O vinho no copo americano suado,
No peitoril do vitrô do banheiro,
Meu cigarro queimado pela metade,
Em minha boca em frente ao espelho,
Meu corpo quente de álcool,
E da água tépida do chuveiro.
Já podia estar deitado,
Mas aquela barba cerrada nem parecia minha,
Sentia o cigarro apagado em meus lábios.
Comparava o gosto do tabaco
Ao sabor desbotado da sua língua.
Meus cabelos estavam molhados,
Não pela transpiração dos movimentos
De minha cintura na cintura de Albertina.
E também havia algo de saudade e culpa
Pelo que aconteceu,
Sem direito à despedida nem visitas.
E fui limpando o rosto com o gillete,
Limpando o gillete com a água corrente,
Mas difícil era me limpar do arrependimento.
Terminei a barba.
Senti nas pontas dos dedos,
O rosto liso, ainda jovem.
Apaguei a luz,
Passei pelo quarto do Pedro
E me deitei.
Sabia que não dormir ainda era como que
Conceder
Uma derradeira homenagem,
Por minha esposa, o filho ter me deixado,
Num último gesto antes de, mais nada,
Enlouquecer-se.

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