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Memória de uma próstata.
Antonio Magnani

Resumo:
O que os homens pobres, negros e semi-analfabetos, sofrem na fila do SUS como problema na próstata.

Memória de uma próstata.


Depois de pensar mil vezes, resolvi sair do anonimato, e contar a minha história tal como aconteceu. Penso que "my boss" até aos 54 anos, nem sabia que tinha uma próstata e nem qual era a sua função.Hoje se sabe alguma coisa, é porque procurou informar-se no "oráculo" Google.
Num exame de rotina ao Cliníco Geral, toda atenção foi voltada a mim, pois acusou que eu não estava bem, pois o PSA estava altíssimo, sigla desconhecida até aquele momento. Derepente sai do esquecimento, e agora estou debaixo "das luzes da ribalta". Tudo para nós é novo, e o desconhecido causa um certo pavor.
O médico com pouca paciência e nenhuma sensibilidade humana, não nos disse nada, apenas escreveu para fazer um exame, "urgente urgentíssimo" com uma ortografia ilegível, pois o caso é para um urologista. Mas teríamos que guardar pacientemente até ser marcado a consulta pelo maravilhoso sistema de saúde: SUS.
Meu dono assustado fez algumas perguntas ao doutor, mas ele respondeu com meia dúzias de palavras, na verdade deixou-nos mais confuso ainda.
Fomos pra casa, e não paramos para refletir sobre o assunto, afinal, meu dono como faz a cada dia, "retoca a maquilhagem, cria coragem, pois o show da vida tem que continuar". Afinal se eu sorrir o mundo inteiro vai sorrir comigo, mas se chorar chorarei sózinho.
No outro dia cedo, ao tocar o telefone, uma mulher com voz aveludada, disse que a consulta estava agendada para quinta-feira às 14 horas. E lá fomos nós, enfrentar o mal humorado médico do SUS, depois de um longo tempo de espera.
Ele no primeiro instante foi até amigável, deu um sorriso profissional, olhou rapidamente os exames e também não disse nada. E disse que tinha que fazer o toque retal. Ficamos corados de vergonha, mas afinal disse que era um procedimento normal, para ver a minha textura. E pela primeira vez fui tocada, e segundo o seu parecer eu estava aumentada. Será que engordei com o passar dos anos? Pensei maldito "fast food".
Novamente ele pediu um monte de exames, e escreveu :"Urgente Urgentíssimo". Fizemos os exames e sempre há um tempo de espera e voltamos novamente ao urologista. Ele olhou, olhou, olhou, pensou, pensou,pensou e não disse nada. E pediu uma biópsia que pelo SUS que demora em média de um a dois anos, segundo disse-me a funcionária em segredo.E balbuciou: "Procure ajuda na Defensoria Pública". Meu dono perguntou porquê fazer uma biópisa? E urologista responde com meias palavras: "Para descartar o câncer."E a consulta encerra-se aí. Fomos para a casa, em prantos, afinal essa palavra que nem quero pronunciar, assustou-nos e choramos a tarde inteira, perdemos o sono e a fome. E estamos cá esperando a leste do paraíso.
E como diz o ditado popular: "Erro de médico a terra cobre", os médicos são humanos e mortais e não são semi-deuses, e o que apenas parece saber fazer, é medicar remédio, que apenas remedia. Meu dono foi buscar uma segunda opinião: e só aumentou a confusão. São todos iguais" farinha do mesmo saco".
Este outro urologista, também não deu muita explicação,pediu novamente um monte de exames e gastei um dinheiro que não tinha. Conclusão sem muita explicação apenas passou um remédio chamado "Duomo" para tomar por 90 dias e voltar lá depois. Essa droga feita em laboratório, causa muito efeito colateral e ambos passamos mal a cada dia. E ele não nos disse nada sobre esses malditos efeitos colaterais: Causou nos tontura, dor de cabeça, sonolência, dor no peito, visão turva e até priapismo.Somente descobrimos experimentando aquele "doce veneno" a cada dia.
Nessas horas de incertezas tudo é válido:oração, dietas absurdas e no momento estamos tomando chá de semente de abóbora, saw palmetto e óleo de sicupira. Pois como dizia os antigos, "se não cura, também não mata."
E este é um trecho de minha memória, e nesta caminhada aos hospitais e clinícas descobri, que há centenas de homens pobres, negros e semi-analfabetos com o nosso mesmo problema .Todavia nós próstatas não podemos ser ignoradas, mas sim amadas, tratadas e tocadas. Para que possamos ter um final feliz. Afinal o céu é o limite.
Enfim, obrigado por ouvir a memória de uma próstata quase desesperada, que ficará boa em breve e continuará partilhando a sua experiência para ajudar outras próstatas, como o mesmo problema e dor.
Hoje eu sei que pouca coisa é feita em prol de nós, o "Novembro Azul" ainda é Negro, Opaco e Escuro, mas quem sabe um dia teremos um "Novembro Azul", onde todos os homens terão acesso a um tratamento digno e humano.

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