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VI - Aquarius
Europa Sanzio

[ESSE TEXTO FAZ PARTE DE UMA NOVELA, COM ESSA SENDO A SEXTA PARTE]

Terça Feira, 22 de Agosto

A coisa aconteceu e estou aqui para honrar com a minha palavra. O que pode ser de muita contrariedade, já que o que irei narrar aqui é de uma grande desonra. Vejam, não tive maiores problemas em dizer-lhes, por exemplo, que eu frequentava bordéis mesmo sendo casado. Isso porque, para mim, isso não é desonrado. Ter uma mulher como que não cumpre o seu papel maior como esposa nos faz ir atrás dessas espécimes de coisa. O que irei dizer aqui, no entanto, é a história de um abandono por completo. Talvez senhores, já sendo conhecedores de meu gênio, estranhem minha preocupação com essa causa e até acreditem que ela seja pequena demais para toda essa minha angústia. Concordo com vos. Mas, repito, ainda resta um fio de uma estranha humanidade em mim!

Há uns dezessete anos, tinha eu já passado dos meus trinta de idade. Havia terminado a faculdade de direito, trabalhado em alguns negócios improdutivos em Belo Horizonte e, enfim, retornado para Vila Doracy a fim de espairecer. A verdade que eu estava falido financeiramente e me propus a escorar-me em meu pai por uns tempos, mesmo que ele fosse um homem detestável. Não fazia tanto mal. Eu passava o dia na fazenda, sempre arrumando algo para fazer, e meu pai fora, já um idoso, bebendo e caindo das pernas por aí. Eu não procurava repreende-lo, pois dava meu suor e sangue para passar quase despercebido pelos corredores do casarão da fazenda. Meu pai já começava a desconfiar que eu estava ali não apenas para tomar ar e ficar com a família, mas somente para comer e ter uma cama. Foram tempos de puro ócio. Desacostumei-me com o trabalho, seja ele manso ou pesado, e toda vez que me era questionado o motivo de eu não estar fazendo nada, eu acatava o tom de ofensa e respondia que estava fazendo uma produção intelectual. Não fazendo nem um nem outro, havia tempo de sobra para qualquer deleite que me surgisse.

Gastão, meu irmão, caros, estava casado. Com Teresa. Sim, pois antes dela vir a ser minha, foi dele. Estavam juntos há bons anos, tinham ganhado uma construção completa de uma casa só para eles, perto do casarão da fazenda, e possuíam dois filhos que agora tenho como meus. Teresa veio de uma boa e respeitosa família. Ela tinha para lá dos seus trinta anos quando a vi pela primeira vez, mesmo assim não pude deixar de notar a sua beleza. Não era do tipo cativante e tampouco exótica. Era dura como todo o resto dela. E que mulher rígida! Não era adepta das conversas sem propósito e raramente era vista dando início a algum assunto fútil. Era taciturna e gostava de espiar pelas frestas das portas. Como eu apreciei isso! Achei um charme. Pensei em como seria desarmar aquela mulher poderia ser maravilhoso. Fui tolo. Nunca considerei que essa bobagem logo iria cansar-me e fazer-me ter nojo da cara daquela mulher. Mas nessas tempos era tudo paz e tudo mui bonito.

Com toda essa inflexibilidade que Teresa exalava, era óbvio que sua alma nunca conviveria em harmonia com a do imbecil do meu irmão Gastão. Dado em demasia às conversas fúteis e às piadas de mau gosto, Teresa o detestava tanto quanto eu, usando unicamente o olhar para esbanjar seu desamor. Nutria tamanho desprezo que eu contava suas reviradas de olhar e estufadas de peito ao menos umas vinte e uma vezes durante uma fala de seu marido.

Gastão era tão grotesco como o meu pai. Tão parecidos que eram juntos que compartilhavam a bebida, as conversas banais e as piadas. E eu? Ficava só pensando —Olha só o quanto essa mulher odeia este homem e seus papos sem fim! Ela iria adorar-me! Sei disso e daquilo. Se eu tivesse chance de ficar a sós com ela, essa mulher se encantaria pelo que tenho a dizer! Hoje, senhores, sou alvo de ainda mais desprezo do que ela tinha por Gastão! Tanto que não raramente ela solta uma fala de comparação entre nós dois, sempre para me depreciar. — Seu irmão pode não ter estudado e feito isso ou aquilo, visitado tal lugar e morado em tal cidade, mas ele tinha um coração bom que você, com toda sua arrogância, jamais terá! Enganei-me quanto a tudo isso.

