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Buquê de folhas
Matilde Diesel Borille

Dia a dia, o chão do nosso quintal enchia-se de folhas. E minha mãe, em sete dias cinzentos, sete vezes tomava em suas mãos uma vassoura gasta e varria.
O ar outonal deixava minha mãe reflexiva e confusa. Confusa, porque ela cuidava do pátio ficar branco até nos dias de chuva.
O humor do meu pai não variava conforme as estações. Variava conforme o dinheiro ia entrando e saindo dos seus bolsos.
Passei seis anos caindo como as folhas e amadurecendo como os frutos.
No sétimo, minha mãe adoeceu e o médico da família veio vê-la. Deixou uma receita e muitas recomendações.
- Tua mamãe não pode fazer os serviços da casa nem se aborrecer.
Sobrou pra mim. Passei a gostar de vassouras e de folhas.
- Puxou a mãe essa menina. - Acho que era isso que as pessoas pensavam a meu respeito.
Enfim, meu oitavo outono chegou.
- Escolha um presente.
Papai gostava de dizer esta frase e eu adorava ouvi-la.
- Disseram-me que é linda a vida de uma floresta, quero visitar uma.
E lá fui eu espiá-la pela fresta.
Caiu uma folha em cima de mim.
_ Dá licença, este lugar é meu.
Falou uma folhinha penugenta, triste por ter caído.
Papai não ouviu a voz da folha. Se fosse a mamãe que estivesse lá teria ouvido.
Dei um passo para trás, perguntando-me se deveria entrar. Nisso um galho folhudo me convidou para adentrar o seu mundo.
Agradeci por ter sido convidada.
Diante dos meus olhos: folhas, folhas, folhas.
Milhares de milhares de folhas. Verdes, vermelhas, amarelas e algumas lindamente prateadas.
E na beleza da floresta, coroada com folhas onduladas, descobri que algumas nem mesmo pareciam folhas, tendo se tornado pétalas. Outras, cobertas de lanugem, pareciam bichinhos peludos e macios.
Folhas são muito importantes, meu pai dizia que elas transformam luz em vida.
Em uma homenagem a todas, juntei algumas folhas do chão, inclusive a penugenta que caiu sobre minha cabeça na chegada e dei a elas um adorável arranjo.
No dia seguinte, levei o buquê de folhas para a professora.
As tardes de sol eram raras. Mas naquele dia o sol brilhava e o céu estava azul. A professora, feliz com o presente, convidou a turma toda para passear no jardim.
Sentamo-nos sob uma árvore despida quase que totalmente de suas folhagens.
Enquanto as outras crianças estudavam dentro de suas salas de aula eu e meus colegas aprendemos do lado de fora de nossa escola que não é nada fácil a vida de uma folha.
Depois desse aprendizado, sempre que a tenho diante dos olhos, esteja ela pendurada em um galho ou adormecida no chão, olho para ela com respeito e ternura, porque aprendi que há muito de extraordinário em uma folha.
Os anos se passaram, dezenas de outonos já se passaram.
Entreguei os cuidados do meu jardim a um jardineiro e a um menininho, que todas as tardes, quando acabam as aulas, vem brincar no meu jardim.
Mas o menininho diz que não gosta de folhas como eu. Prefere as flores.
Não sabe ele que não se chega a amar as flores sem antes ter gostado das folhas.


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