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TERNO E GRAVATA...
Rubemar Costa Alves

O cara tinha sido excelente alfaiate e, boa fama correu o país, procurado pelo presidente, a primeira dama (femininos terninhos de inverno), parlamentares e empresários, em tempo até relativamente curto juntou um bom dinheiro. Mas não era partidário deste ou daquele... Em que sua opinião mudaria o mundo? Recusava convites para banquete. Nunca subiu em palanques e seu voto era secreto. Declarava-se apenas um comerciante – era como se vendesse ovos ou carne para a cozinha da Casa Rosada...
          A neutralidade numa entrevista televisiva o deixou em perigo... Escolheu fechar a loja, indenizou os auxiliares acima do valor exigido por lei, embarcou para... o Brasil. Morar onde? Ah, sim. Gostava de mar, de futebol, chama-se o Cristo na hora da aflição......... Rio de Janeiro! Qual bairro? Perto do centro da cidade. Catumbi, tradicional bairro onde há décadas (ou séculos?) já residiam ciganos, mulheres mais idosas em trajes típicos.
          Alugou um apartamento num prédio não muito alto, terceiro andar. Trouxe todo o mobiliário – entraram no prédio ELE, a mulher e... um bebê. ELA carregava algo embrulhado em manta azul, a todos pareceu uma criança, mas pela idade do casal deveria ser um neto. Não havia como perguntar na primeira semana.
          Para um homem não idoso, ativo, as ‘férias’ foram se tornando incomodativas – olhou o cão (pouco latia...) e teve uma ideia. “DIEGO, meu primeiro cliente no Brasil!” Em poucos dias, o cão apareceu usando os trajes mais incríveis – calça comprida e camisas de malha. Época de Copa do Mundo, ora as tais camisetas em verde-amarelo ora nas cores da Argentina. Uma graça! Todas as manhãs ELE passeava com o animalzinho e esse trazia o embrulho do pão amarrado às costas, peso leve – aprendeu o caminho e passou a “fazer compras” sozinho. Aos domingos, era o jornal em língua portuguesa. Sempre existem os tolos fantasiosos que imaginam ‘cão falante’, nada disso – para o cão, andar ritmicamente do apartamento ao comércio do bairro era exercício locomotor e recreação, mais nada. Sim, a roupa do carioca não tem requintes, short-camiseta-chinelo em dias de folga, mas ELEZINHO não era carioca e, sem querer se exibir, o traje dos domingos passou a ser um terno muito bem acabado... e gravata. Ao comando de um assobio, em rápidos minutos o cão ficava apenas sob as patas traseiras e exibia em pé a roupa de elegância máxima. Foi deixando de ser novidade, pelo menos já não causava espanto maior.
          Alguém veio com a notícia que (não é piada!) outro casal de argentinos, um veterinário e uma professora de piano, criava uma cadelinha linda, EVA, na Ilha do Governador - saiote sempre multicolorido, brincos de argola dourada e laçarote no alto da cabeça.
          Daí em diante, ocorreu tudo na maior tranquilidade. Os quatro foram apresentados e se tornaram amigos.
          Efetuou-se o casamento dos animais de estimação com “pompa e circunstância”: smoking de gola brilhosa e vestido de noiva com veuzinho. E churrascada, evidentemente, mas com cerveja brasileira. Música? Ah, sim – troca-troca entre tango e samba.   
          Tempos depois, os homens montaram uma pet shop – rações, trajes, atendimento clínico.
          Imagina-se que os seis foram felizes para sempre, como nos contos de fada.

                   F I M


Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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