Nesses tempos passados, enquanto eu pensava em como arrancar um pouco de atenção dessa mulher, o tal homem de coração bom vivia em completa deselegância. Fora a bebida e a aparência degradante, tinha ainda as outras mulheres! Ah, sim! Havia várias delas. Ele e o meu pai, diferente de mim, não se preocupavam em ir até Ouro Branco consegui-las. Faziam isso nas próprias vielas de Vila Doracy, para quem da cidade quisesse ver. Bêbados! Caindo dos joelhos! Nem decência e discrição tinham para fazer esse tipo de coisa.

Mas era isso! Todos esses causos se passavam enquanto eu vivia tranquilo no casarão. As poucas vezes em que nos reuníamos, eu, meu pai, meu irmão e a sua mulher, era claro que eu e esta última sobrávamos nas conversas irritantes. E eu indagava— Será que essa preciosa dama não aceitaria ter comigo? Afinal, seu marido é um completo idiota e ela o odeia. Por que não se aproveitar da atenção que o irmão dele está disposto a dar por completo a ela?

Nessas entediantes reuniões, sempre vinha o questionamento, por parte do meu pai ou de Gastão:

— Gregório, trinta e quatro anos na cara! Sem esposa, sem filhos, sem um lar! Por que não arranja alguma dama da cidade?

— Quando eu desposar uma dama, será para ter total compromisso com ela.

Eu dizia, mais mentindo, apenas para tentar impressionar Teresa sentada no canto. Queria que ela pensasse — Olha, que grande cavalheiro! Quem me dera ter me juntado a alguém desse porte! Mas ela permanecia impassível e sem reação alguma quando eu a espiava de canto de olho.

— Mas o que diabos quer dizer, Gregório?

— Comprometimento com a mulher, oras. Talvez não passando maior parte do tempo longe dela e a tratando como a dama que ela for. Quando eu estiver totalmente pleno para realizar isso, irei casar-me.

— Mas você já vive como um desses homens idosos que estão casados há trinta anos! Fica aqui, sozinho nesta casa, fazendo sei lá o que!

E estouravam em uma risada.

Eu não era tão sozinho quanto eles supunham! Eu tinha meus discretos e íntimos divertimentos passageiros. Meu verdadeiro prêmio, eu sabia, seria conquistar a dura Teresa! Mas não é nela, senhores, que mora o motivo da minha desonra. Quem dera fosse. Ele mora no meio dos tais passatempos que eu tinha naquele casarão.

Havia uma infeliz, cujo nome me passou em branco durante todos esses últimos anos, de tão ordinária que ela era! Só relembrei do tal nome nesses últimos dias, quando precisei averiguar o tal causo (que já irei chegar). Era Betina. Essa infeliz era filha de um homem qualquer, que fornecia alguma coisa para fulano e sicrano da fazenda. Ela era desprezível em tudo. As suas formas, magrelas e chupadas, sua cara, repleta de marquinhas de expressão, seu cabelo, lambido e sempre com aspecto sujo. Era toda calada e parecia ter medo de tudo, sempre caminhava de cabeça baixa e, cada vez que alguém desconhecido puxava assunto, fazia cara de desconfiada e não respondia direito. Não possuía nada de formoso ou excepcional, exceto os seus olhos. Eram grandes e azulados, porém não acrescentavam beleza alguma àquela face tão simples e abatida. Porém, serviam para serem elogiados.

No entanto, queridos, aquela mulher guardava um segredo todo especial. Ela era a favorita do meu irmão Gastão. Ela não era um mulher da vida, estava longe disso, era até bem honrada. Mas por algum infortúnio caiu nos braços do herdeiro das terras. Um dia, com extrema surpresa, deparei-me com os dois juntos, debaixo de uma árvore, às escondidas. Mais surpreendido ainda fiquei ao ver a cara dela longe de estar desconfiada, como sempre estava. Toda felizinha, passando a mão pela barra do vestido, enquanto recebia a fala de Gastão com um sorrisinho todo desmanchado de encanto. Ousava até, em certas horas, entrelaçar seus dedos nos do homem à sua frente. Ela era tão invisível e quietinha que a cena me pareceu curiosa de um modo particularmente inusitado. A coisa entre os dois era muito discreta, afinal, ela ainda era uma moça de família. Seu pai, pelo pouco que sabia, a mataria se tivesse conhecimento de seu caso com um homem casado.

Daí, meus caros, essa mulher toda simplória tornou-se meu novo alvo. A oportunidade não demorou a chegar e, em um finzinho de tarde, quando já escurecia, a peguei saindo dos fundos do casarão, toda apressada.

— Nossa cozinheira faltou — Gritei para a apresada. — Não pode cozinhar algo para mim? Só ficará eu para um jantar. Só precisará cozinhar para um.

Ela se ajeitou e baixou a cabeça, toda submissa. Ah, como eu estava pretendendo desarma-la em algumas horas! Tal como eu faria com Teresa!

Sem resposta, continuei, sorrindo para mostrar o melhor de mim.

