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Apenas um Caminho
J C Ryle

Por J. C. Ryle

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual
devamos ser salvos” (Atos 4: 12)

Essas palavras são impressionantes, mas conseguem ser ainda mais, depois
de considerarmos quando e por quem foram pronunciadas.
Foi um cristão pobre e desamparado quem as falou, no meio de um
perseguidor conselho judaico. Essa foi uma verdadeira confissão a Cristo.
Tais palavras foram balbuciadas pelos lábios do apóstolo Pedro. Algumas
semanas antes disso, esse mesmo homem abandonou Jesus e fugiu; além
de negá-lo três vezes. Há um novo espírito nele, agora. Ele se levanta
corajosamente diante de sacerdotes e saduceus, dizendo-lhes a verdade,
“Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por
cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.

I. Primeiro, deixe-me apresentar a doutrina do texto.
Vamos nos certificar de que entendemos corretamente o que o apóstolo
Pedro quis dizer. Sobre Cristo, ele fala: “E em nenhum outro há salvação,
porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os
homens, pelo qual devamos ser salvos”. O que significa isso?
Ele quer dizer que ninguém pode ser salvo do pecado e da sua culpa, nem
do poder e das consequências que ele acarreta, a não ser por Jesus Cristo.
Ele quer dizer que ninguém pode ter paz com Deus Pai e obter perdão nesse
mundo, a fim de escapar da ira que virá no porvir, o inferno, a não ser
através do resgate e da intercessão de Jesus Cristo.
A rica provisão de Deus para a salvação dos pecadores está em Cristo – e
nele somente; assim como também apenas em Cristo as misericórdias de
Deus descem dos céus à Terra.
Apenas o sangue de Cristo pode nos limpar; apenas sua retidão pode nos
prover e é mérito apenas dele termos um lugar no céu. Judeus e gentios,
educados ou não, reis e pobres, todos devem ou ser salvos por Jesus ou
caminhar para a perdição eterna.
O apóstolo afirma enfaticamente: "porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Não há nenhuma outra pessoa comissionada, selada e designada por Deus Pai para ser o Salvador dos pecadores, apenas Cristo. As chaves para a vida e para a morte foram confiadas em Suas mãos, então todos os que querem ser salvos, devem ir a Ele.
No dia em que veio o dilúvio sobre a terra, havia apenas um lugar seguro: a
arca de Noé. Todos os outros lugares ou dependências – montanhas, torres,
árvores, jangadas, barcos – eram inúteis. Da mesma forma, há apenas um
esconderijo para onde o pecador que deseja escapar da fúria de Deus deve
ir: Cristo.
Havia apenas um homem para quem os egípcios poderiam recorrer nos
tempos de escassez: José. Era perda de tempo buscar qualquer outra
pessoa. Assim, também há apenas um para quem as almas famintas devem
se dirigir, se não quiserem ir para o inferno: Cristo.
Essa é a doutrina do texto. “Não há salvação, senão por Jesus Cristo. Nele
há abundância salvífica de tal forma que até para o pior dos pecadores há
salvação, entretanto, fora dele, não há salvação alguma”. Ela está em
perfeita harmonia com as próprias palavras de nosso Senhor em João, “Eu
sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”
(João 14: 6). Paulo afirma o mesmo aos coríntios: "Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." (I Co 3:11). João também afirma o mesmo em sua primeira epístola: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.
Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida” (I João 5: 11,12).
Todos esses textos chegam à mesma conclusão: não há salvação, a não ser por Jesus Cristo.
Lembre-se de que você deve entregar a salvação de sua alma a Cristo e
apenas a Ele. Você deve se desfazer completamente de qualquer outra
esperança ou fé, você não pode descansar parcialmente nEle, fazer parcialmente o que estiver ao seu alcance, frequentar parcialmente a igreja e parcialmente receber os sacramentos. Para que você seja justificado,
Cristo deve ser tudo e único. Essa é a doutrina do texto.
