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Raskolnikov
Homem extraordinário influenciado pelo meio
Rodrigo Barcellos

O objetivo deste trabalho sobre o personagem principal do livro Crime e Castigo de Dostoievski, é mostrar a influência do Determinismo de Hippolyte Taine, na teoria de homem extraordinário de Raskolnikov. Minha metodologia se baseia na fundamentação teórica e pesquisa bibliográfica de vários autores, revistas e sites. Autores como Nietzsche, Mikhail Bakhtin, Joseph Frank e o próprio Dostoievski. Textos referentes ao Determinismo, ao niilismo, sobre como estava o clima na São Petersburgo do século XIX, época em que a obra foi escrita, - período Czarista. Todos eles constam na bibliografia que irá anexa ao final.
O meio tem influência na vida do indivíduo – este será meu ponto principal, pois querendo ou não fazemos parte dele, independente do que fazemos ou escolhemos, fazemos e escolhemos porque algo externo está agindo sobre nós. Mas o homem não é livre para escolher? E o livre-arbítrio? Mesmo sendo livres para escolhermos estamos sendo influenciados pelo meio no qual estamos.
Antes, é interessante falar um pouco sobre o Existencialismo e o livre arbítrio.
O Existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. É um movimento filosófico, pertencente aos séculos XIX e XX.
O Existencialismo considera cada homem como um ser único, que é mestre dos seus atos e do seu destino. Os seus elementos podem ser encontrados no pensamento e no trabalho de muitos filósofos e escritores, entre eles, Heidegger, Jean-Paul Sartre e Kierkegaard.
Os temas existencialistas são férteis no terreno da criação literária. O Existencialismo representa a vida como uma série de lutas. O indivíduo é forçado a tomar decisões, e agora vem o interessante, essas decisões determinam seus atos, e também ocorre que essas decisões foram determinadas e/ou influenciadas pelo meio.
Então, partindo deste princípio, Raskolnikov escolhe o que fazer e como fazer, ou melhor, como matar. Escolheu a arma, um machado, um símbolo de lenhadores. Para Raskolnikov, estava cortando o mal pela raiz. Resolveu se entregar. Por livre escolha. Sim. Mas essa “livre escolha” foi determinada por fatores externos, ligados ao meio no qual estava, e é aqui que entra o ponto onde quero chegar, ao Determinismo.
A teoria de Raskolnikov deve-se a ocorrências externas, ligadas e entrelaçadas (sente-se desprezado pela sociedade – ele pensava que com tal assassinato, viria a ser esse homem superior e iria mudar a sociedade, que com isso faria uma limpeza social e bateria de frente contra o imperialismo Czarista – a desilusão com os estudos, o clima ruim com a família, é uma pessoa sozinha, a sua pobreza e a de muitas pessoas, que estavam em situação parecida com a sua, a não comprovação da teoria criada por ele, e agora a polícia investigando-o.
Raskolnikov tem um pouco de extraordinário, pois se entregou e tomou a resolução de aceitar a sua conversão, porém não na sua totalidade, segundo o próprio Dostoievski, ao terminar o livro: “Mas aqui já começa outra história, a história gradual de um homem, a história de seu paulatino renascimento, da passagem progressiva de um mundo a outro, do conhecimento de uma realidade nova, até então totalmente desconhecida. Isto poderia ser o tema de um novo relato – mas este está concluído”,
De acordo com o Determinismo, todos os acontecimentos inclusive vontades e escolhas humanas, são causados por acontecimentos exteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio. O indivíduo faz exatamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra coisa; a determinação de seus atos pertence à força de certas causas, externas e internas, isto é, submetido a condições necessárias e suficientes, elas próprias também determinadas. Uma relação é determinada quando existe uma ligação necessária entre uma causa e o seu efeito; neste sentido, o Determinismo é uma generalização do princípio da causalidade, (estipula que todo o efeito tem uma causa e que, nas mesmas circunstâncias, a mesma causa produz sempre os mesmos efeitos), o que liga cada acontecimento a outro é esta causalidade que o cientista pretende conhecer estabelecendo leis.
O Determinismo diz que o presente determina o futuro, e não que o futuro está gravado na pedra, sem ser afetado por aquilo que é verdade no presente.
O Determinismo é consistente com a ideia de que aquilo que é verdade num tempo posterior depende do que é verdade num tempo precedente.
Não exclui a ideia de que se o passado tivesse sido diferente, o presente seria diferente. Também não exclui a ideia de podermos afetar o modo como o futuro irá ser ao agirmos hoje de uma maneira em vez de outra.
E há os deterministas de várias categorias: os econômicos, para os quais fatores econômicos causam todos os problemas da humanidade; para Ratzel tudo tem por causa fatores geográficos; e Freud afirmou que nós não somos responsáveis pelo que fazemos, por sermos vítimas de imposições inconscientes. O Determinismo moral é relativo. De fato, com o nosso livre-arbítrio, podemos interferir nos efeitos finais de uma causa. O Determinismo de Hippolyte Taine (o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a raça e o momento histórico).
Logo, estou destituído da liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que tomo parte? Não. Eu escolhi (A) e não (B). Decidi? Sim. “Foi minha escolha”? Foi. Mas, para eu me decidir a escolher entre (A) ou (B), causas externas e internas me levaram a fazer tal escolha. Por exemplo, Na comparação entre (A) e (B), qual delas é melhor para mim, que vantagens terei em escolher, ou que desvantagens.
Aplica-se antes de mais nada aos acontecimentos da natureza e, enquanto necessidade cognoscível opõe-se ao destino: esta é uma lei cega que escapa ao homem, enquanto que "um fenômeno pode ser integralmente determinado permanecendo mesmo assim perfeitamente imprevisível.
Além de sustentar sua teoria de homem extraordinário durante grande parte do livro, Raskolnikov tenta sustentar uma lógica como a da teoria do meio – uma das ideias mais detestadas por Dostoievski e mesmo assim, presente em seu livro.
