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Mariposas
Espetáculo de Dança-Teatro
Luís Eduardo Fernandes Vieira

Resumo:
Um cabaré do porto de Buenos Aires. Um velho boêmio; dançarino, apaixonado pela noite, mulheres, bebidas, tango - é proprietário deste cabaré argentino e propicia no seu submundo todo o desfile de amores perdidos/proibidos, lutas e recordações de personagens deste típico estuário marginal.

Personagens:

Carlito – Velho boêmio, cafetão e ex-dançarino de tango;
Mercedes – Dama da noite e chefe das “meninas” – par de Carlito no tango;
D. Ricardo – Filho de Carlito e marinheiro (apaixonado por Dolores);
D. Rafael – Rico proprietário de terras (velho invejoso do “Mariposas”);
Dolores – Filha de D. Rafael;
Camélias – Meninas que atendem no “Mariposas”;
Marinheiros – Amigos de D. Ricardo;
Felipe “Marinheiro” – Melhor amigo de D. Ricardo e apaixonado por;
Maria Paz “Camélia”– Camélia e melhor amiga (sem que ninguém saiba) de Dolores.

Do fundo da platéia entra uma vendedora de flores carregando uma cesta:

1ª cena

Vendedora de flores:

Maçãs do amor comprem maçãs do amor!
Aos momentos de alegria, aos momentos de dor;
Adoçam a vida e dão mais sabor!
Maçãs do amor comprem maçãs do amor!

(oferece a todos do publico. Sugestão da cesta que ela carrega sejam flores não maçãs do amor.)

Palco vazio e BO. Voz in off como um mestre de cerimônias de show:

2ª Cena

Voz

Senhoras e Senhores, uma Boa noite a todos! “Mariposas”, o cabaré mais fabuloso do mundo, apresenta o ultimo e melhor show da noite. Onde levaremos todos vocês à mágica produção do Gran D. Carlito e suas Camélias! (Entra D. Carlito passando de um extremo a outro do palco, cheio de si com Mercedes e suas meninas o acompanhando.) Senhoras e senhores, estamos honrados com a presença do maior produtor de uvas de nosso país, como generoso empresário – e apreciador do melhor vinho da casa, D. Rafael! (aplausos) E agora, um presente especial para um casal muito especial, eternos recém casados: Dona Dolores e D. Ricardo. (entra musica. Vai aos poucos baixando até sumir completamente. Risos e barulhos de noite em cabarés. Fecha)

Foco abre no centro do palco e vemos um ator sentado numa cadeira olhando a vendedora, ele diz – vemos que o ator está em um cabaré que fora movimentado, noite passada :

Ator:

Alguma vez experimentou bolinhos de ervilha? (pergunta ao publico, a vendedora continua oferecendo as flores ao publico e não percebe) Não há nada de especial neles, ouso dizer que parecem até pêlos de cachorro emaranhados, ficam presos no céu da boca uns fiapos que demoram em sair – numa coceira interminável; não os recomendo à ninguém. Meu nome é Juan Carlos Moriá, não sou ninguém importante, ou alguém a quem se deva acompanhar ou sequer apresentar-se a conhecer. Não espero que os senhores me respeitem, entretanto aconselho-os a não confiar-me suas senhoras sou o tipo subversivo, que as mulheres odeiam amar, de uma cidade afundada no lodo! Sou a perola fina que nasce da ostra deste lodo, sou o lodo no qual brotam as ostras. Há duas iguarias que sempre me instigam o desejo: Maçãs do amor – das carameladas, brilhantes ao sol, vermelhas e suculentas, enormes, a outra...

(representa a vendedora) Maçãs do Amor, comprem maçãs do amor!(chega a vendedora no palco. Diz a ela) Sua cantilena adocicada, aquele delicioso doce açucarado. (volta ao publico) Ah, a outra iguaria ? Bem, deixo a imaginação instigar o desejo!

O Ator a segura pelos pulsos quando ela chega a sua frente. Diz:

Ator:

Dois gardênias para ti, filhinha! (pega duas das rosas que enfeitam a roupa dela. Uma coloca na boca a outra passea pelo corpo – da vendedora.)

Entra mulher opulente e forte. Olha-os e diz

Atriz: (como numa canção)

Que te importa que te ame! Se tu não me queres mais. Se o amor que está passado não se deve recordar. Fui-te ilusão na vida, curtida – terra no olhar! Hoje represento o passado, não me posso conformar.

