Personagens:
Carlito – Velho boêmio, cafetão e ex-dançarino de tango;
Mercedes – Dama da noite e chefe das “meninas” – par de Carlito no tango;
D. Ricardo – Filho de Carlito e marinheiro (apaixonado por Dolores);
D. Rafael – Rico proprietário de terras (velho invejoso do “Mariposas”);
Dolores – Filha de D. Rafael;
Camélias – Meninas que atendem no “Mariposas”;
Marinheiros – Amigos de D. Ricardo;
Felipe “Marinheiro” – Melhor amigo de D. Ricardo e apaixonado por;
Maria Paz “Camélia”– Camélia e melhor amiga (sem que ninguém saiba) de Dolores.
Do fundo da platéia entra uma vendedora de flores carregando uma cesta:
1ª cena
Vendedora de flores:
Maçãs do amor comprem maçãs do amor!
Aos momentos de alegria, aos momentos de dor;
Adoçam a vida e dão mais sabor!
Maçãs do amor comprem maçãs do amor!
(oferece a todos do publico. Sugestão da cesta que ela carrega sejam flores não maçãs do amor.)
Palco vazio e BO. Voz in off como um mestre de cerimônias de show:
2ª Cena
Voz
Senhoras e Senhores, uma Boa noite a todos! “Mariposas”, o cabaré mais fabuloso do mundo, apresenta o ultimo e melhor show da noite. Onde levaremos todos vocês à mágica produção do Gran D. Carlito e suas Camélias! (Entra D. Carlito passando de um extremo a outro do palco, cheio de si com Mercedes e suas meninas o acompanhando.) Senhoras e senhores, estamos honrados com a presença do maior produtor de uvas de nosso país, como generoso empresário – e apreciador do melhor vinho da casa, D. Rafael! (aplausos) E agora, um presente especial para um casal muito especial, eternos recém casados: Dona Dolores e D. Ricardo. (entra musica. Vai aos poucos baixando até sumir completamente. Risos e barulhos de noite em cabarés. Fecha)
Foco abre no centro do palco e vemos um ator sentado numa cadeira olhando a vendedora, ele diz – vemos que o ator está em um cabaré que fora movimentado, noite passada :
Ator:
Alguma vez experimentou bolinhos de ervilha? (pergunta ao publico, a vendedora continua oferecendo as flores ao publico e não percebe) Não há nada de especial neles, ouso dizer que parecem até pêlos de cachorro emaranhados, ficam presos no céu da boca uns fiapos que demoram em sair – numa coceira interminável; não os recomendo à ninguém. Meu nome é Juan Carlos Moriá, não sou ninguém importante, ou alguém a quem se deva acompanhar ou sequer apresentar-se a conhecer. Não espero que os senhores me respeitem, entretanto aconselho-os a não confiar-me suas senhoras sou o tipo subversivo, que as mulheres odeiam amar, de uma cidade afundada no lodo! Sou a perola fina que nasce da ostra deste lodo, sou o lodo no qual brotam as ostras. Há duas iguarias que sempre me instigam o desejo: Maçãs do amor – das carameladas, brilhantes ao sol, vermelhas e suculentas, enormes, a outra...
(representa a vendedora) Maçãs do Amor, comprem maçãs do amor!(chega a vendedora no palco. Diz a ela) Sua cantilena adocicada, aquele delicioso doce açucarado. (volta ao publico) Ah, a outra iguaria ? Bem, deixo a imaginação instigar o desejo!
O Ator a segura pelos pulsos quando ela chega a sua frente. Diz:
Ator:
Dois gardênias para ti, filhinha! (pega duas das rosas que enfeitam a roupa dela. Uma coloca na boca a outra passea pelo corpo – da vendedora.)
Entra mulher opulente e forte. Olha-os e diz
Atriz: (como numa canção)
Que te importa que te ame! Se tu não me queres mais. Se o amor que está passado não se deve recordar. Fui-te ilusão na vida, curtida – terra no olhar! Hoje represento o passado, não me posso conformar.
Ator: (vira-se para ela, diz:)
Ora, Mercedes. Deixe disso, tu bem sabe que nossa relação nada mais é senão profissionalismo. O bom e velho motivo de tu continuar aqui é o cheiro de maresia que os marinheiros vêm encontrar neste colo fogoso.