O período político da Rússia teve influência sobre o personagem Raskolnikov, assim como em Dostoievski. Viveu sob a política dos Czares. (Nicolau I e Alexandre II), este último o mais novo e o mais moderador Czar da Rússia. Autoriza Dostoievski a sair da Sibéria. Na época de Alexandre II, a cultura Russa teve seu apogeu em princípios do século XIX. No reinado de Nicolau I, trinta anos de despotismo. A tirania peculiar do governo de Nicolau originou um ódio que ecoa na literatura Russa.
Absolutismo político envolvente, sistema de tirania burocrática, disciplina de quartel, “supervisão” policial imposta sobre a sociedade Russa. Ilusória aparência de força atrás de uma fachada de ordem civil e militar.
Devido ao brutal autoritarismo de seu estilo militar, o Czar era conhecido também por Nicolau, o açoitador. Em 1821 a educação secundária e superior foi restringida aos filhos da nobreza e dos oficiais do governo. O analfabetismo dos camponeses era quase geral. Em 1835 as universidades foram postas em reforma. Em 1848 o ingresso nelas foi resguardado por novas precauções.
Depois de 1848 o obscurantismo da Rússia transformou-se em sufocante escuridão. Para Nicolau, a censura era uma necessidade essencial do estado, apesar de tudo o que estava sendo sufocado pela tirania e implicantes perseguições da máquina burocrática que ele havia posto em funcionamento. Num clima intelectual tão opressivo como jamais a Rússia conhecera, a literatura floresceu como nunca antes o fizera.
A censura era frequentemente iludida pela clandestinidade dos manuscritos e por uma linguagem esopiana de alusões referentes a temas controvertidos. Em 1855 ocorre a Guerra da Crimeia. A derrota russa nessa guerra provocou entre a elite militar um enorme desejo de mudança.
Foi a era de Nicolau I que nutriu o realismo distintivo da novela Russa, que se arraigou firmemente nas primeiras obras de Dostoievski, obras com as quais a Rússia, acima de tudo, pagou sua dívida literária do passado com a Europa.     (Reinado de Nicolau I 1825 – 1855).
Com a morte de Nicolau (1855), Alexandre II toma posse em 1856. O Czar libertador. A emancipação feita em 1861 foi pequena e efetuada tarde demais. Depois desta data, alguns camponeses arrendaram parte de suas terras e foram morar em São Petersburgo e Moscou. Com Alexandre II, alguns prisioneiros políticos foram libertados e foi permitido o regresso de exilados na Sibéria.
Em 1864 houve reforma das leis que tratavam dos tribunais. Surgia uma nova geração criada na animada e emocional atmosfera de debates estudantis em Moscou e São Petersburgo, circulava cada vez mais extensamente.
A crise estourou na capital em 1866, quando um jovem estudante atira em Alexandre, mas erra o tiro. A partir daí começa uma violenta campanha contra todo o corpo estudantil. Prisões em massa, expulsão, exílio ou aprisionamento. As universidades estavam fechadas para as mulheres. Novos regulamentos de censura introduzidos como medida temporária um ano antes de Tolstoi assumir uma secretária.
Raskolnikov angustiava-se no seu pequeno quarto, na verdade uma gaiola desbotada que o sufocava. Ali matutava como um ser dotado de inteligência reconhecidamente superior, como a dele, estava reduzido àquela vida miserável, sem tostão e sem futuro enquanto que, naquela mesma cidade de São Petersburgo, a capital do império russo, que no atual momento estava em poder dos Czares e ficaria mais algum tempo.
A São Petersburgo que Dostoievski sentiu e pintou tão espantosamente, é uma visão, um fantasma gerado pelo homem errante e renegado.
A bem poucas quadras dali, uma velha usurária, chamada Alena Ivanovna podia entregar-se livremente à exploração de desgraçados como ele.
Porque não eliminar aquele ser parasitário, inútil, e utilizar-se do seu dinheiro para sair daquela situação incomoda, salvando também sua mãe e sua irmã, reduzidas ao opróbrio?
Foi nestas circunstâncias terríveis que o jovem estudante desenvolveu sua doutrina do "direito ao crime", na qual todo aquele que se sente além das convenções tradicionais acerca do bem e do mal, que se percebe mais forte do que os demais homens, na verdade tem "direito a tudo", inclusive o direito de eliminar os que considera estorvantes e prejudiciais ao seu objetivo, pois o homem extraordinário deve, obediente às exigências do seu ideal, "ultrapassar certas barreiras tão longe quanto possível".
O assassinato cometido por Raskolnikov é o exercício das ideias contidas em seu artigo. Mesmo assim, por agir e escrever o artigo, ele foi influenciado por tudo que estava ao seu redor. Sua teoria é criada para que ele (Raskolnikov) tenha, digamos um álibi, para que tenha algo de concreto, algo realmente extraordinário..
Não estaria Raskolnikov, com o artigo, propondo uma limpeza social, em que pessoas como a velha usuária deveriam ser banidas da sociedade? Sim. Neste ponto é que a teoria de Nietzsche sobre o super – homem se encaixa, pois segundo o próprio, pela crescente demanda do capitalismo, pela democracia e pelo populacho em geral, ao qual se associavam movimentos diversos ("porque, bem sabes, chegou a hora da grande, pérfida, longa, lenta rebelião da plebe e dos escravos; que cresce e continua a crescer"- Zaratustra, IV parte). Raskolnikov quer fazer algo que mude a sociedade ou em prol dela.
Para Raskolnikov, os indivíduos extraordinários, são aqueles que moldam a história da humanidade. Todo o ser de Raskolnikov é tomado por este pensamento e ele, após muita luta interior, acaba por sucumbir à poderosa tentação de experimentar na prática a sua teoria.
Raskolnikov sente-se um grande homem, um super-homem, sente que ainda terá um papel de destaque a cumprir na história, mas, no entanto vive numa miséria sem perspectivas de futuro. Raskolnikov sabe que a aristocrática e imóvel sociedade russa do século XIX não lhe abrirá espaço facilmente, e por isto precisa de um salto inicial. O problema de Raskolnikov é a agonia de viver tentando se convencer de que é um homem extraordinário.
Muito interessante é o que diz Alberto Moraiva sobre Raskolnikov: Embora não tenha lido Marx e se considerando um super-homem acima do bem e do mal, ele já era um embrião, um comissário do povo; e de fato, os primeiros comissários do povo surgiram da mesma classe da intelligentsia à qual Raskolnikov pertencia e tinham ideias idênticas às suas – a mesma sede de justiça social, a mesma terrível coerência ideológica, a mesma inflexibilidade na ação. E o dilema de Raskolnikov é o mesmo que confronta os comissários do povo e Stalin: Será correto, para o bem da humanidade, matar a velha usuária. Leia-se: liquidar a burguesia