Ator: (vira-se para ela, diz:)

Ora, Mercedes. Deixe disso, tu bem sabe que nossa relação nada mais é senão profissionalismo. O bom e velho motivo de tu continuar aqui é o cheiro de maresia que os marinheiros vêm encontrar neste colo fogoso.

Mercedes: (irritada, tira a vendedora dos braços dele)

Me respeite, D. Carlito! (para a vendedora) E, tu, anda antes que mate o velho!

Camélia: (inocentemente)

Mas, Mercedes. D. Carlito me pediu uma maçã do amor, e eu ia...

Mercedes: (corta-a bruscamente)

D. Carlito é diabético, hipertenso e caduco. Agora, ande! Vá se arrumar que, a qualquer momento, pode chegar navio e quero todas prontas. (sai a vendedora)

D. Carlito: (deseperançoso)

Porque? Mercedes, você tem essa mania besta de matar-me! Pouco a pouco, por que você faz isso comigo que não entendo.

Mercedes:

Ora, razões femininas. Que só dizem respeito a mim.


D. Carlito: (mudando de assunto)

Onde você esteve esta tarde?

Mercedes:

Com um cliente!

D. Carlito:

Não te vi sair. Na verdade, nem a vi chegar da noite passada. Com qual cliente?

Mercedes: (vai tirando da bolsa um maço de notas)

Um cliente... muito, muito generoso!

D. Carlito:

Ótimo! Mas, quem seria? D. Diego? D. Francisco?

(Mercedes nega)

Mercedes:

Nenhum deles! (chama as “meninas”) Camélias, vamos lá! Senhoritas, vamos dar amor aos nossos meninos.

D. Carlito: (irritado, chama-a)

Mercedes! Você não esteve com ELE? Esteve?

(entram as Camélias. Passam e ficam entre D. Carlito e Mercedes.)

3ª Cena

D. Carlito:

Depois continuamos nossa conversa, Mercedes!

Camélias: (olha-os discutindo e cortam a briga dos dois)

Boa noite, D. Carlito!

(do fundo do palco ouvem-se as cantigas dos marinheiros)

4ª Cena

Marinheiros: (ritmo de samba)

Ai, mamãe o que se passou?
Foi na casa de Tula
Que tudo começou!
Graças a Camélia, malvada e cruel
Levou meu coração
Pegou em sua mão,
e me deixou na triste solidão!
Ai, mamãe! Ai, mamãe!

Mercedes: (ouvindo as vozes. Diz às Camélias)

Ora, vamos, vamos! Para seus quartos. D. Carlito, vou receber os meninos! (Sai)

D. Carlito: (indo para uma mesa)

Sim, Mercedes. (grita para o fundo) Babu! Babu!

(entra um garçom.)

5ª Cena

Babu:

Sim, chefe?

D. Carlito:

Veja a despensa, se precisa de compras, venha me avisar correndo! Veja se o bar está abastecido!

Babu: (fica estático)

Sim, senhor!

D. Carlito:

E você está esperando o que?

Babu: (sem entender)

É agora?

D. Carlito: (calmamente)

Babu?

Babu:

Senhor!

D. Carlito: (calmamente)

Você ouviu vozes aí fora?

Babu: (incrédulo)

Sim, senhor!



D. Carlito: (desesperado)

E está esperando o que, vai logo providenciar o que eu lhe pedi! Eu mereço isso!

6ª cena

(um dos marinheiros grita, de fora)

Marinheiro:

D. Carlito seu bode velho! Onde estão suas flores maravilhosas e vistosas: As Camélias?

Mercedes: (vindo gritando e trazendo o marinheiro)

D. Carlito, venha ver quem chegou! Veja quem está aqui!

D. Carlito:

Oh, Mercedes!

Mercedes:

Sim, D. Carlito! Ricardo, nosso menino! Ricardito!

D. Carlito: (para si)

Meu filho. (emociona-se e depois diz, duro) O que esse ingrato faz aqui? Veio rir nas costas de quem enterrou a mãe? Ou reclamar alguma herança do pai que ainda não morreu? Por que demorou tanto em vir pra casa?

Mercedes:

(a D. Carlito) Deixe de ser ranzinza, seu burro! (a Ricardo) Ande, dê um abraço naquele velho de coração duro!

