Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Mudança inesperada de planos. Que bom !.
José Roberto Cavalcante Alves

Lembro-me como se fosse hoje, estava caminhando numa avenida conhecida da zona leste da cidade. Minha mente fazendo os planos para o dia, traçando o roteiro e me preparando para a rotina de trabalho e voltar para casa.

Entre um pensamento e outro, recebi um telefonema: “Você vai ser pai”.

Naquela época, em que os smartphones, creio eu, estavam em vias de se popularizar, a ficha demorou a cair. Tal qual os telefones analógicos, o processamento daquela notícia demorou alguns minutos.

O resultado foi inesperado, ao menos naquele momento. As lojas de artigos esportivos, futebol, já não eram mais tão importantes assim ou o que havia mudado era o tamanho da chuteira que iria comprar. O tamanho das meias, do calção, da camisa do meu time predileto. Enfim, uniforme completo, com outro manequim.

As lojas de bebês, passaram a ser a referência e ali estavam os novos objetos do meu desejo. Seguindo os padrões sociais, estabelecidos sei lá por quem, pensei no azul.

Um ultrassom após o outro e via o crescimento do maior sonho da minha vida. A sensação indescritível ao ver o pequeno coração batendo muito aceleradamente, como se ansioso por vir ao mundo exterior. Na verdade era o meu.

Nove longos meses e chegou o dia. A espera interminável na sala do hospital, olhando o telão anunciar a sua chegada, como um gol.

Outra vez seguindo os padrões sociais, estabelecidos por sei lá quem, vi que o azul, na verdade era rosa.

Uma menina.

Processando, de novo, como um telefone analógico, pensei em como levá-la ao futebol. Quanta tolice.

Vários momentos desde o seu nascimento, as paradas matinais na padaria, onde os funcionários já conheciam o seu humor, o abraço ao deixá-la na escolinha e ir para o trabalho e a saída do trabalho para buscá-la na escolinha, levá-la para casa, pular e rolar na cama.

Foram várias as tentativas de levá-la ao estádio. Na única, que talvez tenha aceitado por ainda ser muito pequena e ser novidade aquele passeio, ela se impressionou muito mais com o carrinho socorrendo o jogador machucado do que com o jogo.

Percebi que não adiantaria insistir.

Surpreendentemente ela não queria ir aos jogos comigo, no entanto me acompanhou na minha pós-graduação, nas intermináveis reuniões de trabalho para a elaboração do nosso plano de negócios e jamais reclamou ou cobrou uma troca para ir se divertir.

A maturidade dela era maior que a minha, e continua assim.

Hoje na adolescência, vejo-a se transformando numa mulher e ao contrário de outros tempos, ela me leva para passear.

Muito mais ouvinte do que falante, ao contrário do pai, ela passa a sobriedade e calmaria que eu nunca tive. Nos meus anseios de mudanças rápidas, como se fosse possível controlar o incontrolável.

E a sua chegada provocou e continua provocando uma mudança inesperada de planos. Que bom !.


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 61637


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Mudança inesperada de planos. Que bom !. José Roberto Cavalcante Alves
Poesias Avidez José Roberto Cavalcante Alves
Poesias Quantas vezes José Roberto Cavalcante Alves


Publicações de número 1 até 3 de um total de 3.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Jornada pela falha - José Raphael Daher 63538 Visitas
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 63507 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 63313 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 63277 Visitas
Namorados - Luiz Edmundo Alves 63267 Visitas
Viver! - Machado de Assis 63255 Visitas
A ELA - Machado de Assis 63138 Visitas
Negócio jurídico - Isadora Welzel 63056 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 63011 Visitas
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62916 Visitas

Páginas: Próxima Última