Bom dia! A todos aqueles que viram a cegante e quadrada luz solar bater os olhos, bom dia. Educadamente vos saúdo, porém fui desprovido de minhas horas de sono. Perdi o deleite que é sonhar. Talvez o leitor venha a pensar que doudos não dormem por estarem sempre em sonho lúcido, o que soa absurdo a mim e meus colegas de sala, desde que apontado por um leitor perdido no costumeiro, que almoça e janta todos os dias, sai ao trabalho e aos estudos e seca - sempre com a boca a espumar - os finais de semana. Irônico.
Companhias, companhias! Há tempos fui abandonado sozinho, aprendi-me a entrosar comigo mesmo, sem maiores delongas. Aprendi-me a ler meus textos com a curiosidade assídua de um jovem moço, bonito, promissor e estudante de medicina. Não, não, acho que acabei por exagerar na imagem. Peço desculpas.
Ah, Machado, quantos cobres valho? Cobres ainda valem? Hão de valer, meus são os rabiscos, minhas são as palavras - embora de mim arrancadas quando lidas com tamanho interesse - rasgadas.
Não tenho a audácia de perguntar por que sou tão inteligente, tampouco tenho livros para indagar como escrevo tão bem; não tenho discípulos, admiradores, nem mesmo odiadores sedentos de fúria a atirar-me ao chão, logo não me há solo para criticar-lhes o Zaratustra ou a láquia (perdoem-me o inglês) de Goethe e Wagner. Contento-me, portanto, em desejá-los todos um bom dia. Quem sabe passo a contar com um novo membro em qualquer um dos grupos supracitados.
Oh, a doce arte de sonhar.
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