(Ricardo anda até ele) – 1ª coreografia – “Entrada: O cabaré”

Dentro do show. Entra D. Rafael acompanhado de capatazes.

D. Rafael:

Ora, vejam, os clientes de D. Carlito usam uniformes! Será que são para ele poder identificá-los?

(D. Carlito parado olha-o e nada diz.)

D. Rafael:

Ou será que cada um que deita com Dolores recebe uma camisa como brinde?

(D. Carlito vira-se aos marinheiros)

D. Carlito:

Rapazes! Está na hora de deitar a madeira, Babu: leve Mercedes e as meninas pra fora!

(D. Carlito vai se pegar com D. Rafael. 2ª coreografia - “A Luta”. Mercedes, Babu e as meninas cercam os dois.)

D. Rafael:

Tu tem muita coragem de me desafiar deste jeito, Carlito!

D. Carlito:

E tu, de me peitar em meu estabelecimento!

D. Rafael:

“Seu”, até daqui a dez dias! Se não conseguir me pagar, ninguém poderá lhe ajudar! Não vai adiantar mais nem mandar a Mercedes vir me procurar. Dez dias, Carlito. DEZ! (vai saindo)

(D. Carlito, consternado, vê D. Rafael saindo. Depois vira-se e olha para Mercedes.)

D. Carlito:

Tu, Mercedes, foi procurá-lo? Por que?

Mercedes: (surpresa com a revelação)

D. Carlito! (D. Carlito sai)

(Babu, vindo do meio.)

Babu: (animando os casais)

Vamos lá, gente! É hora do tango. Musica, por favor, Banda! (rege a dança dos casais com Mercedes e D. Carlito, ao centro.) 3ª e 4ª Coreografias (A Dança e A Milonga) . (Mercedes sai)

B.O.

(D. Carlito. Sozinho. Com uma velha vitrola. Centro do palco – luz em media resistência. Um quarto velho.)

D. Carlito: (ébrio)

Dez dias! Bastardo, filho de uma vaca morfética! Como vou conseguir todo este dinheiro, de uma vez só, em dez dias. Noutros tempos eu não pensaria assim! (visionário. Lúdico) Abriria o “Mariposas” com um numero apresentado com Mercedes e “o Gran’” D. Carlito do tango, e apenas numa noite faria o dobro do que devo, mas o fogo está extinguindo-se e não suporta mais isso. (coloca a vitrola – gramofone – para funcionar) Ah, tu é o que me resta. (com a vitrola) Minhas recordações mais vivas que este porto! (balança a garrafa e entra na 5ª coreografia – A Vitrola.)

Fecha.

(Mercedes e D. Rafael. Dançando sozinhos.)

D. Rafael: (dançando)

O que era tão importante que a Senhora tinha para me dizer, D. Mercedes?


Mercedes:

D. Rafael, eu gostaria de lhe propor uma oferta em troca do “Mariposas”!

D. Rafael:

Geralmente, eu não negocio com mulheres! E, também sou eu quem faço propostas.

Mercedes:

Mas, creio que esta o senhor não recusará.

D. Rafael:

Gostaria que a senhora fosse mais clara, D. Mercedes!

Mercedes:

Amanhã espero o senhor para podermos esclarecer este assunto. Ao meio dia, me encontre aos fundos do Mariposas! (1”A Luta”)

B.O.

(Mercedes parada defronte à uma porta. Prepara-se para sair. Aberto um foco no centro acima dela. Abre outro foco com D. Carlito ao centro, supreende-a.)

D. Carlito:

Mercedes!


Mercedes:

Olá, D. Carlito ? (sem jeito)

D. Carlito:

Saindo calada assim, me faz desconfiar de você, Mercedes!

Mercedes:

Ia em Dona Afonsina. Ela vai fazer uma reza no Ricardito, nosso menino já está pra viajar, eu ia lá vê-lo!

D. Carlito:

Pensei que D. Afonsina morasse pro outro lado. Por aí, tu vai pro campo, e de lá para a fazenda de D. Rafael. (vê a bolsa de Mercedes.) Mas, que é isso, Mercedes? Por que está escondendo essa bolsa enorme?

Mercedes: (escondendo a bolsa desajeitadamente)

Ora, minha bolsa! Vai querer revistá-la?