“Esta personagem demonstra a tendência existencialista de Dostoievski, uma vez que é a personagem que define a sua vivência, o seu futuro, optando por abandonar a sua teoria e optar por uma via espiritual, o refúgio na Religião Cristã Ortodoxa”. (trecho retirado do site abaixo)
www. wikipedia.org/wiki/Rodion_Rom%C3%A2novitch_Rask%C3%B3lnikov
O que quero com isso? Apenas demonstrar que mesmo Raskolnikov tendo optado por ter uma vida espiritual, e ficar com Sônia, algo mais o influenciou algo agiu sobre ele. Esse algo é relativo, eu sei, mas o que chamo de algo são os fatores relacionados ao personagem.
Seu estado emocional enfraquecido, a sua teoria que na prática não é aquilo que ele queria que fosse, o desgosto com a sociedade em geral, o atrito em família, um período político extremamente conturbado.
Mesmo depois do crime, Raskolnikov tem seu destino determinado, e três personagens colaboram para isso. A primeira é Sônia, depois, Porfírio Petrovich e por último, Svidrigailov. Por exemplo, um fator determinante, envolvendo Porfírio, que de modo hábil tortura Raskolnikov com a incerteza, o que também depois seria determinante para se entregar.
O ser Napoleônico de Raskolnikov precisava de plena expressão.
Ele mesmo se considera como pertencente ao escol da humanidade, à espécie dessas pessoas notáveis encarregadas de acumular benefícios. Pensa que tudo é possível e quer pôr seu poder à prova, mas reconhece sua fraqueza completa. Ele já não dá a impressão de ser um homem livre. Um maníaco obsesso por idéias mentirosas?
O crime da velha usuária poderia servir como um caminho para o melhoramento da humanidade? A moral cristã tradicional não lhe satisfaz, julga-se acima dela, quer superá-la, sente-se digno para isso.
A teoria do homem-extraordinário, mais os fatos determinantes citados acima, possibilitariam à Raskolnikov apenas ganho pessoal, e com isso superior aos demais.
Raskolnikov é o nome mais usado na narrativa, provém da palavra raskolnik que significa cisão ou cisma, caracterizando o personagem como cindido e atormentado, bem propício para a obra.