Lembre-se de que o céu está à sua frente e que Cristo é a única porta pela
qual você pode entrar. O inferno está sob você e apenas Cristo pode libertá-
lo dele, o diabo está a sua procura e Cristo é o único refúgio contra sua ira e
acusações. A lei está contra você e apenas Cristo pode redimi-lo, o pecado
lhe oprime e Cristo é o único que pode derrubá-lo. Essa é a doutrina do
texto.

II. Deixe-me mostrar, agora, algumas razões por que a doutrina desse texto
é correta.
Posso encurtar a segunda parte desse tratado com um simples argumento:
“Deus diz assim”. “Um texto claro”, disse um antigo sacerdote, “é tão bom
quanto mil motivos”.
Mas não farei isso. Gostaria de me opor às objeções que estão dispostas a
crescer em seus corações contra essa doutrina, mostrando os firmes
fundamentos nos quais ela se sustenta.
(1) Permita-me, então, dizer que a doutrina desse tratado é correta, porque
homem é o que o homem é.
O que o homem é? Existe uma resposta clara e devastadora, que envolve
toda a raça humana: o homem é um ser pecador. Todos os filhos de Adão,
nascidos nesse mundo, seja lá qual for seu nome ou nação, estão corrompidos, são maus e contaminados aos olhos de Deus. Seus pensamentos, suas palavras, seus caminhos, suas ações, são sempre defeituosas e imperfeitas.
Não há nenhum país sequer na face da Terra, onde o pecado não reine? Não
há um vale feliz ou uma ilha isolada onde a inocência possa ser vista? Não
há tribo alguma na terra onde, distante da civilização, do comércio, do
dinheiro, das armas, do luxo e dos livros, possamos encontrar ostentadas a
decência e a pureza? Não, leitor, não há. Examine todas as viagens que
possa lembrar, de Colombo a Cook, e você verá a verdade no que estou
dizendo. As mais isoladas ilhas do oceano Pacífico - ilhas afastadas de todo
o resto do mundo, ilhas cujos habitantes desconheciam Roma e Paris,
Londres e Jerusalém – foram encontradas cheias de impurezas, crueldades
de idolatrias. As pegadas do diabo foram rastreadas em todas as costas. A
veracidade do terceiro capítulo de Gênesis pode ser vista em todos os
lugares. Os bárbaros podiam ser ignorantes em tudo, mas nunca o foram
quando o assunto em questão era o pecado.
Há, entretanto, homens e mulheres no mundo que estão livres dessa
natureza corrupta? Não houve almas aqui e acolá que viverem vidas sem
defeitos? Não houve alguns, alguns poucos, que fizeram tudo o que Deus
ordenou e, portanto, provaram que a perfeição é possível? Não, leitor, não
houve alma alguma assim. Observe todas as biografias e vidas dos cristãos
mais santos, perceba como os mais brilhantes dos filhos de Deus sempre
tiveram uma noção profunda de seus próprios defeitos e de sua natureza
corrupta. Eles gemem, lamentam, suspiram e choram pelas suas fraquezas,
esse é o ponto comum entre eles. Patriarcas e apóstolos, pais e reformadores, episcopais e presbiterianos, Lutero e Calvino, Knox e Bradford,
Rutherford e Bispo Hall, Wesley e Whitefield, Martyn e M’Cheyne, todos
sofreram com seus próprios pecados. Quanto mais conhecimento eles
tinham, mais humildes e simples eram; quanto mais santos eram, mais
pareciam se desmerecer e glorificar-se em Cristo.
O que tudo isso pode provar? A meu ver, prova que a natureza humana é
tão suja e corrupta que se dependesse dela, nenhum homem seria salvo. A
história da humanidade não tem esperança alguma sem um Salvador. É
necessário um Mediador, um redentor, um advogado, a fim de transformar
tão pobres pecadores em seres aceitáveis a Deus, e isso não podemos
encontrar em lugar algum, exceto em Jesus Cristo. O céu para o homem
que não tem um Redentor, paz com Deus para o homem sem um Intercessor, vida eterna para o homem sem um Salvador - resumindo, salvação sem Cristo - tudo isso me parece completamente impossível.