Mercedes: (irritada, tira a vendedora dos braços dele)
Me respeite, D. Carlito! (para a vendedora) E, tu, anda antes que mate o velho!
Camélia: (inocentemente)
Mas, Mercedes. D. Carlito me pediu uma maçã do amor, e eu ia...
Mercedes: (corta-a bruscamente)
D. Carlito é diabético, hipertenso e caduco. Agora, ande! Vá se arrumar que, a qualquer momento, pode chegar navio e quero todas prontas. (sai a vendedora)
D. Carlito: (deseperançoso)
Porque? Mercedes, você tem essa mania besta de matar-me! Pouco a pouco, por que você faz isso comigo que não entendo.
Mercedes:
Ora, razões femininas. Que só dizem respeito a mim.
D. Carlito: (mudando de assunto)
Onde você esteve esta tarde?
Mercedes:
Com um cliente!
D. Carlito:
Não te vi sair. Na verdade, nem a vi chegar da noite passada. Com qual cliente?
Mercedes: (vai tirando da bolsa um maço de notas)
Um cliente... muito, muito generoso!
D. Carlito:
Ótimo! Mas, quem seria? D. Diego? D. Francisco?
(Mercedes nega)
Mercedes:
Nenhum deles! (chama as “meninas”) Camélias, vamos lá! Senhoritas, vamos dar amor aos nossos meninos.
D. Carlito: (irritado, chama-a)
Mercedes! Você não esteve com ELE? Esteve?
(entram as Camélias. Passam e ficam entre D. Carlito e Mercedes.)
3ª Cena
D. Carlito:
Depois continuamos nossa conversa, Mercedes!
Camélias: (olha-os discutindo e cortam a briga dos dois)
Boa noite, D. Carlito!
(do fundo do palco ouvem-se as cantigas dos marinheiros)
4ª Cena
Marinheiros: (ritmo de samba)
Ai, mamãe o que se passou?
Foi na casa de Tula
Que tudo começou!
Graças a Camélia, malvada e cruel
Levou meu coração
Pegou em sua mão,
e me deixou na triste solidão!
Ai, mamãe! Ai, mamãe!
Mercedes: (ouvindo as vozes. Diz às Camélias)
Ora, vamos, vamos! Para seus quartos. D. Carlito, vou receber os meninos! (Sai)
D. Carlito: (indo para uma mesa)
Sim, Mercedes. (grita para o fundo) Babu! Babu!
(entra um garçom.)
5ª Cena
Babu:
Sim, chefe?
D. Carlito:
Veja a despensa, se precisa de compras, venha me avisar correndo! Veja se o bar está abastecido!
Babu: (fica estático)
Sim, senhor!
D. Carlito:
E você está esperando o que?
Babu: (sem entender)
É agora?
D. Carlito: (calmamente)
Babu?
Babu:
Senhor!
D. Carlito: (calmamente)
Você ouviu vozes aí fora?
Babu: (incrédulo)
Sim, senhor!
D. Carlito: (desesperado)
E está esperando o que, vai logo providenciar o que eu lhe pedi! Eu mereço isso!
6ª cena
(um dos marinheiros grita, de fora)
Marinheiro:
D. Carlito seu bode velho! Onde estão suas flores maravilhosas e vistosas: As Camélias?
Mercedes: (vindo gritando e trazendo o marinheiro)
D. Carlito, venha ver quem chegou! Veja quem está aqui!
D. Carlito:
Oh, Mercedes!
Mercedes:
Sim, D. Carlito! Ricardo, nosso menino! Ricardito!
D. Carlito: (para si)
Meu filho. (emociona-se e depois diz, duro) O que esse ingrato faz aqui? Veio rir nas costas de quem enterrou a mãe? Ou reclamar alguma herança do pai que ainda não morreu? Por que demorou tanto em vir pra casa?
Mercedes:
(a D. Carlito) Deixe de ser ranzinza, seu burro! (a Ricardo) Ande, dê um abraço naquele velho de coração duro!
(Ricardo anda até ele) – 1ª coreografia – “Entrada: O cabaré”
Dentro do show. Entra D. Rafael acompanhado de capatazes.