— Sabe cozinhar, querida?

— Sei, sim. Mas essa foi a última encomenda que meu pai pediu para que eu entregasse. Já está tarde e preciso voltar para casa.

— Quando voltar para casa, dirá ao teu pai que o seu senhor pediu que ficasse e fizesse uma tarefa para ele. Além disso, darei a senhorita uma ótima gorjeta. Venha.

Obediente como era, logo estava na cozinha. Eu fiquei escorado na porta, como nunca antes fiz, olhando-a trabalhar. Enquanto ela colocava um avental, espiava a mim de soslaio, meio como quem perguntasse — E então, não vai me deixar sozinha?

— Deseja algo, senhor? Digo, em específico. Para comer.

— Faça o que quiser, minha querida. Irei deixá-la sozinha.

Ela própria me serviu na mesa, no silêncio do casarão. Enquanto colocava o prato na minha mesa, senti o seu odor e notei que fedia um pouco. Aquele cheiro combinava com a sua aparência decadente. Mas naquela noite eu estava impossível, teria feito amor com qualquer outra que aparecesse por aquelas terras!

— Por que não pega outro prato e se senta para me fazer companhia?

— De forma alguma, senhor.

Fugiu do meu pedido no mesmo instante, escondendo-se na cozinha. Mal terminei de comer e com impaciência fui atrás dela, segurando uma gorda quantia em dinheiro.

— Tome. Pela boa comida.

Escondeu o espanto ao ver a quantia e no mesmo instante a englobou com a mão, tirando o avental e já batendo os pés para sair.

— Sei que é uma das alegrias do meu irmão. Por que não pode ser uma das minhas essa noite?

— Tenho que ir!

— Dirá ao seu pai que serviu ao senhor. Não importa a hora que apareça, ele irá perdoar-te.

— Deixe-me ir, senhor!

Exclamava frases quase de ordens para mim, mas não levantava o tom da voz. Puxei-a pelo braço e, sem haver protesto algum da parte dela, coloquei minhas mãos em seu corpo. Ela continuou estática, olhando para o lado, sem expressar uma ruga ou gemido. Mais ousado, desabotoei um botão de seu vestido. E nada. Peguei-a pelo cabelo e a fiz fitar bem no fundo dos meus olhos. Permaneceu como uma pele morta. Desisti de retirar o restante dos botões e apenas a coloquei contra a bancada, levantando a saia que usava. Fiz o que queria fazer e, durante todo o processo, ela continuou como um corpo sem vida. Era como se estivesse acostumada com aquilo tudo! Mas como havia de ser? Talvez fosse tão obediente e submissa que simplesmente aceitava as coisas que a vida a impunha. Não a desarmei como pretendia. Ela continuou com suas mesmas expressões vazias de sempre, a mesma mulher ordinária que vinha deixar encomendas no casarão.

— Posso ir?

Foram as suas únicas palavras.

Amuado, abotoei minhas calças e fiz um sinal rude para que ela saísse. Não deu três minutos e logo eu explodi em raiva. Fui atrás dela pela escuridão das terras, queria encontra-la e arrasta-la pelos cabelos, bater em sua pele acabada até que ela gritasse, demonstrasse a vida que não deixou aparecer! Ainda desejo ouvir seus gritos mesmo agora, quase dezessete anos depois! Ela ainda me deve uma reação. Não a encontrei naquela vez e, com todo ardor, voltei para o casarão com o sangue fervendo. Aquela inútil mulher seria o fruto de toda a minha angústia de agora.

Isso, senhores, porque não deu quatro meses e ela apareceu. Mas antes disso acontecer, houve outro caso.

Dado um mês depois do acontecido, quando eu já nem mais lembrava da infeliz ou de qualquer outra coisa que havia sido motivo da minha raiva nos últimos anos, aconteceu de Gastão cair doente na cama. Ficou amarelo feito um pimentão. Chamei um médico de Belo Horizonte que o diagnosticou com uma grave doença no fígado. Durante dias, sofreu que deu dó até em meu coração insensível! Para, no fim, simplesmente amanhecer morto aos trinta e dois anos. Tão distintos foram os dias que se seguiram a morte daquele homem se comparado aos da minha mãe! Houve chororô na cidade e no campo. Como pode, Gastão, homem bom e herdeiro de seu honroso pai, morrer assim tão de repente? Que lástima! E lá se vai meu pai sair em drama pela cidade, segurando um terço em uma mão e uma garrafa de conhaque na outra. Teresa, coitada, derramou lágrimas poucas, apenas o mínimo necessário que se pedia de uma devotada esposa. O corpo seguiu em cortejo pela principal ruazinha de Vila Doracy.

