Clandestina: Maria Aparecida
Idade: 37 anos.
Quando minha filha nasceu me disseram que ela morreria em meses. Minha amada criança. Para aqueles que desconhecem o amor que uma mãe tem por seu filho, acredite ele é superior a qualquer coisa e vou dar uma prova disso.
Tive problemas para engravidar, na verdade não foi apenas por esses problemas que eu não pude levar adiante minha primeira gravidez.
Meu marido era aparentemente um homem perfeito. Mas ele não era. Depois de três anos tentando engravidar eis que chega a tão esperada hora de eu gritar para todos que eu estava grávida. E foi isso que eu fiz. Disse a todos que estava gravida, tinha motivos o suficiente para me alegrar.
Mas foi ai que eu soube da traição dele. Então eu fui tirar satisfações com meu marido sobre a tal da traição. Ele disse ‘’ Tá ficando louca? Traindo? É claro que não, sua vagabunda de esquina’’.
Foi a única vez que alguém me chamou daquele nome. VAGABUNDA. Depois eu bati em sua cara uma vez, ninguém podia me chamar daquilo, principalmente ele. Meu marido, o homem que escolhi para viver até meus últimos dias.
Foi aí que ele me bateu. Bateu tanto que eu já sabia, já sentia que eu tinha perdido meu bebê.
Foi um peso esmagador quando o médico confirmou a perda. ‘’Sinto muito’’ ele disse.
Minha vontade era de mata-lo, matar aquele que tirou de mim minha única razão de viver.
No entanto eu sofri, chorei tanto que pensei que nunca morreria por falta de água no meu corpo. Mas superei, venci e encontrei algo para me agarrar novamente.
Esse algo se chama Rodolfo. Eu sabia que ele era um homem maravilhoso. Contudo, assim que ele compartilhou sua vontade de ser pai eu entrei em pânico. Eu tinha perdido um bebê e não sabia se podia ter outro por causa do trauma, muito embora sempre tenha pensado no caso.
Resumindo. Tive minha filha em pouco tempo. Fiz tratamento para superar o trauma – embora nunca tenha me livrado dele – pude cria-la na base do que eu sempre soube que eu podia me refugiar caso me sentisse abandonada. Meu marido, que si quer um minuto deixou-me sozinha.
O destino, no entanto, era cruel. Descobri em minha filha uma doença terminal. Ela precisava de um transplante de coração.
Todos aqueles que morriam e podia doar fizeram os testes, mas ninguém era compatível. Apenas eu era. Mas eu estava viva.
Agora você pode imaginar minha situação. Deixar minha filha morrer ou encontrar um coração que pudesse ser compatível.
Embora eu amasse viver eu preferi morrer. Porque se minha filha morresse seria como se eu também estivesse morta.
Confesso que não pensei no futuro. Quer dizer, no meu apenas. Pensei no futuro da minha filha. Apenas nele.
Por isso aceitei doar meu coração para salvar sua vida. E mesmo perdendo minha vida eu sei que a dela estará a salvo. Agora você acredita no amor de uma mãe?
Antes da aplicação da injeção letal eu pedi para escrever uma carta a todos. Até mesmo para você que está lendo isso. Me perdoe.
Minha filha e meu amado marido, meu amor de todo o meu coração, espero que você entenda que para nossa pequena criança pudesse sobreviver precisei partir. Não culpe a mim pela decisão que tomei. Meu amor pela nossa filha foi imenso, sei que se você soubesse disso, quem estaria escrevendo essa carta seria você. Preferi deixar vocês viverem porque eu os amo, amo muito.
Minha filha, não pense que eu fiz isso porque queria ser a heroína desta história. Fiz porque queria que você pudesse dizer que venceu, e que poderá viver e amar. E embora todos ou apenas quase todos ti julguem por isso, saiba, que estou indo embora porque não suportaria viver sem você.
Entre viver sem você e morrer, tomei a decisão de não escolher viver sem você. E deixá-la viver sem mim, mas com o meu coração. Sabe por que meu bebê? Porque ele pertence a você. Sempre pertenceu. Te amo.
Com amor, sua mãe.
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