D. Rafael:
Ora, vejam, os clientes de D. Carlito usam uniformes! Será que são para ele poder identificá-los?
(D. Carlito parado olha-o e nada diz.)
D. Rafael:
Ou será que cada um que deita com Dolores recebe uma camisa como brinde?
(D. Carlito vira-se aos marinheiros)
D. Carlito:
Rapazes! Está na hora de deitar a madeira, Babu: leve Mercedes e as meninas pra fora!
(D. Carlito vai se pegar com D. Rafael. 2ª coreografia - “A Luta”. Mercedes, Babu e as meninas cercam os dois.)
D. Rafael:
Tu tem muita coragem de me desafiar deste jeito, Carlito!
D. Carlito:
E tu, de me peitar em meu estabelecimento!
D. Rafael:
“Seu”, até daqui a dez dias! Se não conseguir me pagar, ninguém poderá lhe ajudar! Não vai adiantar mais nem mandar a Mercedes vir me procurar. Dez dias, Carlito. DEZ! (vai saindo)
(D. Carlito, consternado, vê D. Rafael saindo. Depois vira-se e olha para Mercedes.)
D. Carlito:
Tu, Mercedes, foi procurá-lo? Por que?
Mercedes: (surpresa com a revelação)
D. Carlito! (D. Carlito sai)
(Babu, vindo do meio.)
Babu: (animando os casais)
Vamos lá, gente! É hora do tango. Musica, por favor, Banda! (rege a dança dos casais com Mercedes e D. Carlito, ao centro.) 3ª e 4ª Coreografias (A Dança e A Milonga) . (Mercedes sai)
B.O.
(D. Carlito. Sozinho. Com uma velha vitrola. Centro do palco – luz em media resistência. Um quarto velho.)
D. Carlito: (ébrio)
Dez dias! Bastardo, filho de uma vaca morfética! Como vou conseguir todo este dinheiro, de uma vez só, em dez dias. Noutros tempos eu não pensaria assim! (visionário. Lúdico) Abriria o “Mariposas” com um numero apresentado com Mercedes e “o Gran’” D. Carlito do tango, e apenas numa noite faria o dobro do que devo, mas o fogo está extinguindo-se e não suporta mais isso. (coloca a vitrola – gramofone – para funcionar) Ah, tu é o que me resta. (com a vitrola) Minhas recordações mais vivas que este porto! (balança a garrafa e entra na 5ª coreografia – A Vitrola.)
Fecha.
(Mercedes e D. Rafael. Dançando sozinhos.)
D. Rafael: (dançando)
O que era tão importante que a Senhora tinha para me dizer, D. Mercedes?
Mercedes:
D. Rafael, eu gostaria de lhe propor uma oferta em troca do “Mariposas”!
D. Rafael:
Geralmente, eu não negocio com mulheres! E, também sou eu quem faço propostas.
Mercedes:
Mas, creio que esta o senhor não recusará.
D. Rafael:
Gostaria que a senhora fosse mais clara, D. Mercedes!
Mercedes:
Amanhã espero o senhor para podermos esclarecer este assunto. Ao meio dia, me encontre aos fundos do Mariposas! (1”A Luta”)
B.O.
(Mercedes parada defronte à uma porta. Prepara-se para sair. Aberto um foco no centro acima dela. Abre outro foco com D. Carlito ao centro, supreende-a.)
D. Carlito:
Mercedes!
Mercedes:
Olá, D. Carlito ? (sem jeito)
D. Carlito:
Saindo calada assim, me faz desconfiar de você, Mercedes!
Mercedes:
Ia em Dona Afonsina. Ela vai fazer uma reza no Ricardito, nosso menino já está pra viajar, eu ia lá vê-lo!
D. Carlito:
Pensei que D. Afonsina morasse pro outro lado. Por aí, tu vai pro campo, e de lá para a fazenda de D. Rafael. (vê a bolsa de Mercedes.) Mas, que é isso, Mercedes? Por que está escondendo essa bolsa enorme?
Mercedes: (escondendo a bolsa desajeitadamente)
Ora, minha bolsa! Vai querer revistá-la?
D. Carlito: (indo saltar no foco dela. Abre-se outro foco com D. Rafael ao centro. (6ª coreografia))
Eu quero sim, está fachada é de minha casa e eu...