Mas foi só o que havia restado de Gastão esfriar um pouco para a vida real voltar. Afinal, da noite para o dia as coisas haviam mudado, não muito ao ver do restante do mundo, mas em demasia para o meu pai. O seu segundo filho, que tinha como primogênito, principal herdeiro, havia se ido. A única coisa que restava era o Gregório, aquele lá metido a ser gente grande.

— Meu filho, quando pretende voltar à cidade?

— Não agora, meu pai. Ficarei enquanto o senhor precisar de mim por aqui. Por quê? Quer que eu vá? Não me importaria.

— Não! Não! Não quero que vá. Quero que fique nesta casa aqui, que agora é tua, meu filho. Ou será tua. O que eu queria dizer é que, como bem sabe, agora estou só nesse mundo! Tua mãe só me deixou dois filhos e um se foi. Só resta, a mim, ti. E meu desejo mais profundo é que o pouco que eu tenho, essas terras, essa casa, o respeito que nossa família tem, passe para ti. Quero que esse pouco te pertença. Quero que me permita dar-lhe tudo isso. Sei que cê fez vida na cidade, que prefere lá, que nunca gostou muito de nós daqui. Mas está aqui há quantos meses, seis, não é? Que benção! Deus colocou-lhe aqui por um motivo. Sei que pensará nesse meu desejo com carinho, principalmente porque há tanto já está conosco.

— Meu pai, não sei direito o que me pede.

Eu sabia.

— Peço que fique aqui. Que assuma o que o seu irmão desejava tanto um dia assumir.

Passei a mão na testa e tentei resolver toda a minha vida em míseros dois minutos. Estava certo que não poderia voltar à cidade falido como eu estava. Não me humilharia pedindo dinheiro ao meu pai, tampouco acharia fortuna do nada. Eu bem que poderia aceitar a proposta e continuar onde eu estava, sem ofício e me mantendo. O dinheiro seria o suficiente para me manter e eu poderia, quem sabe, começar os tais projetos que eu sempre quis começar. Eram os tais dos projetos de cunho intelectual (que nunca vingaram). Até que outra gloriosa ideia me passou pela minha cabeça, que me fez decidir por completo.

— Caso-me com Teresa!

— O que? Teresa? Oh! Mas que maravilha! Casa mesmo? É de seu desejo?

— Caso-me! Se ela assim desejar, claro. Fico aqui, assumo meus dois sobrinhos como meus. Faço a tua felicidade e cuido das pessoas que até pouco foram a família de meu irmão.

Meu pai elevou a mão ao peito e sentou-se na cadeira, parecendo que ia ter um troço.

— Mas eu não esperava tanto de ti, meu filho! Assumir os dois meninos! Cuidar de Teresa! Que beleza! Saiba que fez minha alegria, meu filho. E fará a tua também. Será imensamente feliz e pleno pelo que acabaste de fazer.

No mesmo dia estava eu ajoelhado nos pés de Teresa, com suas mãos na minha, fazendo a minha maior e mais intensa declaração já fizera! Prometi-lhe a Europa inteira, joias, todo o luxo! Mas ela não pareceu se compadecer com nada. Apenas assentiu, sem emoção, aceitando o meu sincero pedido, sem motivo aparente. Estava eu noivo daquela mulher.

Poderia ter tido qualquer uma outra, mais jovem, sem filhos, mais esperta e com senso de humor. Fui besta! Ganancioso! Quis fazer minhas vontades daquele presente e não pensei direito. Não percebi que eu me cansaria daquela pele morena, daquela falta de alegria de Teresa! Pensei em ter meus desejos saciados e podei uma vida inteira. Deveria eu ter sido honroso comigo mesmo. Recusado aquele convite, aquelas terras! Voltaria falido para a capital, que importaria? Continuaria trabalhando como o advogado medíocre que eu era, ganhando alguns tostões, lamentando por tudo! Os projetos intelectuais nunca vingariam, porém, não vingaram de uma forma ou de outra! Talvez essa vida desconhecida fosse algo completamente inesperado. Teria conhecido alguém, realizado algo! Nunca saberei. Isso mora no se. E, bem, há uma coisa que aprendi bem, na história não há espaço para um se.

Optei por ser tido como o homem de bem, que guiaria os sobrinhos, como verdadeiros filhos meus, para no futuro essas terras serem administradas por eles próprios. O futuro distinto de tudo aquilo que eu havia querido um dia.

Poucas noites antes do casamento pequeno e discreto que seria feito para mim e Teresa, estava eu e meu pai na sala, ajeitando as últimas coisas do testamento que ele estava deixando. Alguém chamou na porta e fui eu mesmo atender. Era a mulher! Gastei alguns segundos tentando me lembrar de onde eu conhecia aquele rostinho ordinário, até que o ódio me fez lembrar. Estava enrolada em um xale com a aparência ainda mais fraca, segurando uma trouxinha de forma ainda mais humilhante do que costumava fazer.

