Tenho uma alma
Oca e certa de viver a vida a tratar,
Como foto boba, ingênua, doce
Enquanto mais e mais ausente,
À espera, pois,
Do amor.
Uma teia,
Uma sombra feita de pedra,
Para sempre presa aos pés,
Aquilo por quem
São pequenas coisas velhas,
Críticas desta
Morta, muda, gente fria, tenho o amor,
Tenho a ânsia, carne branca e espuma, percorro
A lua e acaba sendo fácil ser como sou.
Uma estreita porta semiaberta que tenho
Entre as mãos e uma estrela sóbria, de mim
Tão distante, que o tempo foge com fome
E medo entre as ruas.
Nu, estou com as mãos
Sujas sobre o chão.
Pensando bem, já não tenho
Voz alguma para erguer-me contra o que mais.
Para longe, para a vida longos véus.
Medo,
Pois em mim tremula a noite com precisão.
Dá-se outra rua e é assim que vem, de repente,
Um abismo ser motivo entre os que estão
Perto, muito perto, como lâmina cega.
Tento apenas não dormir.
Sou eu a meus pés,
Livre além de mim, as mãos de vidro e as pedras
Pelo chão mostrando o céu da tarde.
Cheguei
Onde estou, erguendo as mãos em volta do vazio.
Sempre a fome, sempre a sede, tentam ganhar
Minha escolha.
E, mesmo, quando, auto clemência,
Deva ser tempero bom, ressinto do mal
Gosto, ainda uma prova, fria, agora,
Por acaso e bom seria ter de voltar
Só então, ao chão da casa como destino.
Retrocedo e abro meu castelo no ar,
Tanto tempo houve antes disso (voando
Por inteiro).
E fora ir vivendo, por fim
(Mais de sede e ânsia e fome), deste deserto,
Que melhor seria ouvir meu crânio ruir
Pela terra, com palavras poucas, de acordo
Com o som dos meus protestos vãos.
E apesar
De estar tão tranquilo e mesmo sendo sereno,
Ponho em minha vida um novo céu (em que não
Há nenhum olhar atento) e atento, vou minha
Vida tão antiga sobre o chão.
A aprender
Isso, em certo grau, pretendo.
E quando possível,
Isto, enfim, souber, terei um pouco de paz?
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