D. Rafael: (surpreendendo os dois)
Mas, é assim que se trata uma dama, Carlito? Dona Mercedes, boa tarde! (beija a mão dela – numa mímica)
D. Carlito:
E isso agora? O que você quer aqui, Rafael?
D. Rafael:
Eu vim para aceitar o convite de Dona Marcedes, iremos almoçar juntos. Me parece que ela irá me fazer uma proposta irrecusável, não é isso, Dona Mercedes?
Mercedes:
D. Carlito, D. Rafael! Por favor, parem. D. Carlito, preciso conversar com D. Rafael, eu iria comunicá-lo assim que tivesse uma resposta.
D. Carlito:
Resposta? Mas, que raios de resposta é essa?
Mercedes:
Logo o senhor irá sabê-la! (dá o braço à D. Rafael.)
D. Rafael:
Prometo que não se arrependerá, D. Carlito! Bem, sei que eu não. (sai as gargalhadas, levando Mercedes)
(D. Carlito fica sozinho no foco de Mercedes. Senta-se desolado. Vai-se descobrindo os dançarinos. Entre eles estão: Dolores – Filha de D. Rafael; Camélias – Meninas que atendem no “Mariposas”;
D. Ricardo – Filho de Carlito e marinheiro (apaixonado por Dolores); Marinheiros – Amigos de D. Ricardo; Felipe “Marinheiro” – Melhor amigo de D. Ricardo e apaixonado por; Maria Paz “Camélia”– Camélia e melhor amiga (sem que ninguém saiba) de Dolores. Maria Paz, aproxima-se de Dolores, que está indo pela primeira vez ao “Mariposas”, recebe-a: )
Maria Paz:
Dolores? O que você está fazendo aqui?
Dolores:
Quando você me disse que este lugar era grande, eu pensei que estivesse brincando!
Maria Paz:
É! Mas, se teu pai a pega aqui ele vai castigá-la!
Dolores:
Papai saiu hoje para o centro, e só voltará a noite bem tarde.
Maria Paz:
Então, gostou do “Mariposas”?
Dolores: (sem jeito)
É bem animado, não?
Maria Paz:
Venha, vamos dançar!
(puxa-a, mas ela fica sem graça. Presa ao chão. D. Ricardo se aproxima delas.)
D. Ricardo:
Olá, Maria Paz! Quem é sua amiga? Alguma Camélia nova?
Dolores:
Ora, veja como fala, Senhor! Meu nome é Dolores Carpa e eu sou normalista!
Maria Paz:
Não, Ricardito! Dolores é filha de D. Rafael...
Ricardo:
Ah, sim! O orgulho de D. Rafael. (olha-a por trás) Até que não é lá grandes coisas.
Maria Paz:
Ricardito! (repreende-o) Dona Dolores, o Ricardo é filho de D. Carlito!
Dolores:
Percebe-se pela falta de educação.
Ricardo:
Você quer dançar ou veio para brigar com todos aqui?
Maria Paz:
Ela, (sorri de soslaio) não está sentindo-se bem Ricardito!
Dolores: (toma a frente de Maria Paz)
Quem lhe disse isso? Vamos, Sr. Ricardo! – 7ª coreografia
(a 7ª coreografia termina e ficam Ricardo e Dolores.)
Ricardo:
A senhorita dança muito bem!
Dolores:
Apesar de ser grosseiro, o senhor, é muito delicado dançando!
Ricardo:
Pode me chamar de você. E obrigado pelo elogio... (sem entender e inseguro) eu acho!
Dolores: (sorri)
De nada.
Ricardo:
Você conhece meu pai?
Dolores:
Não pesoalmente! Meu pai fala muito dele, só que quase sempre com três ou quatro adjetivos antes do nome dele!
Ricardo:
Como assim?
Dolores:
Ele fica muito chateado quando os advogados dizem que seu pai é dono por direito das terras que ele comprou na mão de agenciadores.
Ricardo:
O Mariposas era do meu bisavô, foi herança ao meu avô e agora do meu pai! E, por mim continuará sendo da família por muito tempo.
Dolores:
Mas, meu pai está nessa luta tem uns dez anos e essa obsessão dos dois é perigosa, Ricardo!
Ricardo:
Eu sei, Dolores!