— O que quer aqui a essa hora? Se há algo para entregar, o que duvido, por que não fez pelos fundos? Não tenho tempo para a senhorita agora.

— Quem é, Gregório? — Meu pai gritou.

— Ninguém importante, meu pai! Já estou a resolver. Diga-me, mulher, o que faz aqui? Não vai embora? Não vai me responder? Pretende ficar apenas ai parada?

Da forma mais mal educada que podia, a infeliz empurrou-me e abriu a passagem para a casa. Fiquei tão surpreso com seu desrespeitoso gesto que demorei para ter alguma reação. Mal vi e a mulher já estava na sala, com meu pai!

— Conheço a senhorita. O que faz aqui?

O velho perguntou todo preocupado, levantando e indo afagar a criatura em pé na sua frente.

— Meu pai me lançou à rua. Não permite mais que eu retorne a nossa casa.

E lá estava a criatura soluçando!

— Por que ele faria uma maldade dessa? Primeiro me explique por que ele fez tamanha barbaridade!

A mulher só fez baixar o olhar para a sua protuberância na barriga, que encobria com o pano.

— Como que pode? A senhorita? Prenha? Meu Deus! É de lar que precisa? Terá! Surpreenda-me que pensou na nossa casa primeiro. Mas tudo bem se veio, não me importo! Se não tem ninguém, terá a mim!

— Não venho por lar! Venho para contar-lhe tudo. Não tenho nada a ganhar ou a perder. Gastão, meu querido Gastão, se foi! Como tenho pesar por isso. Mas este homem aqui — apontou para mim — agora vai casar-se. Pois bem, esse filho que carrego pode ser muito bem dele.

— Que diz! Gregório, do que essa moça fala?

Ri de deboche e tratei de desmentir.

— Pode muito bem ser meu. Bem, pode. Bem como pode ser do resto do mundo? Nem sabe ao certo de quem pertence a essa criança e vem aqui me caluniar! É louca? Permita que eu tire essa infeliz daqui, meu pai.

— O filho que carrego só pode pertencer a um dos homens dessa família. Ou a esse homem ou do que já se foi. Somente a eles!

— É isso que deseja? Caluniar a toda a minha família? — indaguei à infeliz.

— Confirma isso, meu filho?

— Ora! Sei que Gastão tinha queda por essa depravada. E sei que posso ter me aproveitado dela alguma vez. Mas nada garante coisa alguma que ela diz. Quer dinheiro. Quer aproveitar-se de nossa família. Irei tira-la daqui!

— Se me expulsar, contarei a todos sobre os irmãos Albuquerque! O quanto eles eram bons homens! Direi que se hoje estou assim, perdida na rua, grávida, só tenho eles a culpar. Gastão que me perdoe! Ele era um bom homem. Na certa estaria disposto a me ajudar. Mas o senhor, não! És o demônio! Vi o satanás em seus olhos naquele dia. E, infelizmente, é em teu nome sujo que irei fazer isso tudo!

— Menina, cale-se! —meu pai ordenou, segurando-a pelo braço — Terei que concordar com o Gregório, acho que pretende somente caluniar nossa família! Seja como for, não permitirei. Irei fazer da seguinte forma, irei te dar dinheiro, não é isso que quer? Pois bem, darei, em nome da criança que irá nascer, não porque acredito em sua história absurda! Se eu não acredito, a cidade também não irá. Então não ganhará nada com isso, apenas farei com que caia ainda mais na desgraça. Por isso, peço-lhe que aceite uma quantia como forma de caridade e que em nome dessa gratidão e para o seu próprio bem, não tente nada contra nossa família. Vá embora dessa cidade, tente alguma coisa em outro lugar. Grávida, aqui, não conseguirá nada. Farei essa caridade porque Deus ordena que eu faça. Não volte aqui para tentar isso de novo. Entenderei essa coisa como um ato de insanidade tua, nesse momento difícil.

— Que assim seja! Que assim seja! Estou cansada disso! Que o Senhor um dia possa iluminar a sua mente com a imagem daquela noite, quando esse teu filho me tomou a contragosto! Por enquanto só me resta aceitar as coisas de cabeça baixa, como sempre fiz!

A mulher partiu com o dinheiro e, como prometeu, assim se foi: não abriu a boca e ninguém na cidade comentou nada! Tampouco meu pai disse uma sílaba sobre o assunto. Guardou o seu silêncio até o dia do meu casamento com Teresa, quando me encarou com toda a sua circunspecção.

— Aquele filho que a mulher carregava era teu?

