Já faz um bom tempo em que os casos policiais de maior repercussão na imprensa, onde aparece uma mulher morta misteriosamente, o suspeito número um, o indiciado e o que sempre vai preso é o marido dela.
A maioria dos casos não tem provas materiais, somente uma série de indícios do tipo “ele brigou com ela na lua de mel” ou “ele esqueceu o dia do aniversário dela” ou o mais contundente, o mais indefensável “ele reclamava para ir ao supermercado”. Esse último indício, meu amigo, faz uma junta de advogados largar o teu caso e te deixar com a Defensoria Pública.
A situação está tão preocupante, que o Vaticano já está preparando um pronunciamento oficial para tentar salvar a instituição casamento (já há uma diminuição preocupante do número de casamentos em função deste fenômeno), e quem sabe até criar uma nova doutrina, obrigando que cada casal tenha seu respectivo amante, para servir como bode expiatório para qualquer crime que possa ter um dos casados como suspeito.
A polícia alega que seus inquéritos se baseiam em investigações, depoimentos, experiência e procedimentos científicos e que descobriram uma forma de resolver o caso sem sair da delegacia.
“Nós não temos culpa do cara ter casado com uma “mocréia” e ela aparecer morta, justo no dia que ele resolveu dar uma escapadinha”.
Eu acho que a polícia tem uma cartilha pronta para cada caso, baseado em estatísticas anteriores, que dá uma maior agilidade às resoluções dos casos.
Se o sujeito apareceu morto por afogamento, só pode ser o entregador de água mineral.
Se foi morto com a garganta cortada, foi o barbeiro (mas foi um acidente num atendimento a domicílio).
Se aparece esquartejado, é lógico que foi o açougueiro.
Se foi morto e estuprado, foi o próprio filho para se vingar do fato de ele viver comendo a mãe do menino.
Se morreu enforcado, dá uma olhada se os carnês estão em dia.
Se morreu por parada cardíaca, é a amante gostosa.
A cartilha é longa e dá uma lista enorme.
Eu confesso para vocês que pensei mil vezes antes de escrever esse texto, pois (deus me livre), se acontece algo com a minha mulher, eles ainda vão dizer que eu, além de suspeito, era um sádico que editou o plano diabólico numa crônica.
Se acontecer uma coisa com a minha mulher, façam qualquer coisa para fazer justiça, mas pelo amor de deus, não usem essa cartilha.
Sérgio Lisboa
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