Dolores:
Se eu pudesse, terminaria isso de vez.
Ricardo: (olha-a)
Acho que você pode.
Dolores: (sem entender)
Como?
Ricardo: (vai beija-la)
Assim!
Dolores: (se afasta)
Ora, senhor! O que ia tentar fazer?
Ricardo: (segura-a nos braços)
Ia não... Com licença! (beija-a)
(Dolores rejeita, mas depois entrega-se nos braços de Ricardo. 8ª coreografia)
(Todos entram e surpreendem os dois que ficam desajeitados. Babu chega desajeitadamente.)
Babu: (gritando)
Ricardo! Ricardo, venha logo menino! Teu pai está lá atrás, desesperado, gritando como um louco e comendo banana sem parar. Desde que D. Mercedes saiu com D. Rafael! (aponta Dolores) É melhor esta menina ir embora antes que...
D. Carlito: (gritando)
Babu? Babu, onde está você?
Ricardo:
Babu! Tenha respeito com Dona Dolores! Vamos ver o que está acontecendo. (todos vão saindo. Quando entra D. Carlito com um cacho de bananas na mão.) (9ª coreogrfia)
D. Carlito:
(imitando ébrio) Não precisam ir até mim, eu venho até vocês! Vocês querem saber a verdade? Querem que eu lhes conte a verdade? Pois eu vou contar. Estejam prontos que eu vou descarregar toda a verdade para cima de vocês! Vocês são jovens, precisam e suportam ela. Pois bem, lá vai! Dona Mercedes acabou de sair daqui com... (vê Dolores ao lado de Ricardo) Mas, o que é isso? Meus olhos estão me enganando... Babu, Babu! Onde estão meus óculos, seu projeto de sommelieur! (Babu lhe traz os óculos) OH! (tira uma banana e come-a bruscamente) TRAIDOR! (come outra) JUDAS ISCARIOTES! (come outra e vai falando com a banana na boca) DESNATURADO, DESERTOR, BRUTUS! (joga as cascas nos dois) Saia daqui e leve a filha princesa do outro pra lá! O que fiz, meu Deus?
(Ricardo e os outros assistem a toda a tragédia.)
Ricardo:
Mas, o que está acontecendo D. Carlito?
Babu:
O senhor está passando bem?
D. Carlito: (andando com o cacho embaixo do braço)
Se eu estou bem? Se eu estou... claro que estou! Mercedes resolve sair com D. Rafael! (come uma banana) e encontro Ricardo ao lado de D. Dolores Carpa, filha de D. Rafael! (come outra banana) Como posso estar mal encontrando-me, inusitadamente no mesmo dia, com D. Rafael duas vezes?
Dolores:
D. Carlito, posso ser filha de D. Rafael. Mas, não gosto nem compartilho do que ele vem querendo fazer com o senhor ou com “o Mariposas”.
D. Carlito:
É isso que ele quer que eu pense! E a você também, sua besta! (joga uma casca de banana em Ricardo) Manda a filhinha se infiltrar aqui e leva a Mercedes pra lá! Depois tira todas informações de Mercedes e de você Ricardo! Acorda!
Ricardo: (olha para Dolores)
Você está obcecado D. Carlito! Dolores não faria isso nem comigo e nem com ninguém.
D. Carlito: (saindo)
Você não pode ser tão ingênuo assim... eu não acredito nisso!
Dolores: (passa pra cima de D. Carlito)
Olha aqui, D. Carlito! Eu vim aqui pra ver uma amiga e conheci o teu filho, mas me arrependo desde já de ter pisado os pés neste lugar! Até logo D. Ricardo. (vai saindo)
Ricardo:
Espere, Dolores! (para D. Carlito) Viu o que fez? (sai)
D. Carlito: (desolado)
Espere, Ricardo! (come uma banana) O que foi que eu fiz? (olha para os outros) Voces estão olhando o que? Vão trabalhar, tem muita coisa para arrumar! (sai)
(os outros vão se ajeitando. Como num bastidor de teatro. Uns procuram arrumar o palco outros levam cenário, todos ao fundo do palco. No meio três camélias conversam.)
Camelia 01:
Eu não consigo entender, D. Mercedes ficando com D. Rafael! D. Ricardo com D. Dolores!