Coloco esses pensamentos diante de vocês e peço-lhes para que os
considerem. Sei que é dificílimo compreender a pecaminosidade do pecado.
Dizer que somos todos pecadores, é uma coisa, mas ter uma ideia de como o pecado é visto por Deus, é outra bem diferente. O pecado já está tão
presente em nossa vida, que não nos permite vê-lo como é, não sentimos
nossa própria deformidade moral. Somos como aqueles animais em criação,
vis e asquerosos a nosso ver, mas não para eles mesmos. É da natureza
deles serem repugnantes, por isso nem sequer percebem. Nossa corrupção é
uma parcela de nós mesmos e, quando muito, temos uma vaga compreensão de sua intensidade.
Entretanto, disso podem estar certos, se pudessem observar suas vidas com
os olhos dos anjos que nunca caíram, jamais duvidariam, em momento
algum, do que falo agora. Não é possível que alguém, conhecendo a natureza corruptível do homem, não veja que a doutrina aqui exposta é correta e verdadeira. Não há salvação, se não por Cristo.
(2) Deixe-me dizer algo mais: a doutrina do nosso texto é correta, porque
Deus é o que é.
E o que é Deus? Essa é uma pergunta interessante. Sabemos algo de Seus
atributos: Ele não teve testemunha na criação e com misericórdia nos
revelou muito a seu respeito nas Escrituras. Sabemos que Deus é espírito –
eterno, invisível e todo poderoso - o criador de todas as coisas e preservador
de tudo; ele é santo, justo e onisciente, infinito em misericórdia, em
sabedoria e em pureza.
Entretanto, como são baixas e simplórias nossas ideias, quando tentamos
descrever a forma com que acreditamos que Ele seja! Quantas palavras e
expressões usamos, mas nem sequer conseguimos descrevê-lo! Quantas
coisas nossa língua fala sobre Ele, mas que nossa mente não consegue
compreender!
Vemos tão pouco nEele e conhecemos tão pouco dEle. Nossas palavras são
tão vis e torpes, que não conseguimos transmitir ideia alguma sobre Deus,
que fez esse mundo grandioso do nada e para quem um dia é o mesmo que
mil anos, e mil anos, um dia! Nosso intelecto é tão fraco e inadequado para
entendê-lo, porque Ele é perfeito em todas as suas obras, perfeito no muito e no pouco, perfeito em dizer os dias e as horas em que Júpiter, com todos os seus satélites, viajará ao redor do sol e perfeito ao criar o menor dos insetos que se arrasta no nosso globo. Estamos tão ocupados que não compreendemos o Ser que comanda tudo, no céu e na Terra, através da providência universal, ordenando ascensão e queda de nações e dinastias, como Nínive e Cartago; ordenando a extensão exata com a qual homens como Alexandre, Tarmelão e Napoleão poderiam expandir suas conquistas; ordenando os últimos passos na vida do mais humilde cristão entre os povos; tudo isso ao mesmo tempo, sem parar, perfeitamente. Tudo isso por Sua glória.
O cego não pode julgar as pinturas de Rubens ou Ticiano; o surdo não pode
escutar as lindas melodias de Handel; o groenlandês tem apenas uma noção
do que é o clima nos trópicos; o australiano selvagem tem uma concepção
distante de locomotiva, logo, seja como for a sua descrição, não há lugar na
mente dos humanos para absorver essas coisas, eles não têm inclinação
para compreendê-las, não possuem dedos imaginários para agarrá-las. De
igual modo, as melhores e mais brilhantes ideias que o homem pode formar
a respeito de Deus, comparadas à realidade que um dia presenciaremos, são
fracas e fantasiosas.
Entretanto, leitor, isto, acredito, está muito claro: quanto mais calmamente
um homem pensa no que Deus realmente é, mais ele deve perceber a
distância imensurável entre ele e Deus; quanto mais ele medita, mais ele
deve ver que há um abismo profundo entre ambos. Sua consciência lhe dirá,
caso ele a deixe falar, que Deus é perfeito, mas ele, não; que Deus é alto, ele, baixo; que Deus é majestade gloriosa, ele, um verme; e que se ele quiser apresentar-se diante de Deus no julgamento confortavelmente, ele precisará de uma ajuda poderosa, caso contrário, não será salvo.
