Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Buquê de folhas
Matilde Diesel Borille

Dia a dia, o chão do nosso quintal enchia-se de folhas. E minha mãe, em sete dias cinzentos, sete vezes tomava em suas mãos uma vassoura gasta e varria.
O ar outonal deixava minha mãe reflexiva e confusa. Confusa, porque ela cuidava do pátio ficar branco até nos dias de chuva.
O humor do meu pai não variava conforme as estações. Variava conforme o dinheiro ia entrando e saindo dos seus bolsos.
Passei seis anos caindo como as folhas e amadurecendo como os frutos.
No sétimo, minha mãe adoeceu e o médico da família veio vê-la. Deixou uma receita e muitas recomendações.
- Tua mamãe não pode fazer os serviços da casa nem se aborrecer.
Sobrou pra mim. Passei a gostar de vassouras e de folhas.
- Puxou a mãe essa menina. - Acho que era isso que as pessoas pensavam a meu respeito.
Enfim, meu oitavo outono chegou.
- Escolha um presente.
Papai gostava de dizer esta frase e eu adorava ouvi-la.
- Disseram-me que é linda a vida de uma floresta, quero visitar uma.
E lá fui eu espiá-la pela fresta.
Caiu uma folha em cima de mim.
_ Dá licença, este lugar é meu.
Falou uma folhinha penugenta, triste por ter caído.
Papai não ouviu a voz da folha. Se fosse a mamãe que estivesse lá teria ouvido.
Dei um passo para trás, perguntando-me se deveria entrar. Nisso um galho folhudo me convidou para adentrar o seu mundo.
Agradeci por ter sido convidada.
Diante dos meus olhos: folhas, folhas, folhas.
Milhares de milhares de folhas. Verdes, vermelhas, amarelas e algumas lindamente prateadas.
E na beleza da floresta, coroada com folhas onduladas, descobri que algumas nem mesmo pareciam folhas, tendo se tornado pétalas. Outras, cobertas de lanugem, pareciam bichinhos peludos e macios.
Folhas são muito importantes, meu pai dizia que elas transformam luz em vida.
Em uma homenagem a todas, juntei algumas folhas do chão, inclusive a penugenta que caiu sobre minha cabeça na chegada e dei a elas um adorável arranjo.
No dia seguinte, levei o buquê de folhas para a professora.
As tardes de sol eram raras. Mas naquele dia o sol brilhava e o céu estava azul. A professora, feliz com o presente, convidou a turma toda para passear no jardim.
Sentamo-nos sob uma árvore despida quase que totalmente de suas folhagens.
Enquanto as outras crianças estudavam dentro de suas salas de aula eu e meus colegas aprendemos do lado de fora de nossa escola que não é nada fácil a vida de uma folha.
Depois desse aprendizado, sempre que a tenho diante dos olhos, esteja ela pendurada em um galho ou adormecida no chão, olho para ela com respeito e ternura, porque aprendi que há muito de extraordinário em uma folha.
Os anos se passaram, dezenas de outonos já se passaram.
Entreguei os cuidados do meu jardim a um jardineiro e a um menininho, que todas as tardes, quando acabam as aulas, vem brincar no meu jardim.
Mas o menininho diz que não gosta de folhas como eu. Prefere as flores.
Não sabe ele que não se chega a amar as flores sem antes ter gostado das folhas.


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 61685


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Cicios celestes Matilde Diesel Borille
Poesias Notas de coração de flor Matilde Diesel Borille
Poesias Enigma transcendente Matilde Diesel Borille
Poesias Absolutamente em amor Matilde Diesel Borille
Poesias Mulher em flores azuis Matilde Diesel Borille
Infantil O que há lá fora vovô? Matilde Diesel Borille
Poesias Fios de sóis Matilde Diesel Borille
Infantil Sentimento de criança Matilde Diesel Borille
Poesias Além do verde dourado Matilde Diesel Borille

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 61 até 69 de um total de 69.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
A menina que sonhava ser professora - maria moreira do nascimento 18 Visitas
Brincadeiras folclóricas - Jaid Antonio Ribeiro Waishaupt 9 Visitas

Páginas: Primeira Anterior