Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
No trânsito, a cidade.
Gladyston costa

Chove muito em Sampa, bom para ficar fazendo nada... Até parece! É ruidoso o som dos pneus sobre a água no asfalto, final de novembro, em meio à primavera começam os enfeites de natal. Trânsito intenso, o corredor norte sul é algo sobre o qual se escuta no rádio do carro a toda hora, a Avenida Tiradentes faz parte. Em fila indiana e velocidade próxima a zero, o anda e para, um mar de carros, ônibus e motocicletas espremidos duelam por espaço. O relógio marca oito horas da manhã em frente à pinacoteca e os prédios velhos ao redor compõem a paisagem. As paredes altas escondem o horizonte mais além, ocultam o céu cinzento dos olhos. Prédios esculpidos ao longo do tempo, com suas janelas simetricamente empilhadas contam a história da cidade e das pessoas. A incessante chuva que cai, o asfalto molhado e o tempo roubado pelo trânsito lento, convida o pensamento a visitar o interior oculto por cada janela desses prédios. As pessoas são somente pessoas quando vistas em marcha apressada pelas calçadas do centro velho, mascaradas pelas paredes como são? As janelas das salas e quartos pelo caminho são como os olhos de uma imensa máscara, guardam essa gente lá dentro. As pessoas em suas camas e mesas de jantar estão despidas do mundo além das paredes. Lá fora, em meio ao mar de carros, em meio aos passos das pessoas nas calçadas, com seus guarda-chuvas, a multidão tem apenas um rosto. Vistas da avenida as janelas personalizam a paisagem urbana e então, como num filme, os quartos e salas exalam vida. Apesar da frieza e dureza impregnada no horizonte curto de concreto, almoços e jantares, choros e risos, cenas de amor e sexo, por trás das paredes a vida acontece. Mas, num ato de contradição, nada disso é real, a paisagem dura não cede e impõe a sensação de impessoalidade, isolamento e solidão. No entanto, há vida oculta nesses espaços, há gente que vive em meio ao transito caótico em dias de chuva. Um dia como tantos outros. Certamente nesta manhã de quinta, há café e pão sobre as mesas, há quem se prepara e veste o uniforme dos colégios, das empresas, dos afazeres e tudo mais. Essa gente toda nas ruas, nos carros, pelo caminho, sem suas máscaras são apenas mais um rosto, apenas um semblante, mas existem de fato. Em meio à multidão as histórias diluem-se e sobressai à solidão, a contradição entre o ser e o imaginário. Nascer, viver e morrer na avenida, o trânsito lento, a chuva que cai, os prédios com suas janelas empilhadas, alguns minutos no semáforo e a crônica de uma vida inteira. A cidade é uma máquina de comer gente, de comer histórias de gente, onde as pessoas pelas ruas compõem um todo uniforme. Ocultas em suas salas e quartos, as pessoas são indivíduos, existem de fato e personalizam a sua existência. O dia segue e mais à frente a passagem sob o Anhangabaú escancara a boca para sorver os carros, o ruído da cidade é de ensurdecedora monotonia. Chove! Dia bom para ficar fazendo nada.
Gladyston Costa


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 61676


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Porco tem alma? Gladyston costa
Poesias LUA E CIDADE Gladyston costa
Poesias MINHA QUERIDA DAMA DA NOITE Gladyston costa
Poesias Sobre a noite e a ciência Gladyston costa
Poesias Flor de Arueira Gladyston costa
Poesias Paredes Gladyston costa
Poesias Acidez e Mariposas Gladyston costa
Poesias "Reluzente " Gladyston costa

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 41 até 48 de um total de 48.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Idéais - valmir viana 62354 Visitas
Poema para um mortal. - Poeta do Amor 62348 Visitas
Linda Mulher - valmir viana 62348 Visitas
Oh,filhos deste dia - Kelen Cristine N Pinto 62346 Visitas
Jogada de menino - Ana Maria de Souza Mello 62343 Visitas
Canção - valmir viana 62343 Visitas
A RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E ARTE, CULTURA E NÃO-CULTURA - ELVAIR GROSSI 62336 Visitas
Soneto Sofrido - Poeta do Amor 62335 Visitas
Sucesso e Fracasso - Paulo R Rezende 62333 Visitas
Um conto instrumental - valmir viana 62330 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última