O que seria isso, senão a própria doutrina desse texto? O que seria isso,
senão chegar à conclusão que lhes tenho lançado insistentemente? Se
temos que prestar contas com alguém como Deus, é melhor termos um
salvador poderoso! Para sermos entregues a um ser tão glorioso como Deus,
devemos ter um advogado e um amigo todo-poderoso ao nosso lado, que
poderá nos defender de todas as acusações a que nos submetam e advogar
nossa causa com Deus em termos justos. Queremos isso, nada mais que
isso. Noções vagas de misericórdia jamais nos darão a verdadeira paz. Um
salvador, amigo e advogado como esse, não pode ser encontrado em mais
ninguém, senão em Jesus Cristo.
(3) Em terceiro lugar, deixe-me dizer-lhes que essa doutrina é correta,
porque a Bíblia é o que ela é.
Na Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, há apenas uma descrição sobre a forma
com que o homem pode ser salvo. Ela é sempre a mesma: apenas pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela fé e não por boas obras ou merecimentos.
Primeiro você a vê revelada vagamente, ela aparece meio enturvada em
algumas promessa, mas lá está.
Depois, ela aparecerá com mais clareza, é ensinada pelos figuras e símbolos
da lei de Moisés, o professor da antiga dispensação.
Você a terá ainda mais claramente depois. Os profetas viram por meio de
visões o Redentor que estava por vir.
No final, você a tem de forma óbvia, na clareza do Novo Testamento: Cristo
encarnado, crucificado, ressuscitado e pregado pelo mundo.
Entretanto, uma corrente de ouro corre através de todo o livro: nenhuma
salvação existe, exceto por Jesus Cristo. As feridas na cabeça da
serpente no dia da queda, as vestimentas de nossos primeiros pais com
peles, os sacrifícios de Noé, Abraão, Isaque e Jacó, a páscoa e todas as
particularidades das leis judaicas, o sumo sacerdote, o altar, a oferta diária
do cordeiro, o Santo dos santos onde só se entrava pelo sangue, o bode
expiatório, as cidades de refúgio, tudo isso prova a verdade descrita no
texto, todos pregam alto e em bom som que a salvação só acontece através
de Jesus Cristo.
Essa verdade, de fato, parece-me ser o grande objetivo da Bíblia e todas as
outras partes e porções das Escrituras servem justamente para ilustrá-la.
Não consigo ver o perdão de Deus nessas ideias, a não ser por meio de uma
conexão com essa verdade. Se soubesse de alguma alma que foi salva sem
ter tido fé no Salvador, talvez deixasse de falar com tanta certeza, mas
quando vejo que a fé em Cristo – no Cristo crucificado – era um dos
distintivos na religião de todos os que foram para o céu; quando vejo Abel
ganhando a Cristo com seu sacrifício numa parte da Bíblia; os santos em
glória numa visão de João se regozijando em Cristo; um homem como
Cornélio, devoto e temente a Deus, dava esmolas e orava (não digo que por
isso ele foi salvo, mas ordenou o envio de Pedro a fim de escutar a respeito
de Cristo); quando vejo todas essas coisas, sinto-me compelido a crer
que a doutrina desse texto é bíblica. Não há salvação, não há um caminho
para o céu, exceto através de Cristo Jesus.
Leitor, não sei como você utiliza a Bíblia, se você a lê ou não, se a lê por
completo ou apenas algumas partes, mas isso é certo: se você lê e acredita
na Bíblia, você terá dificuldades em escapar dessa doutrina.
Cristo é o caminho, o único caminho; Cristo é a verdade, a única verdade; Cristo é a vida, a única vida.
Essas são as razões que confirmam a veracidade do que está escrito nesse
texto. O que o homem é, o que Deus é, o que a Bíblia é, tudo isso nos leva à
mesma conclusão: não há salvação sem Cristo. Agora deixo essas razões
com você e passo adiante.