— Meu pai, sabe como são as mulheres daquela laia! Aquele filho pertence unicamente a ela, vez que dormiu com muitos homens! Ela apenas escolheu o mais rico e foi exigir alguma coisa. Talvez tenha exigido o mesmo de outro vários homens. O senhor, com todo respeito, agiu mal em ter dado aquele dinheiro. Agora ela poderá achar que pode nos extorquir.

— Calma, meu filho. Soube que ela foi embora. Não perturbará mais.

Meu pai estava certo, ela não voltou a perturbar. Mas aquela perguntinha vive em mim até hoje. Vez por outra, as vezes com mais ou menos intensidade, vem em minha mente — Aquele filho era meu? Depois que o casamento com Teresa se revelou um desastre, a pergunta começou a aparecer com mais frequência. Via os meus dois sobrinhos, que eu tive que ter como filho, e pensava, eles não são meus, jamais eu terei um filho com essa mulher, nem com ninguém! E se aquele filho lá fosse meu? Havia essa remota possibilidade.

Todos vinham até mim expressar sua admiração pela minha bela atitude, por ter aceitado tomar aquela viúva e cuidar dos pequenos como meus. Ah, tamanha ilusão causei e ainda causo nas pessoas! Enquanto as duas criancinhas cresciam, correndo por aí com suas caras rosadas, eu tinha raiva por me permitir ter aceitado a elas. Não eram meus! Não tinha nada nesse mundo que era meu. Nem para serem adoráveis eles serviram. Cresceram e viraram dois adolescentes banais, fúteis! Não há nada de mim neles. São piadistas e burros como o pai. Desgostosos com tudo como a mãe. Para eles, sou somente o pai que eles tiveram. Nem gratidão eles me dão!

Como fico lamentoso quando começo a pensar nessas coisas. É-me ainda mais doloroso coloca-las no papel. Tornam-se tão reais, tão a minha vida!

A vida se ia e eu não deixava de pensar em quantos anos a tal criança estava completando. Em 1940, devia ter feito seus seis anos. E então imaginava um garotinho parecido comigo, meio taciturno, olhando para o céu. Ah! Ah! Empolgava-me com a ideia e começava a pensar mais sobre o assunto, sobre a infeliz. Iludia-me dizendo a minha consciência — Ela só devia ter a Gastão naquela época, unicamente a ele! Só tendo dormido com ele, logo, há metade de chance da criança ser minha!

Mas o que eu tinha com isso, afinal? Eu abominava a infeliz. Fosse o filho meu ou não, ainda teria metade daquela ordinariedade que me dava nos nervos. Mas, como bem sabem, essa história é meu fio de humanidade! A ponta solta, a coisa sem resposta. Fosse como fosse, só restava o se para mim. E eu me torturei, senhores! Minha angústia foi e é fruto de pensar que algo meu, uma propriedade minha, poderia estar sendo criado por aquela depravada! Todas as suas oportunidades tiradas! Isso tudo porque simplesmente não me importei? Ah! Por isso tanta lamentação. Talvez haja tantas lástimas em minha vida que preferi me focar nessa, tão fácil de ser resolvida. É somente eu não me importar e pronto, tudo fica bem. Mas consigo? Até estava. Mas, daí... Já entro nisso.

Pois bem, pois bem. Meu pai se foi há uns anos e ele era meu grande empecilho para não buscar respostas sobre o que havia acontecido com a infeliz lá. Afinal, ele estranharia tal atitude de minha parte. Não queria dar-lhe explicações em excesso, falar sobre o que sentia! Não gosto de fazer isso nem nesse papel, quem dirá a alguém como meu pai. Quando ele morreu, porém, continuei na minha. Já tinha eu meus quarenta e poucos anos, por que iria arranjar problemas inúteis a mim? Que fosse! Que a infeliz estivesse bem ou não, que a criança fosse minha ou não, que estivesse morta de fome ou não!

O pai da infeliz contava, a todos que perguntavam, que sua filha havia fugido. A irmã da infeliz, pelo que eu sabia, ao menos tinha conseguido uma boa vida. Tinha se casado com um funcionário público, de baixa patente, mas ainda assim coisa maior do que alguém da estipe dela poderia pensar em ter. Os dois moravam em uma casa na rua da praça principal, sem filhos ou qualquer outra coisa que deixe uma casa com vida. Era isso o mais próximo que sabia sobre a infeliz.

Até que, para minha surpresa, soube, no meio do ano passado, que a irmã mulher do Sr. Dorneles (o tal funcionário público) estava morando na casa dela, moribunda, tadinha! Estava fraquíssima e à beira da morte. — Que irmã? Que irmã? Era a minha pergunta! — Ah, não se lembra, Gregório? Aquela que fugiu da casa do pai! Ainda bem que o bom homem não está mais vivo para presenciar tamanho desgosto que seria reencontrar aquela ingrata!

