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Ernesto

Não sei se os cansos miram o pouso ou se, somente, vão pousando. Não sei o que sou e, muito menos, o que tornar-me-ei. Sinto náuseas disso tudo, se Atlas me mantém de pé, Hércules está, a todo momento, prestes a me ruir. A vida da voltas, mas a cada volta meus pneus estão mais gastos. Pode haver uma maldição sobre mim? Poderia o tormento de Prometeu ser o meu? A grande ave, agora, chamada: Vida, me dilacera os sonhos, como aquela que, outrora, mesmo fastigada, se deliciava com belas porções de carne, ainda viva e pulsante, de nosso herói. No entanto, a ave o queria vivo para todo dia ter seu delicioso alimento. E, dessa forma, a vida nos é, ela necessita alimento e nós os fornecemos. A cada frustração consumida, nos ergue novos sonhos para consumi-los novamente. O moinho não pode descansar. Imaginem um pobre jardineiro, que cuida amorosamente de suas mais belas flores, planta a semente; cuida da terra; molha seus rizomas. Até que ela transforme- se em grande e imponente árvore. Então, chega o momento, em que aquela semente que se fantasiou de árvore precisa ser cortada, suas raizes estavam muito profundas e estavam afetando as edificações vizinhas. Então, resta ao pobre jardineiro pôr um fim a vida daquela dama que o acompanhará por longos anos. Uma mistura de sadismo e agonia consomem seu peito, pobre homem. E, assim, a vida nos é! Estamos presos a ela de modo peremptório, inquestionável e amorosamente amargo, porque se desentrelaçamos nossos finos dedos de sua mão viva , ela se esvai, restando apenas um corpo putrefato em alguma cova rasa. Esse corpo, ainda mesmo sem sua vida, servira como germe de novas vidas, adubo, nutriente e o próprio Criador, que nao pede cordeiros em troca. É ele mesmo o cordeiro e a faca amolada para imolação. Sangue morto alimentando o fogo do caldeirão da vida. O movimento antropofágico do nosso fim. O fim do sofrimento é o fim de tudo, o último angulo de nossa existência sera as raízes de um capim plantado sobre nossa cova. Talvez, algum coveiro bondoso plante, ainda,alguns legumes sobre nós, que sacie sua fome de homem. Homem, que sem reflexo algum de si mesmo, mergulha na bruma da solidão de Cristo. Não só de pão vive o homem! Bandeira convidou a morte para um café, ela me convida a dançar, em giros estupefacientes e suspiros tísicos. Homem ao mar, náufrago, este sou eu, a deriva em uma conturbada tempestade chamada: VIDA. Dinheiro não possuo, amigos todos mortos, ou deveriam estar, bens saqueados por Agamenon. Sentado, no meu sofá, eu aguardo o beijo da morte, com uma única esperança, que esse seja quente como os lábios da mulher amada.

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