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Eu e o Homem
Cecília Oliveira

Quantas eras haviam passado desde a epóca em que a companhia daquele homem aompanhava minha vida? Por mais que me esforce, jamais poderei saber... Entre as minhas primeiras lembranças, os gritos de nervosismo daquela boca. Eram tempos duros, mas a saudade bate só de pensar naquela Belle Époque de nossa casa.
Já fazia uma boa quantia de dias, talvez meses, que a miséria começara a nos rondar. O homem cavounsua própria cova, e me enterrou junto. O desemprego trouxe os jogos de azar, que chegaram acompanhado da bebida e do cigarro. A mulher que tão boa era com ele não mais aguentou e foi embora, levando os ultimos trocados consigo. agora era assim: a dor da fome era a unica consciencia que tinhamos.
Na verdade, eu ainda conservava meu espírito suficientemente crítico para saber que daquele jeito nós morreriamos. o casebre já estava completamente decadente, a poeira e os ácaros só não eram piores que o fedor de excrementos humanos misturados aos meus e ao descuido daquele homem.
Talvez essa não fosse a pior das partes! Eu enxergava a hipocrisia daqueles que olhavam pela nossa janela mal fechada. E via o nojo em seus olhos. O nojo! e não a compaxão! quem sabe se eles tivessem tratado aquele perdedor (detesto ter de admitir, mas ele realmente o era), a história teria outro rumo.
Afinal, depois de um tempo as coisas tornaram-se mais complicadas do que nunca. no começo eu ainda tentava fugir, roubava um ou outro pedaço de pão, mas sempre algum motivo mais forte que a minha natureza levava-me de volta pra casa. pra imunda e decadente casa.
Cmo eu dizia, as coisas foram apertando e a minha compaixão de rata não permitia que eu me afasta-se do solitário semi-humano que se tornara. Mas a minha resistência também estava cada vez mais baixa e conforme a vida vai se esvaindo pelo buraco da fome, a sanidade de qualquer ser perde-se. a nossa já estava nos limites.
E o inevitavel aconteceu: uma sangrenta e macabra batalha desencadeou ali mesmo na antiga sala de estar. olhamo-nos de canto de olho e um percebeu o olhar de lascivia faminta que o outro despontava. pulamos um sobre o outro, com o restante das nossas forças e então eu percebi o que é a centelha de vida.
Mordidas, arranhões, escapadas, até que senti uma dor lancinante correndo pela minha espinha! o desgraçado dera uma dentada na minha cauda, mas eu nao deixaria por menos... Furei os olhos com minhas garrinhas e rapidamente pulei na sua jugular, com a mais forte de todas as dentadas! desesperado, ele me jogou no chão e eu pude assistir a vida saindo de seu corpo. enquanto ele morria, eu aproximei-me e pude sentir o gosto de carne fresca na minha lingua! o pavor na cara do homem foi somente mais um tempero... Nada melhor do que carne humana após um longo período de fome!


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Poesias Eu e o Homem Cecília Oliveira


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