Não demorou nem uma semana para eu também descobrir que a tal filha ingrata estava de volta com uma filha. Uma menina. A criança não era um menino, como sempre imaginei em minha cabecinha sonhadora. Como chorei nesse dia! Não por tristeza, tampouco por alegria. Foi somente um espasmo de emoção desenfreada que deixei cair pelo chão do banheiro. A pequena criatura, pelas minhas contas, devia ter catorze anos, devia estar próxima de completar seus quinze. Talvez fosse filha minha ou, no mínimo, minha sobrinha! Deixei ser tolo por alguns instantes.

Demorei para conhecer a vítima das circunstâncias. Nesse meio tempo, informei-me sobre a situação dos Dorneles. A infeliz morava em Ouro Branco, havia se casado e tido supostamente essa menina. Vivia doente e o marido já tinha ido há tempos, não havia ninguém que cuidasse delas. Veio morar com a irmã por conta disso, ocupar uma cama durante as vinte quatro horas do dia, já que não conseguia ir na esquina de tão fraca que já se encontrava. A menina abandonou a escola para ficar cuidando da mãe e os tios não insistiram para que ela voltasse. Que raiva tive disso! Que imbecis permitiriam que uma criança não estude por caprichos próprios? Uma enfermeira era caro, vamos deixar a pobre criatura cuidar da mãe! Não somos obrigados a custear certos luxos. Mãe dela, ela que cuide!

Então, ano passado mesmo eu a vi. Pendurada no portão, balançando ele para frente e para trás, enquanto mordiscava um pêssego na mão. Era a única vida que tinha naquela casa, tinha de ser ela. Comecei a buscar repostas em seu rosto, mas nada denunciava quem eram seus pais. Não tinha nada da mãe, tampouco parecia ter algo muito marcante da minha família. Era pálida, como eu e Gastão, somente. Os cabelos castanhos, com traços dourados de ponta a ponta, caiam como montanhas salpicadas de ouro reluzente. Eu e Gastão tínhamos o cabelo preto vivo, a mãe dela também. E os olhos da menina! Mel, puro mel! Amarelos, dourados como o próprio ouro do seu cabelo. Não eram azuis como os da mãe, tampouco pretos como o meu ou de Gastão. Suas cores não denunciavam nada, nem seus traços. Não tinha o meu nariz fino, nem minhas bochechas chupadas. Nada nela dizia alguma coisa! No entanto, eu tinha certeza, aquele serzinho compartilhava algum traço família comigo e estava ali, perdida com aqueles tios imbecis e com mãe doente e inválida. Como a vida poderia ser infeliz para ela! E ali estava, balançando-se no portão, com sua saia azul anil acompanhando seus movimentos.

Não seria teu filho a criança que aquela mulher esperava naquele ventre?

A pergunta se reacendeu mais ainda quando, em uma das minhas visitas à medíocre biblioteca de Ouro Branco, eu a vi. Sentada em uma das mesinhas, com as pernas cruzadas e toda a sua atenção esparramada no volume que tinha em mãos. Olhei-a por quase um minuto completo, até seus olhinhos cor de mel se erguerem e se encontrarem com os meus. Um filho vindo de Gastão não poderia apreciar um livro! Foi o que disse em meu íntimo. E mais um daqueles que ela tinha, acho que era algo do Balzac, talvez O Pai Goriot. Quando que algo de Gastão apreciaria algo do tipo? Fiquei convicto que aquela criatura só poderia ser minha! Tornei a observa-la sempre que podia, na ruazinha dos seus tios, balançando-se no portão, ou em alguma janela, vendo o tempo passar. Mas principalmente no acervo reles! Lá foi onde eu mais a encontrei. Não demorei a perceber que ela gostava do lugar e passei a ir lá rotineiramente. Fiz disso uma rotina e fiquei a vê-la, com todas aquelas minha dúvidas, entre as fileiras empoeiradas de livros e duras cadeiras. Foi lá que me dirigi a ela pela primeira e única vez em toda essa minha vida. Foi no começo desse ano. Achei curioso o volume que ela estava lendo com toda a dedicação do mundo. Tratava-se não de um livro comum, mas sim de um compilado de todos os calendários de quase todos os anos. Sem pensar muito, fui até ela.

— Por que uma mocinha estaria gastando seu tempo vendo isso?

Lembro de cada detalhe daquele movimento que ela fez para olhar para mim! Fechou o livro pela metade, abriu um sorriso inesperado e me respondeu com toda a sua doçura.

— É o modo que tenho de ir para o passado. Ou futuro. — Apressou-se em complementar.

O seu sorrisinho era tão genuíno e forte que seus olhos quase desapareciam quando ofertava o mundo como ele.

Eu arqueei as sobrancelhas, todo interessado no que aquela voz inédita tinha para me dizer. Ela voltou a abrir o livro, em uma página que trazia o ano de dois mil e alguma coisa.

