Deserdada da benção de sentir nascer-me as asas,
aqui nesse poema não penso que voo.
Só penso em você. Só vejo a você,
e de teus pés desprender-se um beijo à terra.
De momento em momento, nos lugares altos e por toda árvore verdejante descubro-o oferecendo perfumes.
Se foi o Amor que convocou-o a segui-lo, eu também quero ir, quero sim, o tempo está a terminar
e estou ameaçada de andar por aí não sei em que caminhos.
Deixa-me antes tomar goles de orvalho,
secar-me-ão os lábios cada vez que levantar meus olhos, pois sei que provarei a sede do tempo das preces, quando suspirando em meio de minhas lágrimas, oro.
Eu entardecerei, seguindo-o com o olhar, até que toda tua pessoa desça ao chão do pomar, quando tomará sua refeição de frutas da estação - peras, maçãs, goiabas - arrumadas sobre a toalha apropriada.
Depois, quando exausto de acariciar o seio das flores tu caires, eu junto de ti cairei, sem que perceba-me florida.
Demorar-me-ei assim, paralisada com a formosura do teu semblante, olhando-te mais que todos os olhos olharam, vencida por um sentimento gigante.
E se quando tu despertares, acontecer de ver-me diante de ti em inclinação, como que criada para não ter medo de nada, na noite, em teu sonho, retrata-me num jardim perfumado, como uma pessoa deslumbrante de espírito, mas despida da vaidade de ser admirada;
no máximo, revela em tom rosa minha boca em doçura a cantarolar a canção que fala-nos do Amor.
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