Camélia 02:
Não é isso, D. Mercedes sempre ficou com D. Carlito! E D. Rafael e D. Mercedes já foram namorados...
Camélia 03:
Mas, romântico mesmo são os pombinhos ali. (apontam para Felipe e Maria Paz.)
As três:
Ai, ai!
(10ª coreografia)
(Entram os marinheiros.)
Marinheiro 01:
Moças, sabem o que dizem quando vêem duas moças dançando sozinhas?
Marinheiro 02:
Que: “ou a festa não está animada...
Marinheiro 03:
Ou falta homem no salão”!
Marinheiro 01:
Como este não é o caso, vamos a festa! (os três riem)
(1”Entrada: O cabaré”)
B.O.
(D. Mercedes volta. D. Carlito no outro extremo do palco. Luz em meia resistência para ele.)
Mercedes: (olha-o)
D. Carlito!
D. Carlito: (sem olhar para ela. Cabisbaixo e triste.)
Mercedes, você voltou!
Mercedes:
Eu nunca parti!
D. Carlito:
Mas, veio buscar suas coisas?
Mercedes:
Só se o senhor quiser!
D. Carlito:
D. Rafael deve ter ficado entusiasmado; com o “almojantar” de vocês, não?
Mercedes:
Eu não gosto de ouvi-lo falar assim comigo, mas me acostumei com seu jeito, sua defesa tão doce!
D. Carlito:
Você me deixou encurralado, sem saídas!
Mercedes:
Eu não trocaria o “Mariposas” por nada no mundo! O senhor é parte de minha vida, D. Carlito...
D. Carlito:
E a senhora da minha! (levanta-se e vai caminhando até ela)
Mercedes:
Mas, eu vou me casar com D. Rafael...
D. Carlito: (muda a expressão e volta-se, irado, as costa pra ela)
O QUE? DANINHA, MALDOSA, INFIEL... eu que TE AMO tanto! Você se volta assim contra meu coração, pisando nele de forma tão fria! O que é que se passa com você? Pode ser dona disso tudo aqui, eu que confio em ti desde que minha esposa morreu! Você que educou tão bem o Ricardo e cuidou deste lugar! VAI CASAR COM D. RAFAEL?
Mercedes:
D. Carlito! Eu...
D. Carlito: (interrompe-a)
Estou lhe abrindo o coração, mulher! Dizendo que te amo... case comigo, não com ele...
Mercedes: (vai até ele e avança com um beijo atravancado.)
D. Carlito:
INFIEL, noiva de outro e me beija! (sorri e beija-a de novo)
Mercedes:
Eu tenho o dinheiro para pagar tua divida!
D. Carlito: (surpreso)
O QUE?
Mercedes:
Amanhã é o prazo final, você precisa paga-lo! De outra forma, D. Carlito, eu terei que casar-me com D. Rafael para o “Mariposas” não ser derrubado. Por isso, aceite o dinheiro e pague-o de cabeça erguida!
D. Carlito: (consternado)
Tu tem o dinheiro? E quer que eu aceite para pagar minha divida?
Mercedes:
Sim, a menos que queira conviver comigo casada e dona, por direito, do “Mariposas”!
D. Carlito: (assustado)
Ai, meu Deus!
B.O.
Palco vazio e BO. Voz in off como um mestre de cerimônias de show:
Cena final
Voz
Senhoras e Senhores, uma Boa noite a todos! “Mariposas”, o cabaré mais fabuloso do mundo, apresenta o ultimo e melhor show da noite. Onde levaremos todos vocês à mágica produção do Gran D. Carlito do tango e suas Camélias! (Entra D. Carlito passando de um extremo a outro do palco, cheio de si com Mercedes e suas meninas o acompanhando.) Senhoras e senhores, estamos honrados com a presença do maior produtor de uvas de nosso país, como generoso empresário – e apreciador do melhor vinho da casa, D. Rafael! (aplausos) E agora, um presente especial para um casal muito especial, eternos recém casados: Dona Dolores e D. Ricardo. (entra musica. Vai aos poucos baixando até sumir completamente. Risos e barulhos de noite em cabarés. Fecha) E agora, nosso modo de lhes dizer: Boa Noite! Buenas Noches, “Mariposas”!
(13ª coreografia)
FIM
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