III. Em terceiro e último lugar, deixe-me mostrar as consequências que
surgem junto com a doutrina.
Poucas partes desse assunto são mais importantes do que esta. A verdade
que venho dizendo nesse texto pesa tanto sobre a humanidade que seria
muita presunção de minha parte não comentá-la. Se Cristo é o único
caminho para a salvação, como devemos nos sentir em relação a tantas
pessoas nesse mundo? Esse é o ponto sobre o qual agora falarei.
A verdadeira caridade, para mim, é contar o máximo de verdades que
pudermos. Não acredito ser caridade esconder as consequências de um
texto como esse e fechar nossos olhos contra elas. Chamo seriamente todos
àqueles que acreditam que a salvação acontece apenas por meio de Cristo, o
único nome debaixo do céu pelo qual podemos ser salvos. Chamo todos
vocês e peço-lhes para que me escutem enquanto exponho todas as
consequências que aparecem junto a esse texto.
De uma coisa estou certo, não temos mérito nenhum na salvação. Minha opinião é que o mais alto arcanjo – num grau bem distinto do nosso, claro – deverá sua posição a Cristo e que tudo no céu, assim como tudo na terra, estará em débito com o nome de Jesus.
Os Socinianos5 dizem que Cristo foi meramente um homem e que seu sangue teve tanto valor quanto o de qualquer outro, que sua morte na cruz não redimiu os pecados humanos e que fazer acontecer é o caminho para o céu, e não crer. Essa crença é ruína para a alma humana. Parece-me atacar a raiz de todo o plano da salvação que Deus revelou na Bíblia e praticamente anula a melhor e maior parte das Escrituras. Ela destrói o sacerdócio do Senhor Jesus e tira-o de seu ofício, ela converte a lei de Moisés e as ordenanças em algo sem valor algum. Faz parecer que o sacrifício de Caim era tão bom quanto o de Abel e deixa o homem à deriva num mar de incerteza, ao tirar-lhe a obra já terminada do nosso divino Mediador.
Se você ama sua vida, tenha cuidado com a menor das tentativas em depreciar a Cristo, o Seu ofício e Suas obras. O único nome pelo qual
você pode ser salvo é o nome acima de todos os nomes, portanto, qualquer
ataque contra Ele, é um insulto ao Rei dos reis. A salvação da sua alma foi
colocada em Cristo por Deus Pai, e em nenhum outro. Se ele não fosse
realmente Deus, jamais teria conseguido executá-la e não haveria salvação
alguma.
Outra consequência a ser aprendida do nosso texto é o grande erro cometido por aqueles que adicionam qualquer característica a Cristo, como necessária à salvação.
É fácil professarmos nossa crença na Trindade e reverenciar nosso Senhor
Jesus Cristo e, ainda assim, adicionar algo a Ele, deixando de lado toda a
doutrina do texto e negando-a de forma tão branda.
Todos que agem dessa forma me parecem declarar que a salvação não é encontrada simples e unicamente em Cristo, parecem adicionar outros nomes ao nome de Jesus, pelos quais homens devem ser salvos. Até mesmo o nome de suas denominações, tudo isso me parece querer responder à pergunta, “O que devo fazer para ser salvo?”, não apenas com “Acredite no Senhor Jesus Cristo”, mas também “venha e junte-se a nós”.
Peço para que os cristãos verdadeiros tomem cuidado com tal extremismo,
não importa a forma com que ele apareça. Dizendo isso, não serei mal
interpretado. Quero que todos sejam firmes em suas visões eclesiásticas e
que estejam certos de sua precisão. Tudo o que peço é que não ponham
essas coisas no lugar de Cristo ou as coloque perto dEle ou fale delas como
algo necessário para a salvação. Por mais doce que nossas visões nos
possam parecer, devemos tomar cuidado para não colocá-las entre o
pecador e o Salvador. Resumindo, tomemos cuidado para não adicionar algo
à doutrina do texto. No tocante aos assuntos da Palavra de Deus, é um
grande pecado tanto adicionarmos quanto retirarmos algo dela.