Agora, uma rápida comparação autor/personagem, que mesmo indiretamente, foi determinante para a criação do personagem. Em 1860, Dostoievski voltou a São Petersburgo onde fundou umas séries de jornais literários infrutíferos com o irmão Mikhail. Metaforicamente, isso aparece na obra, quando Raskolnikov vai à casa de Razumikine (Raskolnikov não diz isso, mas considera Razumikine um irmão), querendo lições para arrecadar algum dinheiro, mas acaba desistindo da empreitada.
Ele estava financeiramente quebrado pelas dívidas comerciais e a necessidade de manter a viúva do irmão e as suas crianças. Na obra, aparece na figura de Catarina Ivanovna e suas crianças.
O fato de Raskolnikov ir para a Sibéria e Sônia ir com ele, tem relação com o que aconteceu com Dostoievski, quando este foi preso. Ele relata que outros presos iam acompanhados de suas esposas, e estas permaneciam lá. Fundaram uma espécie de ordem de caridade para Dostoievski e os outros presos.
Mesmo que outras vertentes, correntes filosóficas ou outra nomenclatura que seja encontrada na obra, há de se perceber claramente o Determinismo, a influência do meio sobre a obra e sobre Raskolnikov. Este ainda sofria crises de consciência, de humor, angustiado e niilista. Neste último, encaro como reação contrária à lentidão dos czares em promover as desejadas reformas democráticas, bem como eram os intelectuais russos, socialistas e anarquistas do século XIX em São Petersburgo, já uma grande cidade, um centro capitalista determinante para o caráter das pessoas, com seus dramas e conflitos.
A cidade é inseparável ao drama pessoal de Raskolnikov, constitui-se em um fator determinante. A capital Czarista puxa-o para dentro de suas tavernas e outros estabelecimentos degradantes, delegacias de polícia, uma paisagem urbana e sua população de operários e artesãos.


