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INICIAÇÃO
Rubemar Costa Alves

Resumo:
Conheci-a no aeroporto. Entre Brasília e São Paulo, num momento de nostalgia, me fez confidências. Proprietária de um prostíbulo grã-fino, legalizado sob nomenclatura moderna: “Agência de acompanhantes”. Abrigava meninas pobres expulsas de casa por um pai antiquado e severo – espécie de madrinha carinhosa, orientava, algumas saíram já casadas e muito bem casadas. Ahn......... E amante oficial de um político velho, famoso pelo ridículo slogan de “se precisar, enfio pessoalmente a peixeira...” – fotos do casal em várias revistas de fofocas (mostrou-me a mais recente), mas que em nada a satisfazia há alguns anos, por isso se recreava com quem simpatizasse: ele “compreendia” e não contestava nunca. Nem podia! Eu estava sendo escolhido para aquela noite (e muitíssimas que se sucederiam), quase vizinhos de bairro na Paulicéia Desvairada.

Fui muito jovenzinha trabalhar naquele escritório de importações onde nada entrava ilegal. Logo aprendi tudo – a rotina... e até o que não era para aprender!
          Fomos apresentados pelo gerente geral na hora do teste. Fiz imbecis contas de somar. “De acasalar”, disse ao me entregar a esferográfica e uma folha de papel almaço.
          Ele trabalhava num setor especial, função solitária numa salinha onde mal cabiam mesa com o computador, duas cadeiras, um arquivo de cinco gavetas altas e dois armários suspensos. O serviço era mais ou menos secreto, não podia ter auxiliares.
        No meu setor, trabalhos diversificados – despachar cobradores, contabilizar os valores recebidos, contatar com bancos. Muita agitação, ao mesmo tempo cansativa e divertida.
          A firma ocupava três andares inteiros. Separados pelo hall do prédio, mas nós dois nos encontrávamos no horário do almoço na salinha de refeições para quem levava comida de casa. Conversava-se. Assuntos banais. Falava do casal de filhos em idade escolar, da casa em reforma interminável, de preços de roupas - “Qualquer dia andarei nu – tudo muito caro! ” Eu contava de meu abandonado curso de corte e costura, filmes de faroeste americano vistos com ex-namoradinho irritante e egoísta. “E ele beijou muito você?”
        Convite para o casamento de um colega. Na festa, salão pequeno para muitos convidados, achamos lugar no quintal atrás do pequeno prédio, um vão apertado sob a escada de cimento, só faltou que eu tivesse que sentar no colo dele. Sentamos lado a lado, ombro com ombro, apertadinhos. Uma mosca indiscreta entrou no meu vestido, por um drapeado largo nas costas, e ele me pediu licença para tirar. A mosca demorou a sair. Clima tenso.
          Nossa turminha enjoou da festa e fomos em grupo acabar a noite numa danceteria perto dali. Não danço. O bom dançarino ficou comigo no sofá, desta vez maliciosamente alisou minhas costas, sem inseto algum. Levou-me para casa de táxi, longe, subúrbio, cochilei sobre ele, acordei espantada com o rosto junto ao meu e num impulso o beijei na boca.
          Para entornar o copo, muitas vezes falta apenas uma gota.
          Ficamos uns dias sem nos vermos.
        Logo em seguida meu aniversário. Fui trabalhar mais enfeitada - vestido vermelho, sapato de salto alto. Convidou para almoço respeitoso num restaurantezinho italiano, cantina de toalha vermelha em desenho xadrez, a “mamma” nos tratando como namorados. Ganhei dele duas pulseiras de argola presas com uma correntinha, como algemas.
        Dois ou três dias sem muito contato.
          Perguntou de repente se eu o encontraria fora do escritório, num local discreto, para ‘conversarmos’ – queria me ‘ensinar’ muitas coisas. Entendi tudo. O time do escritório jogava futebol de salão toda terça-feira à noite e ele poderia dizer à mulher (foi explícito para mim) que iria ao clube.
          Perto do horário marcado, escreveu rapidamente o endereço num papelzinho, li, queimou em seguida. Saiu na frente.