D. Carlito: (indo saltar no foco dela. Abre-se outro foco com D. Rafael ao centro. (6ª coreografia))

Eu quero sim, está fachada é de minha casa e eu...

D. Rafael: (surpreendendo os dois)

Mas, é assim que se trata uma dama, Carlito? Dona Mercedes, boa tarde! (beija a mão dela – numa mímica)

D. Carlito:

E isso agora? O que você quer aqui, Rafael?

D. Rafael:

Eu vim para aceitar o convite de Dona Marcedes, iremos almoçar juntos. Me parece que ela irá me fazer uma proposta irrecusável, não é isso, Dona Mercedes?

Mercedes:

D. Carlito, D. Rafael! Por favor, parem. D. Carlito, preciso conversar com D. Rafael, eu iria comunicá-lo assim que tivesse uma resposta.

D. Carlito:

Resposta? Mas, que raios de resposta é essa?

Mercedes:

Logo o senhor irá sabê-la! (dá o braço à D. Rafael.)

D. Rafael:

Prometo que não se arrependerá, D. Carlito! Bem, sei que eu não. (sai as gargalhadas, levando Mercedes)

(D. Carlito fica sozinho no foco de Mercedes. Senta-se desolado. Vai-se descobrindo os dançarinos. Entre eles estão: Dolores – Filha de D. Rafael; Camélias – Meninas que atendem no “Mariposas”;
D. Ricardo – Filho de Carlito e marinheiro (apaixonado por Dolores); Marinheiros – Amigos de D. Ricardo; Felipe “Marinheiro” – Melhor amigo de D. Ricardo e apaixonado por; Maria Paz “Camélia”– Camélia e melhor amiga (sem que ninguém saiba) de Dolores. Maria Paz, aproxima-se de Dolores, que está indo pela primeira vez ao “Mariposas”, recebe-a: )

Maria Paz:

Dolores? O que você está fazendo aqui?

Dolores:

Quando você me disse que este lugar era grande, eu pensei que estivesse brincando!

Maria Paz:

É! Mas, se teu pai a pega aqui ele vai castigá-la!

Dolores:

Papai saiu hoje para o centro, e só voltará a noite bem tarde.

Maria Paz:

Então, gostou do “Mariposas”?

Dolores: (sem jeito)

É bem animado, não?

Maria Paz:

Venha, vamos dançar!

(puxa-a, mas ela fica sem graça. Presa ao chão. D. Ricardo se aproxima delas.)

D. Ricardo:

Olá, Maria Paz! Quem é sua amiga? Alguma Camélia nova?

Dolores:

Ora, veja como fala, Senhor! Meu nome é Dolores Carpa e eu sou normalista!

Maria Paz:

Não, Ricardito! Dolores é filha de D. Rafael...

Ricardo:

Ah, sim! O orgulho de D. Rafael. (olha-a por trás) Até que não é lá grandes coisas.

Maria Paz:

Ricardito! (repreende-o) Dona Dolores, o Ricardo é filho de D. Carlito!

Dolores:

Percebe-se pela falta de educação.

Ricardo:

Você quer dançar ou veio para brigar com todos aqui?

Maria Paz:

Ela, (sorri de soslaio) não está sentindo-se bem Ricardito!

Dolores: (toma a frente de Maria Paz)

Quem lhe disse isso? Vamos, Sr. Ricardo! – 7ª coreografia

(a 7ª coreografia termina e ficam Ricardo e Dolores.)

Ricardo:

A senhorita dança muito bem!

Dolores:

Apesar de ser grosseiro, o senhor, é muito delicado dançando!

Ricardo:

Pode me chamar de você. E obrigado pelo elogio... (sem entender e inseguro) eu acho!

Dolores: (sorri)

De nada.

Ricardo:

Você conhece meu pai?

Dolores:

Não pesoalmente! Meu pai fala muito dele, só que quase sempre com três ou quatro adjetivos antes do nome dele!

Ricardo:

Como assim?

Dolores:

Ele fica muito chateado quando os advogados dizem que seu pai é dono por direito das terras que ele comprou na mão de agenciadores.

Ricardo:

O Mariposas era do meu bisavô, foi herança ao meu avô e agora do meu pai! E, por mim continuará sendo da família por muito tempo.

