Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A DOR DA VELHICE
Arnaldo Agria Huss

O poeta, tradutor e jornalista gaúcho Mário Quintana escreveu este poema chamado “Envelhecer”:

Antes, todos os caminhos iam.
Agora, todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

Perfeito, não?

Agora que ela já me abriu as portas, continuo mais do que nunca, tentando entender quais os motivos que levam alguém a elogiar a velhice. Não aprecio aqueles que fazem isso, já que tais afirmações são deslavadas mentiras em relação a uma tragédia anunciada. Considero a velhice o maior castigo para a humanidade. É como se chegasse a hora de pagarmos todos os nossos pecados. Poucos escapam do diabetes, da hipertensão, das dores reumáticas, das doenças cardíacas, da catarata, do colesterol e, talvez ainda em menor escala, do Alzheimer. E, a cada médico que se vai, ao final da consulta ouvir dele um “está tudo bem e volte somente daqui a um ano”, considere uma vitória. Além de tudo, perdemos a fisionomia e o espelho passa a ser um inimigo mortal.

E ainda tem o pior, que é quando se começa a depender dos outros, principalmente quanto à locomoção. A cada avanço tecnológico, ser velho tornou-se sinônimo de xingamento e até de piadas, quando não se consegue manusear com desembaraço as parafernálias eletrônicas que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Você também começa a sentir os olhares de impaciência dos mais jovens se demora um pouco mais para realizar algum movimento, alguma ação ou até mesmo tomar uma atitude, como fazer alguma compra, por exemplo. Se for algo eletrônico, então, arme-se de calma, pois os vendedores sempre acham que você não sabe nada, comparando-o a uma ameba. Outrora, a velhice era uma dignidade: hoje ela é um peso.

É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de melhor idade. Isso só pode ser coisa de gente que acredita que vai virar semente.

O poema de Quintana é a exatidão do momento do estar velho, quando valorizamos como nunca o nosso canto acolhedor e os fantasmas passam a nos fazer companhia constante, e não apenas na hora do chá. É quando também pouco se vai, pois as coisas (os caminhos de Quintana) passam agora a vir.

Por tudo isso, eu sempre digo que nenhuma palavra, nenhuma frase e nenhuma ação é capaz de minimizar as tristezas e as melancolias da velhice. E que me desculpem aqueles que tentam esconder essa realidade.


******


Biografia:
Se as pessoas conhecem os meus textos, isso é o suficiente. Eles dizem tudo o que eu tenho a dizer, mesmo que as situações descritas não tenham acontecido diretamente comigo.
Número de vezes que este texto foi lido: 60544


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas OS SONHOS, A REALIDADE E A VIDA Arnaldo Agria Huss
Crônicas ESCOLHAS Arnaldo Agria Huss
Poesias UMA CASA Arnaldo Agria Huss
Crônicas MOMENTOS SEMPRE DIFÍCEIS Arnaldo Agria Huss
Crônicas RESERVA NO INFERNO Arnaldo Agria Huss
Crônicas A DOR DA VELHICE Arnaldo Agria Huss
Crônicas A SALA DE JANTAR Arnaldo Agria Huss
Artigos O FURINHO DA CANETA BIC Arnaldo Agria Huss
Crônicas VALORIZE-SE Arnaldo Agria Huss
Crônicas O ENTERRO E O CAMINHÃO DE MUDANÇA Arnaldo Agria Huss

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 53.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
REPELENTE - LUCILENE COSTA LICA 62953 Visitas
Correntes neoliberais - Isadora Welzel 62421 Visitas
O apagão aéreo toma conta de nossas mentes - alex dancini 62210 Visitas
Viver - Lion Bell 62130 Visitas
O ofício do professor - Patricia Ferreira Bianchini Borges 61958 Visitas
Os Construtores de Templos - Cesóstre Guimarães de Oliveira 61931 Visitas
Era uma vez...Espaço - Ivone Boechat 61909 Visitas
O câmbio na economia internacional - Isadora Welzel 61774 Visitas
Sobre a Coragem & Persistência - Geraldo Facco 61333 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61232 Visitas

Páginas: Próxima Última