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O amor está morto
Uma pessoa seria capaz de retornar à vida em nome do AMOR?
Carlos Rogério Lima da Mota

Resumo:
"Encostei-me no carro e ouvi o que tanto tinha para me dizer, foi aí que percebi que nós, seres humanos, somos tão arrogantes, incapazes de sentir a tristeza alheia e compadecer-se das dores daqueles que tanto necessitam de nosso apreço. De fato, aquele homem nada queria, aliás, queria sim, e era tão pouco! Apenas conversar...conversar...conversar..! "

Dia desses, noite escura, tempo nublado e garoa fina caindo, parei em um posto de gasolina para abastecer o carro, quando fui abordado por um estranho que, apesar das roupas - um gorro surrado, já amarelado pela sujeira, calça e casaco amarrotados, aparentava possuir um vasto conhecimento, tal a forma como me abordara: "Por obséquio! Poderia falar um minuto com vossa senhoria?"

Confesso que, motivado pelo medo, muitas vezes ignorei conversas alheias, mas ao ouvir aquelas palavras, senti-me atraído, com uma vontade louca de conversar com aquele sujeito, cuja aparência beirava os 70 e poucos anos.

Perguntei então o que desejava. Foi quando tive uma surpresa. Ele nada queria... Nem dinheiro, nem cigarros (apesar de que não fumo), nem vender qualquer tipo de produto. Curioso, afastei-me, pensando que fosse um assalto ou algo do tipo. Imagine aquele homem a isca de uma quadrilha para me levar o pouco que tinha?

_Acalme-se, moço! - pediu-me ele, com sereno tom de voz. Não quero nada seu... Nada! - um sorriso lindo brilhou naquela face seguido por lágrimas, algumas apenas, que lhe desciam a face, sem rumo. Fique tranqüilo, eu não quero nada do senhor!

_ Então por que me abordou? – questionei-o, abismado com a sua sinceridade. Em que posso ajudá-lo?

_ Preciso de um simples favor...

_ E o que seria? - entrecortei-o, com os olhos a correr seus trajes.

_ Sua atenção! Só!..É possível?

Não estava entendendo nada. Encostei-me no carro e ouvi o que tanto tinha para me dizer, foi aí que percebi que nós, seres humanos, somos tão arrogantes, incapazes de sentir a tristeza alheia e compadecer-se das dores daqueles que tanto necessitam de nosso apreço. De fato, aquele homem nada queria, aliás, queria sim, e era tão pouco! Apenas conversar...conversar...conversar..! De um possível assalto a uma conversa franca com um desconhecido. Que bela peça do destino!

Cada palavra que dizia, cada frase que formava, mais profundamente eu sentia o remorso me cutucar, perfurar meu coração, fazendo-me também chorar. Como pudera ter pensado tanta coisa ruim daquele homem? Com que direito minha mente ultrapassava a divisão das terras demarcantes da dúvida e da certeza, rendendo-me ao verme do medo, que nos faz primeiro agir para só depois pensar? Meu Deus! Como eu estava envergonhado!

_ Obrigado, meu jovem! Que Deus lhe pague por esses minutos... - E lá se foi o homem, sumindo aos poucos na escuridão.

_Quem era? Queria lhe assaltar? - perguntou-me um frentista, aproximando-se.

_Eu que lhe roubei... –respondi, em meio à reflexão.


_CO-MO AS-SIM? - indagou o coitado, com os olhos arregalados, dando um passo para trás. E... o que lhe roubou?

_...a SABEDORIA! - completei a frase, com um largo sorriso no rosto.

O rapaz certamente achou-me também louco, a ponto de se afastar de vez. Limpei as lágrimas, resolvi abastecer outro dia, entrei no carro, dei a partida e, ao andar algumas quadras, percebi que o pneu havia furado. Estava diante de um ponto de táxi. Paguei a um taxista para que trocasse o pneu e, durante o serviço, conversamos sobre o ocorrido, quando o homem, completamente extasiado, deixou a roda cair e correr pela lateral, para me perguntar:

_MO-MO-ÇO... O QUE ES-ES-TÁ ME DIZENDO?

Repeti a história.

_ E-ELE USAVA UM GORRO E UM JOGO DE PALETÓ BEM ENVELHECIDO?

Confirmei a descrição.

_Esse homem morreu há 10 anos, vítima do abandono familiar. O filho o trancou num quarto e o deixou lá padecer, em cima daquela cama, vítima de uma terrível doença... Quando o acharam, junto ao corpo havia um bilhete, com as seguintes palavras: “Eu não queria nada desse mundo, apenas conversar, sentir as pessoas, ser um ser humano de verdade... Enfim! Isso eu nunca consegui! Para mim, o amor nunca existiu! Está morto!"


Biografia:
Formado em Letras e em Educomunicação. Casado, 34 anos, 3 filhos. Colaborador de diversos órgãos midiáticos, sendo eles: YesMarília - (www.yesmarilia.com.br), parceiro da Globo.Com na cidade de Marília, interior de São Paulo, Jornal da Manhã de Marília e Revista Eletrônica Alô Ibiúna, de Ibiúna/SP. Pertence ao quadro de autores da Editora Virtual Usina de Letras (www.contosjuvenis.cjb.net), mantido pelo Sindicato de Escritores de Brasília, que conta, até o momento, com mais de 99 obras publicadas de sua autoria, em sua maioria, artigos e contos de suspense. Seu sonho é ser apenas FELIZ em vida, afinal, que autor consegue ser feliz ao ser incomodado o tempo todo por sua visão perspicaz e sensível de um mundo já torpe feito o atual? * Sites para os quais escreve: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/carlosmota http://twitter.com/autorcarlosmota http://www.artigonal.com/find-articles.php?q=carlos+rogerio+lima+da+mota www.brasilwiki.com.br www.etextos.com.br www.contosjuvenis.cjb.net http://carlosmota.dihitt.com.br/ www.autores.com.br/carlosmota http://www.jornaldamanhamarilia.com.br/site/ver_noticia.aspx?CodNoticia=8298 http://www.diariodesorocaba.com.br/noticias/not.php?id=21168 http://www.talentos.wiki.br/post.php?id=14206 http://autorcarlosmota.blogs.sapo.pt http://contosjuvenis.weblog.com.pt/ http://literaturaperiferica.ning.com/profile/carlosmota
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Crônicas SERES INVISÍVEIS Carlos Rogério Lima da Mota

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