— Tem umas datas interessantes. Gosto de olha-las sobre outros anos e pensar no que as pessoas estavam fazendo ou o que farão. Sabe, aqueles dias que são muito importantes para nós, mas que não tem importância nenhuma para mais ninguém? Então. Bobagem minha.

Foi a minha vez de tentar sorrir tão genuinamente.

— Bobagem? Eu não teria imaginação para tanto!

Deixei-a com tanto pesar. Eu poderia ter gastado toda aquela tarde ouvindo o que ela tinha para dizer! Nem seu nome eu sabia, no entanto, sentia, com toda sinceridade, que ela era minha. Eu só precisava de uma confirmação. Mesmo que não fosse, era filha de Gastão, e, portanto, eu ainda era o mais próximo que ela poderia possuir de uma família.

Passado um ano desde que a infeliz deu o ar das graças aqui em Vila Doracy, soube que ela estava pior do que antes, como isso foi possível, ninguém sabia. Premeditavam a sua morte e eu fiquei sabendo, daí a tal da minha angústia começou a apertar e pus no papel aquelas linhas estranhas. A mãe morreria e então a menina estaria entregue a desmiolados. Sua única família seriam os malditos dos tios. Ela parecia tão interessada no mundo! No entanto, suas chances seriam negadas por causa unicamente do meu silêncio quanto a tudo isso.

Não deixo de pensar no quanto isso é injusto com aquela criatura. Ela, diferentemente da mãe, não é uma infeliz ou uma ordinária. É uma pessoinha que vejo quando enorme potencial para tudo. Ela destoa-se do restante dessa gente daqui, somente pelo seu olhar mais dotado de curiosidade. Esse mísero detalhe a faz diferente de tudo. Faz-me ter o desejo de toma-la e ajeita-la para o mundo, dar-lhe educação, modos, pois graciosidade ela já possui em quantidade suficiente para conquistar o bem quiser. Eu arranjaria um bom casório para ela, daria o futuro que o seu olhar pede e merece. Mas a vida é injusta com ela, mais ainda do que ela pode pensar ser. A criatura pode achar injusto o modo como seus tios a privam dos estudos, da forma como a mãe caiu doente, do jeito como não tem família alguma! Mas ela mal sonha que há ainda uma injustiça maior, da minha parte. Desconhece que metade dela tem direito a incontáveis coisas. Como é doloroso conhecer sozinho essa fatalidade!

E então, ontem, a mãe da menina se foi! Mais lástimas para ela. Será que se lastima? Creio que muito. O que se passa por aquela cabeça? Talvez nem ache o mundo assim tão injusto como penso que ache. Seja como for, tudo está sendo terrivelmente cruel para ela, mesmo que ela não tenha se apercebido disso. Bastaria um mísero traço naquele seu rosto que soasse como algo meu para eu toma-la como minha filha. Meu desejo maior, alimentado pela minha aflição, é traze-la para a luz do conhecimento sobre si própria.

Mas, por enquanto, senhores, a única coisa que posso dar-lhe é o meu olhar às escondidas! Se tem uma coisa que gosto de fazer e dou-lhe com prazer é isso! A minha observação. Não deixo de pensar no quanto ela parece um quadro de Bouguereau, o da menina que tira a meia do pé com suavidade, revelando a brancura da perna. A criatura usa até a mesma variação de saia azul anil que a menina do quadro veste, bem como a linha que existe entre a sua meia três quartos e a barra da sua saia denúncia que possui pernas tão pálidas quanto à menininha de Bouguereau. E o rosto, então! Mesmo dégradé de cor no cabelo, mesmo olharzinho inocente. Sempre gostei daquele quadro! Vê a criatura por aí, balançando-se em um portão, é como apreciar a própria pintura com vida.

E a menina, que tanto se parece com a outra de Bouguereau, talvez esteja chorando nesse instante, em nome da mãe infeliz que se foi. Não há como saber. Não sei o que se passa naquela cabecinha, tampouco há como fazer justiça maior na sua vida. Dou-lhe minha apreciação apenas por prazer próprio. No concreto, não há nada para presentear-lhe.

E de filhos tenho que me contentar com aqueles dois do Gastão! Enquanto essa pobre alma, tão parecida com um quadro, tão atenciosa com os livros e tão questionadora em seus olhos pode ser muito bem minha, verdadeiramente minha! A única coisa que de fato deixarei de perpetuo na terra, ou não. Seja como for, não consigo abandonar esse trágico e infeliz pensamento.

[CONTINUA]


Biografia:
Leio desde criança, quando comecei a achar o mundo enfadonho em demasia. Escrevo desde a adolescência, quando senti a necessidade de dissertar sobre aquele mundo tão tedioso. Prazer, sou Europa!
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