E a cada dia aguentamos,
Desabotoando nossa visão,
Desde sempre nos vendamos,
Está aqui, nossa nojenta tradição.
Ficamos aguardando até acontecer,
Sempre sentados ao mesmo sofá,
Todos os dias o nosso rumo é descer,
Ao abismo de tudo que nos abafará.
O que foi o primeiro ato,
Agora se desevoluiu para o nascimento,
Nunca concordamos com o fato,
E sem lembranças temos o esquecimento.
Nossas lembranças, fogo do nosso passado,
Nossa história, labareda do nosso presente,
Se revivemos memórias ruins, o passado nós faz de assado.
Se revolucionamos agora, um futuro para o povo resistente.
E nas lágrimas de sangue que corre,
No nosso rosto as feridas oculares,
E ao cegar-se o cego morre,
E aos que sofrem, bares.
Na turgida visão, vê-se um salvador,
Aqueles que com lembranças vive,
Vê algo que é e foi destruidor,
E na luta contra ele, que motive.
Motive aos que não tem essa memória,
Pois não sabem o que é sofrer por isso,
E tem o estudo da história,
Para nunca submeter-se a ser submisso.
E agora a história se repete,
Um novo Pinochet tirando os panos,
E a democracia um crime comete,
O autoritário desumano elege-se por "humanos".
Essa é a nossa nojenta tradição,
Repetir redundantemente o mal,
De tempos em tempos perdemos a noção,
E sem noção, no carrasco jorramos nosso sangue em seu avental.
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