A última consequência a ser aprendida desse texto é o absurdo em supor que devemos nos satisfazer com o estado da alma humana, se ele é apenas
sincero.
Essa é uma heresia bem comum, na verdade, e uma contra a qual sempre
devemos estar de guarda. Há muitos que dizem, "não temos nada a ver com
a opinião de terceiros. Eles podem estar enganados, mas também é possível
que estejam certos e nós, errados. Tudo isso soa liberal e muito caridoso,
da forma como as pessoas gostam de fantasiar suas visões.
Entretanto, visões como essas são completamente contraditórias à Bíblia,
não importa o que defendam. Não vejo na Bíblia nenhuma história sequer
falando que alguém foi ao céu simplesmente por ser sincero, ou foi aceito
por Deus apenas pela sua determinação em manter suas visões. Os
sacerdotes de Baal eram sinceros quando se cortavam com facas e lancetas
até seu sangue jorrar, ainda assim, Elias ordenou que fossem tratados como
idólatras. Manassés, rei de Judá, foi, sem dúvida alguma, sincero quando
queimou seus filhos no fogo de Moloque, mas quem não sabe o quanto ele
se culpou por isso? O apóstolo Paulo, quando fariseu, era sincero ao
destruir igrejas, mas quando abriu os olhos, lamentou tudo o que havia
feito.
Tenhamos cuidado ao aceitar que a sinceridade seja o indispensável e que
não temos direito algum de falar do estado espiritual do homem, simplesmente porque as opiniões defendidas por ele são sinceras. Se é esse o nosso pensamento, então os sacrifícios Druídicos, o Carro do Krishna, o costume hindu de queimar a viúva com os restos mortais de seu marido, os
assassinatos sistemáticos dos malfeitores Thugs indianos e as fogueiras de
Smithfield poderiam ser defendidos, mas um pensamento assim não
vingará, ele não suportará os testes das Escrituras. Caso você concorde com
esses pensamentos, então aproveite para jogar fora sua Bíblia. Sinceridade
não é Cristo, portanto, sinceridade não pode perdoar os pecados.
Tenho certeza de que essas consequências podem parecer desagradáveis
para muitos de vocês que me lêem. Entretanto, digo-as de forma ponderada
e deliberada. Afirmo enfaticamente que uma religião sem Cristo, uma
religião que O deixa de lado, uma religião que adiciona algo a Ele, uma
religião que coloca sinceridade no lugar dEle, é uma religião perigosa e deve
ser evitada, porque é contrária à doutrina de nosso texto.
Você pode até não gostar disso e sinto muito se esse for o caso. Você pode
me considerar severo, avaro, cabeça-dura, intolerante e por aí vai, mas não
me importo, porque você não poderá dizer que a minha doutrina não é a da
Palavra de Deus. Essa doutrina é a crença de que Cristo é o único necessário para nossa salvação e, sem Ele, não há salvação alguma.
É minha obrigação prestar depoimento contra o espírito dos dias em que
vivemos e adverti-lo contra essa doença. Atualmente, não temo o ateísmo
tanto quanto temo o panteísmo. Não é o sistema que diz que nada é
verdade, mas o que diz que tudo é verdade; não é o sistema que diz que não há um salvador, mas o que diz que há vários salvadores e muitos caminhos para obter a paz. É o sistema que é tão liberal, que não ousa dizer que algo é falso, é o sistema que é tão caridoso, que aceitará a veracidade de tudo, é o sistema que parece pronto a honrar outros tanto quanto o nosso Senhor Jesus Cristo, classificá-los todos iguais e esperar o bem de todos. É um sistema tão escrupuloso quanto o sentimento dos outros, que nunca podemos dizer que está errado; é um sistema tão liberal, que chama um homem de fanático, se ele disser "Sei que minhas visões são corretas”. Esse é o sistema que tenho pavor hoje em dia. Esse é o sistema que desejo enfaticamente testificar contra e denunciá-lo.
