Vivemos um ano atípico e sui generis em que a quarentena nos fez escravos do lar, sedentários e comilões, mas arejou nossas cabeças, dada a mente transitar por caminhos antes não trilhados, deixando o espírito mais receptivo ao bem, diante da constatação de nossa enorme pequenez. Sim, creio que o humano ser melhorou em muitos aspectos, porém exacerbou os seus sete pecados capitais: gula, avareza (compulsoriamente), inveja (do passado), ira (irritação com os familiares amados), soberba ou vaidade, luxúria e preguiça. Lawrence George Durrell, autor da tetralogia Quarteto de Alexandria, dizia que o homem é uma vaidade sobre um par de pernas. Nunca tive noção exata dessa assertiva, só podendo constatar durante esta prolongada quarentena junto a alguns queridos amigos e conhecidos, nos momentos em que até se presenciava alguns cultos ao ego. Seria a síndrome do apagão individual quarentenário que reprime o ser para a explosão do ego na necessidade de aparecer a qualquer custo ou pretexto? E à sombra da estatura desse ser ante os percalços causados pela pandemia, não perdoando o destino, ele blasfema maldizendo a sorte, sob todos os aspectos, pelos estorvos a tolher-lhe às festividades de final do ano?... Sempre se ouviu a humanidade reclamar por falta de tempo. E Agora?... Em casa... No máximo em “Home Oficce”? O que dizer? O tempo de “Chronos” poderá passar ao largo, aquele que às vezes nos oprime com seu peso de “velocidade inercial”, mas o tempo de “Kairós”, a representar gozos, regozijo e sonho, é precioso... Considerando que a pandemia matou muita gente e continua matando, em situações dramáticas e lamentáveis, é muito entristecedor, esse tempo, porém jamais me deixei levar por devaneios histéricos. Assim, meu Natal será Natal como sempre foi.
Laerte Tavares
|