Assistimos pela TV aos maremotos e furacões devastando tudo, do outro lado do mundo. “Graças a Deus, por aqui não tem disso” é a frase mais óbvia nestas horas. Será? No ano passado, um “furacão” passou perto, em Indaiatuba, destelhou casas e tombou meia dúzia de veículos. No sul do Brasil, um “tornado” deu às caras jogando pelos ares meia dúzia de vacas. “Nada grave, estamos longe das fendas continentais”, falou um amigo. 2007: cientistas anunciam tornados no sul do Brasil, estiagem na Amazonia e desertificaçao no nordeste.
Conceitos religiosos e subjetivos são de difícil debate. Não há consenso sobre grandes fenômenos e até especialistas fogem do assunto. E nós, como tratamos a aldeia? E nossas ações cotidianas em relação ao meio ambiente? Os rios e córregos têm seus leitos, margens e mata ciliar que, naturalmente, fazem parte da vida, biologia, missão e utilidade a que estão destinados. Estes cursos d’água, um dia, voltam e ocupam o que lhes pertence, como que dissessem: “Estes barrancos e várzeas me pertencem; saiam daqui!”.
Costuma-se dizer que só os muito pobres, os miseráveis, degradam o lugar onde vivem. Só os mal educados entopem as galerias com lixo. Então como explicar os loteamentos clandestinos de chácaras em volta dos mananciais de água de Jundiaí, Guarapiranga e Billings? Casas de pedra e mármore, muitas privadas, estão sendo construídas à beira de nossos rios. Ricos proprietários estão fazendo o mesmo que miseráveis: jogam lixo onde deveria viver saudavelmente uma fonte de água limpa. Um dia, estes rios, córregos, aquíferos ou lençois freáticos voltarão a ocupar e inundar seus espaços. As águas vão e voltam, sobem e descem, congelam e evaporam.
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