Dolores:

Mas, meu pai está nessa luta tem uns dez anos e essa obsessão dos dois é perigosa, Ricardo!

Ricardo:

Eu sei, Dolores!

Dolores:

Se eu pudesse, terminaria isso de vez.

Ricardo: (olha-a)

Acho que você pode.

Dolores: (sem entender)

Como?

Ricardo: (vai beija-la)

Assim!

Dolores: (se afasta)

Ora, senhor! O que ia tentar fazer?

Ricardo: (segura-a nos braços)

Ia não... Com licença! (beija-a)

(Dolores rejeita, mas depois entrega-se nos braços de Ricardo. 8ª coreografia)

(Todos entram e surpreendem os dois que ficam desajeitados. Babu chega desajeitadamente.)

Babu: (gritando)

Ricardo! Ricardo, venha logo menino! Teu pai está lá atrás, desesperado, gritando como um louco e comendo banana sem parar. Desde que D. Mercedes saiu com D. Rafael! (aponta Dolores) É melhor esta menina ir embora antes que...

D. Carlito: (gritando)

Babu? Babu, onde está você?

Ricardo:

Babu! Tenha respeito com Dona Dolores! Vamos ver o que está acontecendo. (todos vão saindo. Quando entra D. Carlito com um cacho de bananas na mão.) (9ª coreogrfia)

D. Carlito:

(imitando ébrio) Não precisam ir até mim, eu venho até vocês! Vocês querem saber a verdade? Querem que eu lhes conte a verdade? Pois eu vou contar. Estejam prontos que eu vou descarregar toda a verdade para cima de vocês! Vocês são jovens, precisam e suportam ela. Pois bem, lá vai! Dona Mercedes acabou de sair daqui com... (vê Dolores ao lado de Ricardo) Mas, o que é isso? Meus olhos estão me enganando... Babu, Babu! Onde estão meus óculos, seu projeto de sommelieur! (Babu lhe traz os óculos) OH! (tira uma banana e come-a bruscamente) TRAIDOR! (come outra) JUDAS ISCARIOTES! (come outra e vai falando com a banana na boca) DESNATURADO, DESERTOR, BRUTUS! (joga as cascas nos dois) Saia daqui e leve a filha princesa do outro pra lá! O que fiz, meu Deus?

(Ricardo e os outros assistem a toda a tragédia.)

Ricardo:

Mas, o que está acontecendo D. Carlito?

Babu:

O senhor está passando bem?

D. Carlito: (andando com o cacho embaixo do braço)

Se eu estou bem? Se eu estou... claro que estou! Mercedes resolve sair com D. Rafael! (come uma banana) e encontro Ricardo ao lado de D. Dolores Carpa, filha de D. Rafael! (come outra banana) Como posso estar mal encontrando-me, inusitadamente no mesmo dia, com D. Rafael duas vezes?

Dolores:

D. Carlito, posso ser filha de D. Rafael. Mas, não gosto nem compartilho do que ele vem querendo fazer com o senhor ou com “o Mariposas”.

D. Carlito:

É isso que ele quer que eu pense! E a você também, sua besta! (joga uma casca de banana em Ricardo) Manda a filhinha se infiltrar aqui e leva a Mercedes pra lá! Depois tira todas informações de Mercedes e de você Ricardo! Acorda!

Ricardo: (olha para Dolores)

Você está obcecado D. Carlito! Dolores não faria isso nem comigo e nem com ninguém.
D. Carlito: (saindo)

Você não pode ser tão ingênuo assim... eu não acredito nisso!

Dolores: (passa pra cima de D. Carlito)

Olha aqui, D. Carlito! Eu vim aqui pra ver uma amiga e conheci o teu filho, mas me arrependo desde já de ter pisado os pés neste lugar! Até logo D. Ricardo. (vai saindo)

Ricardo:

Espere, Dolores! (para D. Carlito) Viu o que fez? (sai)

D. Carlito: (desolado)

Espere, Ricardo! (come uma banana) O que foi que eu fiz? (olha para os outros) Voces estão olhando o que? Vão trabalhar, tem muita coisa para arrumar! (sai)

(os outros vão se ajeitando. Como num bastidor de teatro. Uns procuram arrumar o palco outros levam cenário, todos ao fundo do palco. No meio três camélias conversam.)

Camelia 01:

Eu não consigo entender, D. Mercedes ficando com D. Rafael! D. Ricardo com D. Dolores!