Trechos do livro “Crime e Castigo” de Dostoievski. Referências ao determinismo e sobre Raskolnikov.

Logo no início do livro, quando Raskolnikov desce escondido as escadas para chegar à rua, pois deve o aluguel do cubículo onde mora. Página 9. Para sair do local onde está seu quarto. Imagine sair assim desta maneira sempre. É uma situação ruim. A pessoa se sujeitar a isso todo o dia. E está ligada aos fatores determinantes do meio.

Ainda na pág. 9. Excitação nervosa, tipo hipocondria. A pobreza esmagava-o. Renunciara por completo às suas ocupações. Aqui é uma questão social, a pobreza. Faz com que Raskolnikov, com isto, tenha esta agitação, pois está sem dinheiro e não tem o que fazer.

Na página 34, quando Raskolnikov monologa sobre a carta que a sua mãe lhe enviou. Compara a irmã com Sônia. (prostituição). São pessoas que mesmo que não demonstre, ele quer bem. Faz esta comparação porque não quer vê-las desta forma, e, portanto, ao imaginar isto sente confuso. Esta carta foi bem decisiva/determinante, ou seja, teve bastante influência no ato de Raskolnikov.

A decadência da sociedade na Rússia do século XIX, vista na pág. 37, quando o Policial segura Sônia e fala com Raskolnikov. “... talvez os pais sejam nobres caídos na decadência. Há tanta gente assim, agora. A aparência dela é de filha de boa família”. Aqui outro fator de meio que foi determinante para a elaboração da teoria de Raskolnikov.

Metaforicamente, Dostoievski nos mostra como era o sistema político na São Petersburgo do século XIX, pág. 50. (...) procurava desesperadamente um ponto fixo a que se agarrar. (...) tal como um homem que apanhado nas rodas de uma engrenagem, se achasse logo preso pela própria máquina.

Raskolnikov com uma das muitas dúvidas que tinha, agora é sobre o que determina o que, pág. 50: “Um ponto sobre o que tinha dúvida era se a doença determina o crime ou se o próprio crime, em virtude de sua natureza, não seria acompanhado de algum fenômeno mórbido”.

Na página 69, Raskolnikov, fala sobre a sua condição à Nikodim Fomitch:
- Queira desculpar-me, senhor (...) Coloquem-se os senhores na minha situação(...) Sou um estudante doente, pobre, esmagado pela miséria. Abandonei a Universidade porque não tenho meios de subsistência.

