E em alguns momentos o que nos falta
É a coragem necessária para se explicar
Para falar o que sentimos
O que existe realmente em nossas entranhas
Um íntimo tão íntimo que nem nós sabemos
Quão difícil é esclarecer e se esclarecer
Abrir os olhos à realidade ausente
Fechar ouvidos às mentiras gostosas
Aquelas doces mentiras que insistimos em engolir
Como veneno suave a nos entrar pela garganta
Simples como um dia ameno
As ondas da vida batem nas areias dos sentimentos crus
Vívidas digitais que ficam impressas na alma
E não adianta
Calar, falar, pensar
Apenas deixar as ondas levarem a areia que nossos pés teimam em tentar segurar
E esperar que a próxima onda venha para trazer novos sentidos
Novas sensações e desatinados desejos
E não adianta temer a onda que nos arrasta
Já que somos apenas espectadores na platéia de nossa própria vida
E, em algumas ocasiões, coadjuvantes no cenário principal
Que nem mesmo sabemos a deixa para falar ou se ausentar da cena
Esperamos o diretor gritar nosso nome e nos assustamos
E nos fechamos em copas como animal afugentado
Como lebres perdidas em meio ao fogo
Como ursos perdidos em meio ao temporal
Embriagado desejo
Insensatez pura e real
E não adianta querer calar o que o espírito fala
Nem nos aprisionar nas grades fortes de nossos punhos cerrados
Já que as areias da vida continuarão sendo levadas pelas ondas do tempo
E nós, calados em nosso próprio ego...
Assim ficaremos
Insensíveis a nós mesmos
Deixando o tempo correr leve
E a vida escapar pelo vão de nossos dedos.
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