Camélia 02:

Não é isso, D. Mercedes sempre ficou com D. Carlito! E D. Rafael e D. Mercedes já foram namorados...

Camélia 03:

Mas, romântico mesmo são os pombinhos ali. (apontam para Felipe e Maria Paz.)

As três:

Ai, ai!

(10ª coreografia)

(Entram os marinheiros.)

Marinheiro 01:

Moças, sabem o que dizem quando vêem duas moças dançando sozinhas?

Marinheiro 02:

Que: “ou a festa não está animada...

Marinheiro 03:

Ou falta homem no salão”!

Marinheiro 01:

Como este não é o caso, vamos a festa! (os três riem)

(1”Entrada: O cabaré”)

B.O.

(D. Mercedes volta. D. Carlito no outro extremo do palco. Luz em meia resistência para ele.)

Mercedes: (olha-o)

D. Carlito!

D. Carlito: (sem olhar para ela. Cabisbaixo e triste.)

Mercedes, você voltou!

Mercedes:

Eu nunca parti!

D. Carlito:

Mas, veio buscar suas coisas?

Mercedes:

Só se o senhor quiser!
D. Carlito:

D. Rafael deve ter ficado entusiasmado; com o “almojantar” de vocês, não?

Mercedes:

Eu não gosto de ouvi-lo falar assim comigo, mas me acostumei com seu jeito, sua defesa tão doce!

D. Carlito:

Você me deixou encurralado, sem saídas!

Mercedes:

Eu não trocaria o “Mariposas” por nada no mundo! O senhor é parte de minha vida, D. Carlito...

D. Carlito:

E a senhora da minha! (levanta-se e vai caminhando até ela)

Mercedes:

Mas, eu vou me casar com D. Rafael...

D. Carlito: (muda a expressão e volta-se, irado, as costa pra ela)

O QUE? DANINHA, MALDOSA, INFIEL... eu que TE AMO tanto! Você se volta assim contra meu coração, pisando nele de forma tão fria! O que é que se passa com você? Pode ser dona disso tudo aqui, eu que confio em ti desde que minha esposa morreu! Você que educou tão bem o Ricardo e cuidou deste lugar! VAI CASAR COM D. RAFAEL?

Mercedes:

D. Carlito! Eu...

D. Carlito: (interrompe-a)

Estou lhe abrindo o coração, mulher! Dizendo que te amo... case comigo, não com ele...

Mercedes: (vai até ele e avança com um beijo atravancado.)

D. Carlito:

INFIEL, noiva de outro e me beija! (sorri e beija-a de novo)

Mercedes:

Eu tenho o dinheiro para pagar tua divida!

D. Carlito: (surpreso)

O QUE?



Mercedes:

Amanhã é o prazo final, você precisa paga-lo! De outra forma, D. Carlito, eu terei que casar-me com D. Rafael para o “Mariposas” não ser derrubado. Por isso, aceite o dinheiro e pague-o de cabeça erguida!

D. Carlito: (consternado)

Tu tem o dinheiro? E quer que eu aceite para pagar minha divida?

Mercedes:

Sim, a menos que queira conviver comigo casada e dona, por direito, do “Mariposas”!

D. Carlito: (assustado)

Ai, meu Deus!

B.O.

Palco vazio e BO. Voz in off como um mestre de cerimônias de show:

Cena final

Voz

Senhoras e Senhores, uma Boa noite a todos! “Mariposas”, o cabaré mais fabuloso do mundo, apresenta o ultimo e melhor show da noite. Onde levaremos todos vocês à mágica produção do Gran D. Carlito do tango e suas Camélias! (Entra D. Carlito passando de um extremo a outro do palco, cheio de si com Mercedes e suas meninas o acompanhando.) Senhoras e senhores, estamos honrados com a presença do maior produtor de uvas de nosso país, como generoso empresário – e apreciador do melhor vinho da casa, D. Rafael! (aplausos) E agora, um presente especial para um casal muito especial, eternos recém casados: Dona Dolores e D. Ricardo. (entra musica. Vai aos poucos baixando até sumir completamente. Risos e barulhos de noite em cabarés. Fecha) E agora, nosso modo de lhes dizer: Boa Noite! Buenas Noches, “Mariposas”!

(13ª coreografia)

FIM

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