Que sistema é esse, senão o ato de curvar-se perante um ídolo chamado
liberalismo? Que sistema é esse, senão o sacrifício da verdade a fim de dar
lugar à caridade? Tome cuidado com isso, leitor, cuide para que a tórrida
corrente da opinião pública não o leve embora. Se você acredita na Bíblia
ou for um consistente cristão, tome cuidado. Deus falou ou não conosco na Bíblia? Ele nos mostrou o caminho para a salvação plena na Bíblia ou não? Ele nos explicou o perigo de não andar por esse caminho ou não? Preparem suas mentes, encarem essas perguntas e respondam-nas honestamente. Diga-nos que há outro livro inspirado, fora a Bíblia, e assim entenderemos o que você quer dizer; diga-nos que a Bíblia não foi inspirada, e assim saberemos onde lhe encontrar, mas admita que a Bíblia, por completa, e nada mais que a Bíblia, é a palavra de Deus, e então não saberei dizer como você pode escapar da doutrina desse texto. Que o Senhor o livre do liberalismo que afirma que todos estão corretos, da caridade que proíbe dizermos que alguém está errado e da paz que é trazida às custas da verdade.
Falo por mim mesmo, não encontro descanso entre um cristianismo
categórico e uma infidelidade categórica, seja lá o que outros pensem. Não
encontro refúgio algum entre eles, nem mesmo casas capazes de abrigar
minha alma cansada. Posso ver consistência num infiel, mesmo tendo pena
dele, assim como também posso ver consistência no apoio à verdade
evangélica, entre entretanto, não consigo enxergar um meio-termo entre
eles. E isso eu digo sem receio algum. Que eu seja chamado de conservador
e severo, mas não consigo escutar a voz de Deus fora da Bíblia e não consigo ver salvação para pecadores nela, senão por meio de Jesus Cristo. No nosso Senhor, vejo abundância, mas fora dele, não. E para aqueles que confessam uma religião em que Cristo não é tudo, tenho um palpite muito desconfortável sobre sua segurança. Não digo, em momento algum, que nenhum deles está salvo, mas afirmo que os que são salvos, assim o são pelas suas discordâncias quanto a seus próprios princípios e apesar de seu sistema.
O homem que escreveu a famosa frase:
“Não pode estar errado, aquele cuja vida está na retidão”, foi um grande poeta, sem dúvida alguma, mas também um grande infeliz.
Deixe-me concluir com algumas palavras para nosso uso.
Primeiro de tudo, se não há salvação, senão por Jesus Cristo, certifique-se
de que você se interessa por ela. Não se contente em ouvir, aprovar,
consentir com a verdade, mas parar por aí. Busque ter um interesse pessoal nessa salvação, agarre-a na fé, pelo bem de sua alma; não descanse
até que você sinta a paz com Deus, oferecida por Jesus; não pare até que
você seja de Cristo e Cristo seja seu. Se houvesse duas, três ou até mais
formas de se chegar ao céu, não haveria necessidade de pressionar tudo isso sobre você. Entretanto, se há apenas um caminho, então você não deve ficar surpreso quando digo, "certifique-se de que você está nele”.
Segundo, se não há salvação, exceto por meio de Cristo, pregue isso a todas
as almas que ainda não o conhecem como seu Salvador. Há milhares nessa
condição miserável, milhares em terras estranhas, milhares no seu próprio
país, milhares que ainda não confiam em Cristo Jesus. Se você for um
verdadeiro cristão, você se entristecerá por elas, você orará por elas, você
trabalhará por elas, enquanto ainda há tempo. Você realmente acredita que
Cristo é o único caminho para o céu? Então viva conforme sua crença! Olhe para o seu círculo familiar e de amizade, conte um por um e veja quantos ainda não estão em Cristo. Faça o bem para eles de alguma forma, aja como agiria um homem que acredita que seus amigos estão em perigo.
