimas Sensações” e “Substantivo Desvairado-Sedutor”, destacou-se em diversos concursos literários, é integrante do Circuito Literário Conversa com Verso (grupo de poetas da Zona Oeste do Rio), coordenador do concurso de poesias da Casa do Marinheiro. |