Página 249, quando Raskolnikov confessa seu crime à Sônia, só fez por não aguentar mais ter aquilo lhe atormentando. E um fator determinante tanto para isso como para a confissão ao juiz de instrução, foi o diálogo que este teve com Raskolnikov, nas páginas 214, 215 e 216

Diálogo de Porfírio e Raskolnikov, que pergunta, com um sorriso estranho:
E se eu fugir?
Não foge. Um mujique fugiria, um revolucionário vulgar fugiria porque tem um credo para toda a vida. Mas o senhor já não crê na sua teoria.

Leonid Grossman, em seu livro Dostoievski Artista, nos mostra um pouco da realidade de São Petersburgo entre os anos de 1850/1860. Nesse trecho tirado do livro Crime e Castigo, a realidade do meio, tem influência em Raskolnikov.
Página 15: A tuberculose nos apartamentos apinhados, úmidos e sem sol, a humilhação de mulheres jovens, por causa da fome, da miséria, do desemprego, bebedeira inerte no meio inculto e exausto dos artesãos e operários, dos pequenos amanuenses, de todos os rejeitados pela Capital – e Raskolnikov se sentia um rejeitado por isso cria sua teoria, assim não seria um desses rejeitados – que se apinhavam nos porões sem aquecimento. Tal era a novíssima fisiologia da São Petersburgo posterior à reforma.

Outra vez Leonid Grossman, agora na página 116, faz referência ao ambiente da cidade: O fundo, amplamente exposto, do centro capitalista determina o caráter dos dramas e conflitos. As tavernas e botequins, as casas de tolerância, os hotéis ordinários, as delegacias de polícia, a água-furtada do estudante e o apartamento da usuária, as ruas, os becos, os pátios e desvãos e o “canal do esgoto”, tudo como que determina o projeto criminoso de Raskolnikov e marca as etapas de sua complexa luta interior.






BIBLIOGRAFIA

Bakhtin, Mikhail. Os problemas da poética de Dostoievski. Tradução de Paulo Bezerra. 2ª Ed. São Paulo. Forense Universitária. 1997.

Berdiaeff, Nicolai. O Espírito de Dostoievski. São Paulo. Editora Panamericana.

Bloom, Harold. Como e por que ler. Tradução de José Roberto O’Shea. Rio de Janeiro. Objetiva, 2001.

Charles, R. D. Pequena história da Rússia. São Paulo. Editora Pioneira, 1964

D’Onofrio, Salvatore. Literatura Ocidental – Autores e obras fundamentais. 2ª Ed. São Paulo. Editora Ática, 1997.

Dostoievski, Fiodor M. Crime e Castigo. Tradução. Luiz Cláudio de Castro. 8ª ed. Rio de Janeiro. Ediouro, 1996.

Frank, Joseph. Pelo prisma Russo: Ensaios sobre literatura e cultura. Tradução de Paula Cox Rolim e Francisco Achcar. São Paulo. Edusp, 1992.

Grossman, Leonid. Dostoievski Artista. Tradução de Boris Schnaiderman. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1967.

Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Obras Incompletas. Tradução de Rubens Rodrigues. 3ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

Ponde Luiz Felipe. Crítica e profecia: A filosofia da religião em Dostoievski. São Paulo. Editora 34, 2003.



REVISTAS

Revista Cadernos entre livros: Panorama da literatura Russa.

Revista Cult: biografia e crítica nº. 4. Toda sobre Dostoievski e suas obras.



SITES

www.wikipedia.org/wiki/Crime_e_Castigo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Super-Homem_(filosofia)
http://ocanto.webcindario.com/lexicon/dtermins.htm

http://bahai-library.com/file.php5?file=marco_oliveira_czar_alexandre&language=All

www. wikipedia.org/wiki/Rodion_Rom%C3%A2novitch_Rask%C3%B3lnikov


Biografia:
Já trabalho com livros faz bastante tempo, e participei de 9 coletâneas de contos, além de mediador de eventos.
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