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Naufrágio
marilia betarello

Era uma pessoa muito apaixonada pela vida.
Mas em um certo período estive triste e sem perspectivas. Andava, andava vagamente, sobrevivia. Tudo fazia sem muito propósito. Sentia-me vazia.
Até que me deparei com o amor da minha vida e fui tomando doses homeopáticas e suprindo esse vazio sentimental. Aos poucos sentia-me feliz e confortável. Era o amor da minha vida, materializado em carne e osso.
Por tempos ficamos juntos, fazíamos tudo um com o outro. Para mim, tudo fazia sentido, tudo estava perfeitamente bem. Meu vazio estava sendo preenchido. Mas o tempo passou e esse vazio não parava de se preencher, preencheu-me demais e transbordou. Sufocou. Eu tentava me enganar de que aquele sufoco estava me fazendo bem. Eu queria mergulhar naquilo que estava me afogando, como se tivesse perfeitamente correto.
Havia apenas uma coisa que fazia eu me sentir liberta, fazia todas as noites.
Olhava para a lua e não entendia o porquê me sentia tão confortável em olhá-a. Parecia que ela me convidava para algo. Que estava querendo me dizer algo.

Foi então que quis de modo súbito ver o mar. Saindo do interior dessa grande nau chamada continente, fomos ao litoral. Ao sentir a maresia, aquela matéria não palpável, sensorial, conectava-me ao divino. As ondas me enamoravam naquele vai-e-vem. Esse ritmo parecia que convidava-me para uma dança eterna.
O barulho das ondas cantavam nos meus ouvidos e ecoavam em minha alma. Poderoso Netuno, poderosa Iemanjá, eu posso senti-los e escutá-los.
Comecei então a olhar para aquelas águas vívidas praticamente infinitas. Fiquei ali por horas apenas sentada na areia, sentindo-me apenas mais uma partícula daquela areia. Sou poeira cósmica.
Já havia escurecido, então a lua apareceu e como cupido percebi que o mar me chamara. Ele estava diante de mim, convidando-me para preencher-me. Foi então que percebi eu o queria. Queria muito.
Queria ser possuída e possuí-lo. Nada fazia mais sentido para mim.
Então, me levantei e caminhei até as primeiras ondas e fui andando, me aprofundando, sentindo meu corpo ser levado. Tentei relutar no início, mas deixei que me levasse. Eu queria aquilo, queria ser preenchida, inundada, afogada por ele, pelo mar.
Percebi naquele instante que o vazio que eu sentia não poderia ser preenchido por nenhum ser matéria de carbono e amoníaco. Apenas pelo mar, matérias volúveis. Sempre procurei me completar com relacionamentos que apenas me afogaram com sentimentos. Nenhum mortal seria capaz disso.
Portanto, me permiti ser inundada e preenchida pelo mar…
E aos poucos fui sentindo ser tomada por ele. E aos poucos fui fazendo parte daquele enorme volume maleável marítimo.
Meu defeito foi amar o mar.


Este texto é administrado por: Marilia Betarello Ramalho
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