Não se contente com o fato de serem dóceis e amáveis, gentis e bem-humorados, de boa conduta moral e corteses, seja desprezível para com
eles, até que se voltem a Cristo e confiem Nele, porque é isso o que você deve fazer. Não deixe sozinho alguém que não tenha Cristo, caso você tenha
oportunidades de alcançá-lo. Sei que tudo isso pode parecer entusiástico e
fanático, quem dera houvesse mais disso no mundo, porque qualquer ação é
melhor do que uma indiferença silenciosa para com as almas alheias, como
se todas estivessem no caminho para o céu. Não vejo nada que prove tanto
o quanto a nossa fé é fraca, quanto nossa despreocupação com a condição
espiritual daqueles que nos rodeiam.
Terceiro, se não há salvação, senão por Cristo, então amemos todos aqueles
que verdadeiramente amam o Senhor Jesus e o exaltam como seu Salvador.
Não se afaste ou olhe as pessoas com desprezo, simplesmente porque não
concordam com tudo o que dizem. O homem pode ser um presbiteriano
escocês livre, ou independente, wesleyano, ou batista, ainda assim, amemo-los, caso eles amem a Cristo e colocam-no no lugar merecido. Estamos a
caminho de um lugar onde denominações, formas e estilos de igrejas já não
serão mais nada, porque Cristo será tudo; preparemo-nos logo para esse
lugar, amando a todos os que estão nesse mesmo caminho conosco.
Esta é a verdadeira caridade: acreditar em todas as coisas e ter esperança,
contanto que estejam conforme as doutrinas bíblicas e Cristo seja exaltado.
Cristo deve ser o único padrão pelo qual todas as opiniões são medidas.
Honremos todos os que o honram, mas não nos esqueçamos que o mesmo
apóstolo Paulo que escreveu sobre caridade, também disse, “Se alguém não
ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema.”. Se nossa caridade e generosidade são maiores do que aquela exposta na Bíblia, então não valem nada.
Amor indiscriminado não é amor e uma aprovação indiscriminada a todas
as religiões não passa de outro nome para infidelidade. Estendamos nossa
mão a todos aqueles que amam o Senhor Jesus, mas tomemos cuidado ao
irmos além dessa condição.
Por último, se não há salvação por outro meio, senão por Cristo, você não
deve se surpreender se ministros do evangelho pregam muito sobre Ele. Não
podemos dizer-lhe muito sobre o nome que está acima de todos os nomes,
você não escuta sobre Ele em demasia. Talvez você escute muito sobre
controvérsia em nossos sermões – pode ser que você escute muito sobre
homens e livros, obras e deveres, formas e cerimônias, sacramentos e
ordenanças – mas há um assunto que nunca é demais explorar, e esse
assunto é Cristo.
Se estivermos cansados de pregar sobre Ele, então somos falsos ministros,
se você está cansado de ouvir sobre Ele, então sua alma está num estado
péssimo de saúde. Quando pregamos sobre Cristo durante toda a nossa
vida, ainda assim parte de Sua excelência não terá sido dita! Quando você o
vir face a face, no dia de Sua segunda vinda, você verá que Ele é extraordinariamente mais do que o que seu coração poderia imaginar.
Termino com as palavras de um escritor antigo, as quais subscrevo:
“Não conheço nenhuma religião verdadeira, a não ser o cristianismo, e
nenhum cristianismo verdadeiro, a não ser a doutrina de Cristo. A doutrina de Sua pessoa divina, de Sua obra divina, de Sua retidão divina, de Seu espírito divino. Doutrina aceita apenas pelos que são verdadeiramente Dele. Não conheço nenhum ministro fiel a Cristo, a não ser aqueles que fazem dEle o seu motivo para viver, o seu chamado e sua razão para louvar, por causa de Sua graça e glória salvífica por amor aos homens. Da mesma forma, não conheço nenhum cristão verdadeiro, que não seja aquele unido a Cristo pela fé e pelo amor, para a glorificação do nome de Jesus Cristo, na beleza da santidade evangélica. Ministros e cristãos com esse espírito foram, por muitos anos, meus irmãos e companheiros, e espero que seja sempre assim, onde quer que a mão de Deus me guie".

(Texto original reduzido e adaptado por Silvio Dutra)


Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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