Alguém num saxofone sem querer criou a trilha sonora de um fim de tarde de um sábado de sol em pleno minhocão, trazendo aos rostos cobertos pelas máscaras um pouco de alegria estampada nos olhares, desabrochando um sentimento contido em tempos de confinamento e distanciamento. Alguém em seu antigo e diminuto apartamento trouxe aos passantes este respiro, essa nostalgia misturada a uma melódica esperança, nascida das notas graves e suaves temperadas nos corpos que se detinham para ouvi-lo. Não rompeu o asfalto, mais diminuiu o tédio, sucumbiu o nojo e fez desaparecer temporariamente o ódio, como no poema de Drummond. Casais e senhoras com seus respectivos cachorros, amigos bebendo e conversando sentados no guard rail, meninas e meninos com suas bikes, skates e patins, alguns corredores de fim de semana e famílias inteiras passeando no elevado, cada qual em seu canto e em cada canto uma dor amenizada, diminuída... toda a fauna diversa que o centro abriga...todos ouvindo a melodia criada num dia de sol, feita por alguém anônimo em seu apartamento...trazendo um encantamento gratuito invadindo os ouvidos e sentidos, pedaços de uma maravilha sonora transformada em música para celebrar a vida.
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