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Charles Aznavour parecia ter fixação nos seus vinte anos. Eu também tive, não fixação, mas vinte anos. Foi quando cheguei ao Rio . Cidade desconhecida, indiferente à minha chegada , é claro. Eu era um jovem cheio de sonhos, mas muito pouco objetivo. Que será que esperava eu da vida? Não lembro, talvez não esperasse nada, ou somente um pouco de conforto ou alguns trocados no bolso para comer todas as pizzas, que me reclamara o estômago, até então.
Calma, nunca passei fome, só carência daquelas iguarias meio sofisticadas, na época, e tão comuns e acessíveis hoje em dia. Pizza é comida de pobre, não é mesmo? Ricos comem champigon, escargots, coq au vin e de sobremesa macedoine de fruits au liqueur. Ou seja uma feijoada estilizada, podre de chique.
Dessas daí de cima , só excluo os escargots, porque os outros utilizo sempre no meu cardápio , já que nem são mais caros que aqueles com sotaque carioca. Aliás, os franceses , para a minha percepção, são muito esnobes, como se o cocô deles fosse Chanel.
E daí, hier encore, mas muito encore mesmo, eu tive vinte anos com uma certeza incerta de que o mundo não tinha nada a ver com meus sonhos e, na verdade, não era culpado por eles povoarem as idiotices do meu cérebro. Não lamento a não realização de quase todos, pois minha idade atual, logicamente não os aprovaria pelas suas irrelevâncias ou falta de seriedade.
O filme havia acabado e as pessoas, ao saírem do cinema, só levaram para casa o resto das pipocas que sobraram no saco.
Rio, 20/02/2021
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