        Prédio antigo, primeiro andar, me esperou com a porta entreaberta do tal apartamento. Sem experiência a dois, não sabia imaginar nem parte do que me esperava. Início com beijos sensuais. Aprovada! Fui tirando a roupa, a calcinha minúscula deixei que me tirasse com os dentes, ele se despiu sozinho. A alegria da nudez. Não senti vergonha alguma. Eu não me acreditando “ali”, mas estava ali, um homem menos jovem, porém ainda moço me iniciando – não recuei. Acariciou meus seios, nunca ninguém me fizera isto, sensação nova e agradável. Lambeu devagar, mordeu de leve os mamilos endurecidos e sugou. Fui às nuvens e me senti molhada entre as pernas. Novidade gostosa de parcial entrega.
          Emocionalmente anestesiada, parecia não ter corpo. Ou meu corpo flutuava como fumaça querendo e ao mesmo tempo não querendo subir.
          Masturbação já conhecia, fazia sozinha, aprendera desde a adolescência com uma prima um tanto ousada que por sua vez aprendera com um primo bem mais velho, no porão da minha casa. Nosso primo só me ensinou a beijar na boca – “Muito jovem ainda! ” De fora, ouvi bem uma hora de incompreensíveis gemidos. Ingênua: minha boca não doera.
          Pernas levemente afastadas, fui acariciada em pé, louca para ser penetrada, meio zonza, olhando cama de casal, sem que ele sugerisse. Acabou por sugerir. Totalmente excitados, no auge... Colocou minha mão no membro dele, endurecido, e ensinou a acariciar.   Deitamos de frente um para o outro, explicou em poucas palavras o que poderíamos ou não fazer. Entendi confusamente. “Poderíamos? ” Havia me chupado embaixo (ainda tolinha, eu nem sabia que se fazia também isto...), com um dedo conferira na hora minha virgindade, que por desinteresse (ou pura má fé?) eu não revelara, não pretendia ser o responsável, mas não estava a fim de perder tempo sem nada realizar. Eu conhecia, de ouvir falar, diferentes formas de sexo; algumas amigas da antiga escola até praticavam com namorados, sem risco de gravidez precoce, ou homens mais velhos, por dinheiro. Dispostíssima a experimentar, por que não?
          Ensinou-me posições, escolheu a que achou mais conveniente por causa do meu tamanho, um tanto miúda, e me deixou quase pronta para o ato. Não queria me machucar. Eu estava ansiosa, curiosa... e medrosa, dividida entre os relatos de dor e de prazer. Foi uma mistura das duas coisas. Abraçou-me por trás, beijou e lambeu minha nuca, boca aberta, língua enfiada no meu ouvido, em seguida uma das mãos se posicionando nele e em mim, com um dedo procurou (e achou!) o orifício certo, agora mais um dedo, mexeu, tirou, senti passar algo cremoso e perfumado, a outra mão alisando meu ventre. Ia me penetrando aos poucos, perguntava se doía, eu respondia ora afirmativamente ora pedia para continuar. Estava muito bom!   Mandou que eu relaxasse, jogasse o corpo para trás, doeu bem menos do que eu esperava. Penetrou-me toda sem grande esforço. Não sangrou.   As duas mãos passaram a bolinar meus seios. Havia um espelho grande, eu nos vi extasiada, fechei os olhos. Depois foi só prazer. Colocava, tirava, colocava novamente, num roçar contínuo que me enlouqueceu. Gozou dentro de mim. Assim, me tornara, dizia, a sua “putinha, dada e arregaçada”. Senti como elogio. Gozei muito também. E ainda continuava virgem na frente: recusou-me porque quis, eu teria deixado tudo...
          Após quatro longos anos de semanal e falso futebol de salão após expediente, fui ficando mais velha, sentindo novas necessidades. Precisava evoluir.
          O “escritório” se tornara repetitivo, monótono, rotineiro, as mesmas faturas, os mesmos carimbos de cabo comprido, sem variações ou melhoras. Prazer diminuiu. Pedi demissão.
          Fui trabalhar num escritório muito maior, de relações internacionais, tive professores mais audaciosos: estudei línguas, fiz novos e mais avançados aprendizados.

                                                             FIM





Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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